quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O JUIZ




O filme O Juiz (EUA) direção de David Dobkin,  é um drama com 2h.e 20’ de duração, que o público nem percebe passar, diante do envolvimento com a trama.
No papel principal o ator Robert Downey Jr. interpreta Hank Palmer, um advogado rico e brilhante, arrogante, prepotente e egoísta, que sempre defende pessoas culpadas. Sarcástico, faz piadinhas e menospreza as pessoas à sua volta, inclusive outros colegas de profissão. Sua vida afetiva está em declínio com a eminente separação da jovem esposa, e a única pessoa que ele demonstra afetividade é sua única filha de 10 anos de idade.
Com a morte de sua mãe, Hank é obrigado a retornar a sua cidade natal, enfrentar sua relação conflituosa e mal resolvida com seu pai,  o bem sucedido juiz Joseph Palmer  (Robert Duvall) com 42 anos de profissão, que não abre mão da ética e da moral.  
Ocorre um assassinato na cidade e o principal acusado é o seu pai,  e de repente Hank tem que lidar com a perda da mãe, restabelecer os laços de família com seus dois irmãos, lidar com a suposta indiferença e desprezo do seu pai, pois pretende defendê-lo e provar sua inocência a qualquer preço.
O filme tem boa direção e roteiro, enredo envolvente que apela para o lado emocional, diálogos coerentes e inteligentes, ótima fotografia e trilha sonora agradável.
Os atores Robert Downey Jr. e Robert Duvall estão muito bem nos seus devidos papeis e cabe ressaltar a atuação apesar de pequena, dos atores Vera Farmiga como Samantha, a namorada de juventude de Hank, e Billy Bob Thornton como o advogado de acusação.
Apesar dos clichês previsíveis, este melodrama nos deixa uma mensagem sobre as marcas e legados na formação do ser humano, resolver mágoas e ressentimentos valorizando o passado e preservando os momentos bons. E os conceitos éticos e morais também são motivo de reavaliação.
Um momento interessante quando Hank veste suas roupas guardadas, pega sua antiga bicicleta e pedala, sentindo o prazer na vida mais simples, sem os artifícios da cidade grande, como um retorno às suas origens.




domingo, 26 de outubro de 2014

MISS VIOLENCE



O filme Miss Violence (Grécia) com direção e roteiro de Alexandro Avranas, é um drama  impactante e provocativo, com tema forte e chocante, construído através de uma trama pesada sem sentimentalismo. O tipo do filme muito bem feito, em atmosfera degradante, opressiva, que nos sentimentaliza angústia.
Estamos diante de uma família de avós, filhas e netos que moram no mesmo apartamento. Na cena inicial temos o aniversário de 11 anos da neta Anggeliki ( Chloe Bolota), que após dançar a valsa com seu avô, se joga espontaneamente da varanda com um sorriso no rosto, na frente de sua família.
A partir deste estranho fato, inicia-se uma investigação pela polícia e serviço social para tentar descobrir o  que motivou esta criança a um ato tão definitivo e cruel.
Diante de uma família que parece convencional, a platéia irá descobrir aos poucos os segredos desta família tão organizada e controlada. As máscaras vão caindo e o que percebemos a cada cena é algo perturbador, difícil de assistir, que nos leva a um silêncio sufocante. A força do poder patriarcal se confirma na figura do avô que comanda, vigia e pune a todos indiscriminadamente. A cada olhar e sorriso das mulheres se confirma a conivência através do medo.
Fica evidente a habilidade do diretor na construção deste drama psicológico em atingir o que deseja de forma veemente e inteligente, criando uma expectativa do início ao fim.  Com boa fotografia às vezes enevoada como a mostrar o clima de tensão familiar, ângulos perfeitos, e ainda dá uma pincelada pela crise social e econômica deste país.
O elenco está irrepreensível, em especial os atores Themis Panou, Reni Pittaki e Eleni Roussinou  como os avós e mãe de Anggeliki. E o elenco infantil não fica à parte, com cenas delicadas e difíceis de interpretar.
98 minutos de uma narração insuportavelmente controlada, que não deseja empolgar, mas nos martirizar; e ao final você se aquieta na cadeira, e sai querendo esquecer tudo o que viu. Realmente perturbador!
Premiado no Festival de Veneza 2013, Melhor Direção e Melhor Ator.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

ATTILA MARCEL



O filme Attila Marcel ( França), direção e roteiro de Sylvain Chomet,  é uma comédia com uma história triste e lúdica, que tem a mesma delicadeza e sensibilidade de outros filmes deste diretor, como Bicicletas de Belleville (2003) e O Mágico (2010).
Já na abertura uma grata surpresa nos faz lembrar ¨Os Embalos de Sábado à Noite¨, com o personagem gingando pelas ruas de Paris ao som de uma melodia.
Conta a história de Paul (Guillaume Gouix), um rapaz com mais de 30 anos que mora em Paris com duas velhas tias aristocráticas ( Bernadette Lafont e Hélène Vincent) que sonham em Paul se tornar um virtuoso pianista . Ele não fala desde os 2 anos de idade, vive a tocar piano em saraus na casa das tias, nas aulas de dança, isolado do mundo exterior e suas vivências. Pois o mundo de Paul sempre foi sombrio, guiado e cuidado pelas tias que achavam que ofereciam o melhor para ele. Com isso não o deixavam crescer, interagir com o mundo e as pessoas, fazer suas próprias descobertas, ficando preso dentro de sua própria mudez.
Pelo quarto de Paul podemos vislumbrar um mundo lúdico, com seus objetos, retratos e recordações da uma infância que o prendeu e ele não consegue se desvencilhar.
Sua vida muda quando conhece sua excêntrica e misteriosa vizinha, Madame Proust ((Anne Le Ny), que cultiva ervas em seu apartamento, fazendo chás com efeitos alucinógenos, e através destas ¨viagens¨ ao seu interior,  Paul retorna às lembranças do seu passado de forma fantasiosa e original.
Para alguém que não fala desde os 2 anos de idade e nem consegue expressar seus sentimentos e emoções, Paul passa a viajar através da memória cognitiva, com o uso dessas infusões, permeando entre o real e o imaginário, cheia de flashbacks. E o ator Guillaume Gouix tem ótima atuação, sem sequer falar uma palavra, somente a arte de expressão e seus lindos olhos azuis a demonstrar a sua tristeza em plena comédia.
Uma história leve, lúdica, tocante, trilha sonora envolvente, quase um musical, cheio de metáforas, com personagens exóticos e caricaturados. As cômicas aulas de dança beiram o excêntrico de forma tão leve, assim como a apartamento arcaico das tias, tão diferente do quarto de Paul.
Um filme que nos delicia ao nos reportar ao mundo pueril e lúdico de Paul, com mensagens do significado de família, abandono, amor, velhice e ideais.

domingo, 19 de outubro de 2014

O FÍSICO



Direção de Philipp Stölzl, o filme O Físico (EUA/Alemanha) é um drama de época com aventura, passado na Idade Média. Inspirado no complexo e interessante livro homônimo de Noah Gordon, com um tema fascinante, mas o filme perde para o livro que é incrível, uma história que une ideal, medicina, amor, descobertas importantes para o mundo.
Inglaterra, século XI. Conta a história de Rob Cole (Tom Payne, na fase adulta), um garotinho que assiste a morte de sua mãe com a ¨doença do lado¨,  conhecida depois como apendicite. Separado de seus irmãos, Rob é criado pelo barbeiro Bader (Stellan Skarsgard), uma espécie de curandeiro que vendia medicamentos e prometia curar as pessoas com métodos grosseiros e artesanais.
Rob cresce com um ideal de se tornar médico e ao saber que existe na Pérsia um médico famoso chamado Ibn Sina (Ben Kingsley), que acolhe os pacientes em um hospital e os trata com cuidados específicos. Rob inicia sua jornada até a Ásia, mas como cristão não pode entrar neste continente. Então Rob tenta se passar por judeu, e nesta jornada, além de aprender a arte da Medicina, ele conhece o verdadeiro amor da sua vida.
A maior dificuldade desta época era a investigação sobre o corpo humano, pois abrir um cadáver era considerado um tabu, um perjúrio tanto pelos cristãos como pelos judeus, as religiões em geral não aceitavam a autópsia, isso dificultava desvendar as doenças.
Com cenários ambientados e boa fotografia mostrando os desertos e a Pérsia Antiga, peca pelo roteiro que oscila entre o drama e a ventura e se perde ao contar esta história tão bonita, com excesso de clichês e tramas paralelas que  desviam do tema principal.
Os atores em geral estão bem em seus papéis, apesar do roteiro e diálogos meio inconsistentes dificultarem maior interação.
Para quem estranhar o título do filme, naquela época não existia médicos e quem se dedicava aos cuidados com os doentes era chamado de físico.
Um drama com aventura,  verdadeira epopeia na Época Medieval e apesar dos pontos negativos, vale a pena assistir, e quem sabe se interessar em ler um ótimo livro.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O ÚLTIMO CONCERTO



Direção e roteiro de Yaron Ziberman, o filme O Último Concerto (EUA) é um drama/ ficção comovente, com diálogos sensíveis, boa fotografia, para quem é fã de música erudita, vai se deliciar.
Com bom roteiro diante de um tema delicado, a perspectiva de dissolução de um quarteto de cordas famoso, com 25 anos de parceria e amizade, que de repente tem que lidar com uma situação de stress que acomete todos os componentes, o afastamento de um de seus membros com diagnóstico de Mal de Parkinson.  Mostra o profissionalismo de músicos conceituados e a seriedade de um trabalho tão meticuloso.
A partir dessa premissa os conflitos entre os membros do quarteto começam a sucumbir, como ciúme, inveja, ego inflado, e outras histórias pessoais vêm a tona, tendo como pano de fundo a música erudita, eis o grande destaque.
Com  atuações irrepreensíveis temos o ator Christopher Walker como o violoncelista Peter Mitchell, o mais velho do grupo e que serve de elo entre os seus companheiros, e justamente ele está com a terrível doença de Parkinson; O ator Philip Seymour Hoffman como  Robert Gelbart, o 2º. Violino e que não se conforma de nunca o terem colocado como 1º. Violino, a cargo do músico Daniel Lerner (Mark Ivanir), um verdadeiro duelo de egos. E a musicista Juliette Gelbart (Catherine Keener), casada com Robert, que tem que conciliar o casamento em crise com os ensaios e as apresentações do quarteto.
O maior destaque do filme é a trilha sonora que funciona como um componente a mais, enlevando a plateia com a música de Beethoven, o Opus 131, como um fio condutor do drama.
Um filme sensível, onde a perda eminente de um membro de um grupo de cordas leva ao descontrole emocional e o que estava contido há anos vem à tona, problemas pessoais que afetam a qualidade do quarteto, que fará sua última apresentação em Nova York. E o que observamos é que o espírito de grupo e o profissionalismo supera todas as questões, diante da magnitude da arte.

domingo, 12 de outubro de 2014

GAROTA EXEMPLAR




Direção de David Fincher, o filme Garota Exemplar (no original Gone Girl/EUA) é um suspense espetacular, cheio de trama e mistério, baseado no best-seller de Gillian Flynn, que também é responsável pelo roteiro do filme.
Temos a história do casal Nick Dunne (Ben Affleck) e Amy Dunne (Rosamund Pike), que saíram de Nova York para morar em Missouri, devido a mãe de Nick ter câncer em estágio avançado. No dia do 5º. ano de casamento, Nick sai cedo para encontrar sua irmã gêmea Margo (Carrie Coon) no bar que também é proprietário, e ao voltar para casa, sua esposa está desaparecida misteriosamente. Nick torna-se o principal suspeito desta intrigante situação. A mídia divulga o desaparecimento de Amy e isso gera uma verdadeira comoção na cidade, todos empenhados em encontrar Amy.
Este suspense envolve o espectador do início ao fim, com uma trama bem amarrada, em atmosfera dúbia, com duas versões sendo transmitidas ao mesmo tempo, o marido frio e inseguro pela sua vida cheia de mentiras, e em flashbacks, a visão de Amy, uma mulher vingativa e leviana, que se sente abandonada pelo marido. Dois pontos de vista cheio de reviravoltas e incertezas, que mexem com nossas emoções a medida que conhecemos a história de cada personagem. As narrações vão se cruzando com eficiência e sutileza, um novelo que vai sendo desfiado aos olhos da plateia.
Ótimo roteiro, trilha sonora instigante que dá um ar de mistério, fotografia perfeita, ótimas atuações dos atores Ben Affleck e Rosamund Pike. Diálogos inteligentes, onde os detalhes são mostrados em forma sequencial, com momentos de tensão e suspense e um final imprevisível.
Um suspense super bem feito como há algum tempo não se via no cinema, o tipo que a plateia não desgruda da tela, um verdadeiro jogo de xadrez .
Mostra a imagem que as pessoas têm perante a sociedade e que muitas vezes não é a real, o peso e poder da mídia quando cultua uma pessoa e como diz o sábio ditado popular ¨as aparências enganam¨. Quantas vezes nos surpreendemos com atitudes de pessoas próximas a nós, será que realmente conhecemos as pessoas como pensamos? Assim como o título, um filme exemplar. Imperdível!!



quarta-feira, 8 de outubro de 2014

SERÁ QUE?




O filme  Será Que? (Canadá), direção de  Michael Dowse, é o tipo de comédia romântica gostosa de assistir, com intuito apenas de distrair, bem água com açúcar, atingindo principalmente o público juvenil.
Conhecemos o jovem Wallace (Daniel Radcliffe) um ano depois que terminou um namoro, por traição da namorada. Desiludido,  Wallace se afastou dos amigos e do convívio social. Quando seu melhor amigo Allan (Adam Driver) o convida para uma festa, Wallace conhece Chanty (Zoe Kazan), prima deste seu amigo.
Acontece de imediato uma sintonia entre os dois, mas Chanty  namora Ben (Rafe Spall) há 5 anos. Chanty então propõe a Wallace que eles se tornem amigos, e este aceita a proposta, apesar de ter se encantado por Chanty . E a cada encontro fica  mais difícil para Wallace, esconder seus reais sentimentos por Chanty.
Um filminho romântico, açucarado, com atores em boa sintonia, diálogos rápidos, clichês previsíveis, divertido e com certo mistério no ar, um tiro certeiro para a plateia mais jovem.
O ator Daniel Radcliffe com interpretação à altura, forma um casal muito fofo com Zoe Kazan, divertidos e naturais.
Boa trilha sonora, tudo muito leve, algumas piadas sarcásticas, outra sem graça, enfim nada que atrapalhe o desenrolar do filme. No final, o que acrescenta mais à história é a sintonia do jovem casal Wallace e Chanty, encantadores!
Uma comédia romântica para um final de tarde descontraído, sem mais pretensões, que agrada pela simplicidade e singeleza do tema. Afinal, quem nunca soube de amigos que foram flechados pelo cupido e se apaixonaram? 


domingo, 5 de outubro de 2014

BEM-VINDO A NOVA YORK



Direção e roteiro do diretor Abel Ferrara, o filme Bem-Vindo a Nova York (EUA) é um drama de qualidade, que mostra ao espectador o personagem central de forma ampla e apaixonante, em uma situação complexa, o retrato real e frio de um homem doentio, obcecado pelo sexo de forma degradante e imoral.
Inspirado no processo judicial famoso de Dominique Strauss-Kahn, economista e político francês , Presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), que em 2011 tentou estuprar a camareira de um hotel em Nova York. Este fato foi um verdadeiro escândalo, que o levou a desistir da candidatura à Presidência da França, como também perdeu o cargo e o prestígio que tinha na alta cúpula da Política Externa.
O ator Gérard Depardieu interpreta o personagem central, Mr. Devereaux, um grande economista presidente de um banco internacional, que utiliza seu poder para subjugar as mulheres, sempre à volta com prostitutas, até no ambiente de trabalho. Personagem nojento, degradante, que se desvenda totalmente ao público, sem medo do que irão pensar, sem receio de ser desrespeitoso, com seu corpo obeso, suado, em orgias tão reais, que impressiona.  Gérard Depardieu está impecável que até parece que nem atua, que é o próprio personagem. A atriz  Jacqueline Bisset interpeta a esposa de Mr. Devereaux,  também à altura do seu parceiro; a esposa que não compreende a situação mas o aceita do jeito que é por 20 anos, que conhece profundamente seu marido e sabe que ele é capaz de atos libidinosos, como o ocorrido no escândalo em nova York.
No início do filme há um discurso de Gérard Depardieu sobre o que pensa dos políticos e do jogo do poder, o que já instiga o público sobre o que vem a seguir.
Filme grotesco mas sensacional, fotografia impecável, roteiro bem adaptado, mostra o poder do homem público que se considera um semi-deus, acima de tudo e de todos, que tudo pode, sem medo ou receio de humilhar e pisar nos que estão à sua volta, que utiliza o sexo de forma doentia; é o pecador e o pecado sempre juntos, sem culpas ou remorso.
Um mundo amoral, onde o dinheiro e o poder tudo compra, onde tudo é aceitável pelo próprio personagem doentio, degradante, como também pela sua família e seus subalternos. Difícil para nós, pobres mortais, imaginar que este mundo imoral é real.





quarta-feira, 1 de outubro de 2014

VIOLETTE


Direção do cineasta Martin Provost, o drama  Violette é a biografia da vida da escritora francesa Violette Leduc, um filme comovente e tocante que narra sua história pessoal sem pudor, assim como era a alma desta mulher sensível e amargurada.
No início do século XX, Violette Leduc ( Emmanuelle Devos) conhece sua musa inspiradora Simone de Beauvoir  (Sandrine Kiberlaim), e também seu objeto de desejo, e a partir daí nasce uma intensa amizade que dura a vida inteira.
Violette foi uma mulher acima do seu tempo, amargurada, feminista, rebelde contra os costumes e convenções da época. Violette se considerava feia, desinteressante, autoestima baixa, uma personagem complexa, com traumas de infância, que precisou vencer seus medos e insegurança através da escrita. Acreditando no seu potencial literário, Simone de Beauvoir a induz e  a desafia a ir atrás de seu talento nato de escritora. Violette vai ao encontro de lembranças amargas, de ser filha bastarda, não se sentir desejada nem pelos seus pais, travando uma verdadeira batalha interior.
Violette e Simone de Beauvoir criam uma amizade que duraria uma vida inteira, inclusive Simone por muito tempo a ajudou financeiramente, e Violette se apaixona perdidamente por Simone.
Fotografia bonita, em aspecto noir, uma demonstração do íntimo sofrido desta grande escritora francesa, com bom ritmo, trilha sonora adequada, além de interpretações impecáveis, em especial a atriz Emmanuelle Devos no papel de Violette.
Violette Leduc nasceu em 1907 e introduziu na literatura francesa a violência e sexualidade feminina, fazendo do homem um objeto sexual. Seu primeiro livro denominado L'Asphyxie (Asfixia), sem sucesso; e após várias outras publicações, sempre incentivada pela filósofa Simone de Beauvoir, o sucesso e reconhecimento veio através do livro A Bastarda, em 1964. A maioria de suas obras não foram traduzidas para o Português.
Sua vida e obra foi marcada pelo desespero de não ser amada, pela vergonha de ser bastarda, pela obsessão pela feiura e medo do fracasso. Através de seus livros, ela recria a solidão, o desespero, a dor de existir, mas também celebra com a mesma intensidade a paixão de viver e amar. Com espírito demasiadamente livre, desafiou convenções e tabus com originalidade e audácia, transformando o cotidiano banal em aventura poética. Morreu em 1972, aos 65 anos.

¨O Passado não nos alimenta. Partirei tal como cheguei, intacta, carregada de todos os defeitos que me torturaram. Gostaria de ter nascido estátua, mas não passo de uma lesma debaixo de uma estrumeira. As qualidades, as virtudes, a coragem, a meditação, a cultura. De braços cruzados, esfacelei-me contra essas palavras¨. (trecho A Bastarda/1964).