quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

GRAVIDADE





Com um roteiro simples, o filme de ficção científica Gravidade, direção, produção e roteiro do cineasta  Alfonso Cuarónfaz toda diferença em filmes deste gênero.
A Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock) se encontra em missão espacial da NASA, juntamente com o astronauta Matt Kowalski (George Clooney), quando são surpreendidos por uma chuva de destroços no espaço sideral. São lançados no espaço, perdem a conecção com a base terrestre da NASA (na voz do ator Ed Harris), e a partir daí é praticamente um drama, com a protagonista Dra. Ryan tentando sobreviver há qualquer custo neste espaço inóspito, e para isto conta com a ajuda do experiente astronauta Mark.
Deste roteiro simples e enxuto, em um ambiente totalmente adverso ao nosso planeta, em 1 hora e meia de filme, temos a nítida percepção das dificuldades que a Dra. Ryan tenta ultrapassar e nos sentimos coadjuvantes nesta dura jornada.
Com uma fotografia maravilhosa, efeitos especiais incríveis, inclusive é indispensável o uso do 3D, que nos dá a sensação de ¨estarmos no espaço¨ junto com a Dra. Ryan. E o bacana é que não tem os exageros que muitas vezes incomoda nos filmes em 3D, e a qualidade da imagem e dos efeitos visuais nos impressiona, algo inovador nesta categoria de filme.
A atriz  Sandra Bullock tem uma excelente interpretação e consegue passar uma veracidade como a Dra. Ryan Stone, na sua luta pela sobrevivência no espaço. E George Clooney tem o poder de sempre nos surpreender, mesmo quando só faz uma participação pequena  no filme.
Tem momentos de fotografia no espaço com o planeta Terra no fundo  que é algo espetacular, de uma beleza ímpar, que enche os nossos olhos de prazer.
A trilha sonora perfeita, adequada ao filme de tal forma, uma junção técnica de fotografia, efeitos visuais, som e atuações que já faz parte da história do cinema.
Mesmo para quem não curte filme de ficção científica, este faz jus as nove indicações ao Oscar 2014, um filme de ficção, com muito drama e suspense, que com certeza deixará sua marca registrada.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

ELA (HER)



Um filme praticamente de diálogos e questões humanas, inteligente e sedutor, com uma trilha sonora super afinada ao tema, um filme de ficção sem época definida. Quem sabe num futuro próximo? 
Com cinco indicações ao Oscar 2014, o filme Ela (Her), do diretor Spike Jonze (Quero ser John Malkovich, 1999), é uma mistura de drama e ficção. Um filme que funde de forma intensa a tecnologia à vida das pessoas, como algo quase insubstituível, como uma forma de minimizar a solidão humana.
Com um roteiro super original e excêntrico, o genial diretor conseguiu uma façanha impensável, um romance entre um ser humano e um sistema operacional.
De forma fascinante conhecemos Theodore ( Joaquin Phoenix), um escritor que trabalha em uma empresa de mensagens de amor, inclusive ele dita as mensagens que saem escritas no computador, em um tempo futuro não tão distante do hoje. Deprimido, com sua vida afetiva em baixa  após o término de seu casamento com Catherine (Rooney Mara), Theodore usa a tecnologia para se distrair com games interativos, para namoros virtuais, etc.  De poucos amigos, divide com sua amiga Amy (Amy Adams) e seu marido, seus problemas pessoais e existenciais.
Quando recebe um aplicativo de computador, um SO (Sistema Operacional Inteligente) chamada Samantha, a partir desse encontro sua vida começa a mudar.  Theodore  interage com Samantha ( na voz rouca e sexy de Scarlet Johansson) o tempo inteiro, recebe conselhos tipo auto ajuda, construindo uma amizade virtual. Em pouco tempo homem e máquina se apaixonam. Theodore leva Samantha para todos os lugares, compartilha com ela grandes momentos de prazer e alegria, e chegam até a fazer sexo virtual; enfim, Theodore encontra praticamente sua alma gêmea, começa a sair da solidão que ele próprio se enclausurou, mas falta algo, pois afinal, Samantha não tem a presença física.
Com momentos tristes, outros alegres, alguns consistentes mas em geral estranhos, começamos a nos identificar com o personagem Theodore, magistralmente interpretado por Joaquin Phoenix, e sua coadjuvante Samantha, com diálogos inteligentes  que nos deixa com vontade de participar. Difícil de aceitar uma situação desta? Não, se partirmos da premissa do quanto nos sentimos perto das pessoas através dos smartphones, dos faces e aplicativos atuais.
Um romance diferente que nos leva à reflexão sobre o uso da tecnologia como substituto de encontros entre pessoas; nos fala de relações humanas e suas dificuldades reais, de solidão, da questão atual de ter tempo para as pessoas, do aprender a compartilhar e amar. Que não existe relacionamentos perfeitos pois somos humanos com qualidades e defeitos, mas que é preciso acreditar, renunciar e apostar no amor para construir uma relação real e verdadeira.
E fica uma lição de vida no final deste filme genial, que desliguemos os celulares e tablets que tanto aproximam e afastam as pessoas, para olharmos com prazer a nossa vida real ; e se estivermos com alguém que nos faz bem e que amamos, aproveitemos este instante, e no silenciar da tecnologia  nos abracemos, lembrando  o que existe de humano dentro de cada um de nós.
Um filme sensível, original e primoroso  para quem gosta de reflexão, nesta história de amor de ficção que nos reporta à nossa realidade. Excêntrico e humano, um grande filme futurista, este é realmente imperdível!!!



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS





O filme A Menina que Roubava Livros, uma produção EUA/Alemanha, do diretor Brian Percival  (da série Downton Abbey), é passado na Alemanha, durante a 2ª. Guerra Mundial, quando o nazismo imperava e o medo dominava o País, sob o regime de Hitler.
Baseado na obra homônima de Markus Zusak, conta a história da linda e meiga, mas também determinada garota Liesel Merminger (Sophie Nélisse), que após assistir a morte do seu irmão mais novo, passa a viver com pais adotivos e é obrigada a se adaptar a um novo lar.
Hans Hubermann (Geoffrey Rush), seu pai adotivo, um homeme bom, espirituoso e bonachão, logo cai de amores pela linda Liesel. Já sua nova mãe, a dura e mantenedora da casa, Rosa Hubermann (Emily Watson), apesar de rígida na educação da menina, a ama do jeito dela.
Nesta época dominada pelo medo, injustiças sociais e atrocidades, Liesel refugia sua dor nas histórias dos livros, que por incidente da vida ela passa a roubar, usando a justificativa que pegava emprestado. E é esta leitura que reforça Liesel no mundo cruel em que ela vive e ainda ajuda o judeu Max (Ben Schnetzer), amigo da família, refugiado  na casa de seus pais adotivos, por anos escondido no porão.
É interessante sentir o despertar da garota Liesel pelas palavras que passa a conhecer através da leitura, e como sua imaginação lida com este novo Universo à ser descoberto, e que servirá de base sólida para a sua personalidade marcante. Liesel se alia a seu novo amigo Rudy (Nico Liersch), um menino esperto e apaixonado por ela,  capaz de tudo para defendê-la.
Um filme delicado em um ambiente pesado, onde a trilha sonora de John Williams, meio agridoce, ajuda a tirar o peso dos acontecimentos, como se o mais marcante do filme fosse contar a história desta determinada menina . Concorre ao Oscar de Melhor Trilha Sonora.
Outro fato interessante é que o filme é contado pela voz da Morte, principalmente no inicio e no final deste drama, algo criativo como que a  mostrar com certa sutileza o significado deste tenebroso período da 2ª. Guerra Mundial,  principalmente para os judeus.
Os atores Geoffrey Rush e Emily Watson na figura dos pais de Liesel dão uma ótima interpretação, mas os jovens atores Sophie Nélisse e Nico Liersch, respectivamente Liesel e Rudi, são de uma naturalidade incrível, e a amizade deles é algo que emociona a plateia.
Vale ressaltar a fotografia deste drama, em alguns momentos em tons sombrios gerando uma atmosfera típica do período da guerra.
Um filme poético passado em um período tenebroso da História, com personagens marcantes,  uma história bem fantástica, um roteiro bom mas nada excepcional. Onde se passa a história da linda Liesel, cujo olhar capta a essência da alma desta garota que conseguiu superar os horrores e atrocidades do nazismo, se refugiando nos lindos contos dos livros que ela roubava, mas era emprestado, viu?...conforme a doce  Liesel.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A TRAPAÇA




Com um elenco impecável, o filme A Trapaça, título original ¨American Hustle¨, direção de David O Russell,  concorre ao Oscar 2014 com dez indicações.
Inspirado em um escândalo de corrupção política no final dos anos 70 nos EUA,  onde o FBI contratou um trapaceiro para auxiliar na operação, com o objetivo de derrubar políticos corruptos.
Irving Rosenfeld (Christian Bale), um trapaceiro junto com sua sócia e amante Sidney Prosser (Amy Adams), após serem flagrados em situações fraudulentas pelo FBI,  são obrigados a cooperar com um agente do FBI ( Bradley Cooper), que é uma pessoa confusa e problemática.
Então eles iniciam uma operação perigosa junto à  Máfia, chegando até a ter um encontro com um poderoso chefão (participação especial de Robert de Niro). E também negociam com políticos corruptos, tendo como porta de entrada o candidato político Carmine Polito (Jeremy Renner). Os planos começam a dar certo, mas a certa altura há um envolvimento do chefe do FBI com Sidney, gerando desconforto com seu  parceiro e amante. E a esposa de Irving, a estonteante Rosalyn (Jennifer Lawrence), uma mulher neurótica e deprimida, entre neste jogo perigoso e cria várias dificuldades para execução desta difícil tarefa.
O diferencial deste filme é justamente o elenco, um quarteto incrível, eles têm uma interação e química espetacular, dão um verdadeiro show de interpretação, inclusive são candidatos ao Oscar 2014 nas categorias Melhor Ator e Atriz e Melhor Ator e Atriz Coadjuvante.
Outros pontos positivos do filme é a trilha sonora com clássicos dos anos 70, bem adequada aos momentos, de forma a dar um ritmo frenético e incansável. Como também o figurino muito bem caracterizado, com lindas performances, valorizando os atores, em especial a atriz Amy Adams com vestidos sempre valorizando o decote, como também o figurino da atriz Jennifer Lawrence, beneficiando o seu visual e seus penteados lindamente extravagantes.
O enredo em si é meio maçante, com planos que não ao certo, recheados de diálogos inteligentes, mas a certa altura cria uma certa monotonia pela enrolação que envolve os personagens, preocupando-se mais com a criação dos personagens, sem querer se aprofundar no drama de cada um; nos leva a uma inquietação pela trama intrincada ao extremo, uma história que não empolga.
Um filme imperdível, seguindo a linha do grande Martin Scorsese, luxurioso e sensual, sem ser apelativo. Mostra que pessoas inteligentes e astutas usam seus dotes da forma que lhes convêm, onde o certo e o errado vai depender da ideologia de vida das pessoas. Mas que tudo tem um preço a pagar, principalmente quando a ganância pelo poder e pelo dinheiro se sobrepõe aos valores ético e à amizade.
Um filme com personagens exagerados, meio caricatos ( principalmente a figura do trapaceiro Irving Rosenfeld), sedutor, neuroticamente surpreendente, e cujo desempenho fenomenal do elenco torna o filme tão divertido. 


sábado, 15 de fevereiro de 2014

ELA VAI



Ela Vai, um road movie francês da diretora Emmanuelle Bercot, que  nos brinda com a grande atriz Catherine Deneuve no esplendor da terceira idade,  a eterna ¨la belle de jour¨.
O filme transpira esta magnífica atriz em plena maturidade, com sua sensibilidade, seus nuances, sensualidade, numa mistura sutil de humor e sentimentos contidos.
Temos a protagonista Bettie (Catherine Deneuve), uma viúva de 60 anos, dona de um restaurante em uma cidade no interior da França, que mora com sua mãe e mantém uma relacionamento amoroso por muitos anos com um homem casado.
Bettie está insatisfeita com sua vida monótona, a relação meio conflituosa com sua mãe gerada pelo desgaste natural do cotidiano, ainda piora mais a sua situação. Quando ela descobre que seu amante finalmente largou a esposa para casar com uma moça bem mais jovem, Bettie perde o seu rumo e resolve sair de carro com a intenção de comprar um cigarro, vício que ela havia conseguido superar há anos.
E a partir daí  lá vai  Bettie pelo mundo afora, sem destino certo, em busca de algo que nem ela sabe direito o que é, a explorar o que a vida e aquele momento poderia lhe oferecer.
E esta busca à leva até sua filha e seu neto que há anos não se encontravam,  um distanciamento desconcertante, cuja lacuna  nunca conseguiram superar. E enquanto roda pela estrada, vários fatos sutis e com uma pitada de humor vão acontecendo, que  irão proporcionar uma vivência para esta mulher solitária, apesar de ter uma família que nem ela mesma soube integrar; e este movimento poderá trazer mudanças profundas em sua vida.
Tudo isto será um aprendizado de vida para esta mulher sessentona que ainda possui belos traços da juventude, inclusive foi Miss Bretanha em um passado longínquo, e conserva este frescor e beleza na maturidade, mas lida com o envelhecer de forma real e sem pudores.
Um filme simpático, onde o mito Catherine Deneuve flui de forma genial, um show de feminilidade, naturalidade e sensualidade, de forma digna,  mostrando que mesmo uma diva pode envelhecer e conservar a beleza inerente à sua real idade, sem precisar usar artifícios, por que não? Afinal, tudo na vida se encaixa dentro do tempo em que as pessoas se encontram . E não é a toa que a protagonista Bettie fala: ¨E a vida continua¨... esta é a pura realidade.
Vale ressaltar a atuação do ator mirim Nemo Schiffman no papel de Charly, o neto de Bettie, um garoto espirituoso, com tiradas interessantes para sua idade, bem à vontade no filme.
Outro fato interessante é como o cigarro está sempre presente, como um desabafo, uma fuga, um chamariz, um companheiro esquecido de Bettie por muitos anos, creio que algo bem francês.
Esta comédia dramática nos fala com humor de relacionamentos familiares mal estruturados, e como é difícil  resgatar algo quando persiste a falta de diálogo e velhos rancores . Do envelhecer com aceitação e dignidade, e que o ser belo acontece em todas as estações da vida. E da coragem de querer mudar uma rotina estagnada,  mesmo quando  se tem o outono da vida  à sua frente.


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

PHILOMENA





O filme Philomena ( produção Reino Unido/França/EUA ), com a direção do cineasta inglês Stephen Frears ( A Rainha, 2006), é baseado no livro do autor Martin Sixsmith, intitulado ¨The Lost Child of Philomena¨.
Incrível imaginar esta história real de uma irlandesa chamada Philomena Lee (Judi Denchi), que durante 50 anos guardou um segredo que muito a atormentava e que a fazia sofrer diariamente. Em 1952, em plena adolescência, Philomena engravidou, foi rejeitada pela família e trancafiada no Convento de Roscrea, onde era tratada como verdadeira escrava, junto com outras jovens mães. Durante o dia elas trabalhavam arduamente na lavanderia e só tinham permissão para ver os seus filhos por 1 hora, e sempre na expectativa de perder o contato com eles. Pois o convento, com o aval da Igreja Católica, vendia essas crianças para famílias americanas. E assim aconteceu com o filho de Philomena, o que se tornou um grande sofrimento para ela guardado por 50 anos, mas sempre com a esperança de um dia encontrar seu filho.
Um repórter recém demitido da BBC, Martin Sixsmith (Steve Coogan) decide ajudá-la a procurar o seu filho nos Estados Unidos, com o propósito de escrever um livro que ele identifica ¨de interesse humano¨, sobre a história desta mulher tão sofrida, e a partir daí os fatos vão se entrelaçando, até  chegar ao clímax, com tantas curiosidades e fatos inusitados, que chega a parecer inverossímil.
Estas duas pessoas tão diferentes viajam e passam a conviver juntos com o real propósito, descobrir o paradeiro de Anthony, o filho de Philomena, o que ele se tornou, o que ele faz, o que ele sabe de suas origens, em um país com hábitos bem diferentes desta simples irlandesa.
De um lado Philomena, uma senhora simples, ingênua, humilde, com uma fé inabalável em Deus apesar de toda agrura que passou, cujo único desejo é descobrir toda a verdade sobre o seu filho e sua preocupação,
 que ele saiba que ela nunca o abandonou. E  apesar de todo sofrimento imposto pela Igreja, Philomena não guarda mágoas e não quer fazer justiça, só apaziguar seu coração de mãe. E para ajudar nesta tarefa temos o jornalista Martin Sixsmith, um homem agnóstico, amargurado, realista, que não aceita o sofrimento e as injustiças  que esta senhora e tantas outras mães foram  submetidas pela Igreja Católica e acha seu dever que tudo seja esclarecido publicamente.
Com um roteiro bem adaptado à história, uma trilha sonora encantadora de Alexandre Desplat, este drama que em vários momentos  nos leva a encher os olhos de lágrimas, consegue equilibrar com diálogos de humor tipicamente inglês entre este dois grandes protagonistas. Mas o diretor evitou se ater ou tomar partido às questões da Igreja, mas apenas mostrar os fatos e se fixar mais no drama da personagem principal, Philomena.
A grande atriz Judi Denchi interpreta uma Philomena de forma soberba, com uma naturalidade, uma doçura e simpatia inerente a seu personagem, e logo de início tomamos suas dores e padecemos com ela. E é  o contrapeso para as atitudes ásperas e irônicas de Martin, numa interação perfeita de Steve Coogan.
Imaginar que este filme é um caso verídico, que esta senhora irlandesa Philomena hoje tem 80 anos e está à frente do projeto ¨Philomena Projects¨, que consiste em ajudar outras mães irlandesas a encontrar seus filhos desaparecidos, é algo impressionante.
Philomena, uma mulher de fé que tem consciência dos erros do passado gerados pela Igreja Católica, mas que continua firme na sua fé cristã e crença por um mundo melhor, a começar por não guardar rancor  e cujo único desejo e esperança de toda sua vida, era saber onde e como estava seu filho e dizer que ela o amava e nunca o abandonou.
Filme rico de detalhes, tocante mas não piegas, realista mas dramático na medida certa, que expressa toda a dor de uma mãe disposta a tudo para encontrar a verdade sobre o seu filho;  e por incrível que pareça, a força que impulsiona esta mãe é a fé cristã na Igreja Católica, a mesma que movida por seus dogmas, foi responsável por tantas atrocidades e injustiças sociais.
Com quatro indicações ao Oscar 2014, Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Trilha Sonora.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

PELOS OLHOS DE MAISIE





O drama Pelos Olhos de Maisie (EUA) tem direção de Scott McGehee e David Siegel, baseado na obra do escritor Henry James, livro intitulado no original ¨What Maisie Knew¨ (O que Maisie sabia), fala do olhar da criança diante do universo adulto, mais precisamente o que uma criança sente e percebe dentro do universo do seu lar.
Maise (Onata Aprile), uma criança de 7 anos com personalidade dócil e meiga,  envolvida em uma crise familiar. Pais se divorciando, e apesar de serem pessoas maduras, ambos são imaturos e instáveis emocionalmente, pessoas egoístas que não sabem lidar com seus problemas pessoais e envolvem a pobre Maisie neste clima de agressões e discussões.
Sua mãe Suzanna ( Julianne Moore), uma cantora de rock vive um momento de turbulência na sua carreira, envolvida em reuniões com seus amigos e turnês de trabalho. Seu pai  Beale (Steve Coogan), um influente marchand, também às  voltas com seus compromissos sociais e  viagens constantes.
Os pais passam o tempo inteiro em discussões sobre quem pega a criança na escola, quem fica nos finais de semana, tão envolvidos em seus problemas pessoais, colocando em segundo plano o seu papel de pais e educadores desta criança, que fica a mercê de seus horários, de seus compromissos, não conseguindo ëncaixar¨ Maisie nos seus projetos de vida. E ainda usam seus namorados, Margo (Joana Vanderhan) e Lincoln (Alexander Skarsgard), para ajudarem nesta tarefa de cuidar da criança.
A pobre Maisie está sempre à espreita das discussões dos seus pais e namorados, das situações pessoais que ocorrem;  enfim,  Maisie se torna uma espectadora que escuta e participa, sempre passivamente, como a esperar uma solução para situações em que é praticamente jogada, sem pedirem permissão ou perguntarem como a criança está se sentindo.
A atriz infantil Onata Aprile dá uma interpretação perfeita a pequena Maisie, com um olhar expressivo, que tudo ouve, tudo percebe, mas não reage, não grita, não chora, nada reclama, só observa.  E diante de tanto atrito e discórdia, Maisie se apega a Margo e Lincoln, ambos jovens e tranquilos e com muito afeto e carinho pela criança, enfim, tudo que naquele momento ela precisava.
Ficamos a tentar entender o que se passa no âmago desta criança, que sente que seus pais a amam, mas não têm tempo para ela. O filme é praticamente todo de passagens de pais egoístas, negligentes com a educação e desenvolvimento emocional de sua filha, o que chega a nos impacientar e pensar: Será possível tamanha insensatez e egoísmo de pais diante de uma criança tão pequena, o que pode ocorrer com uma criação neste ambiente tão insalubre?
Um filme realista, com cenas fortes dentro de um clima familiar de total desarmonia e negligência, com ótimo elenco, os quatro atores adultos têm uma boa afinação; um drama triste e tocante, que deixa uma grande mensagem no final, a importância e necessidade de amor, atenção, carinho e harmonia para que uma criança tenha um lar perfeito para o seu crescimento emocional.
E que muitas vezes, quando não se encontra estes elementos no ambiente familiar, a criança amadurece através do sofrimento e é comum criar ¨outros vínculos¨ de afeto e amizade que não encontraram em casa, uma forma de superar o desgaste emocional que vive através de seus pais.
Filme singelo, triste, a história de Maisie, uma criança meiga e perceptiva, que é obrigada a amadurecer através da observação de situações desaconselháveis para sua idade, que é obrigada a presenciar e escolher o seu caminho, através do desatino dos seus pais.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

FILHA DE NINGUÉM




Drama coreano, direção do cineasta Hong Sang-Soo, conhecido por filmes como A Visitante Francesa (2012) e Hahaha (2010).
Filha de Ninguém é um filme simples e que fala de solidão, mudanças interiores, auto estima e  amores proibidos, através da personagem principal, a bela jovem Haewon (interpretado pela linda atriz Jeong Eun-Chae).
Logo no início assistimos o encontro de Haewon com sua mãe Jinju (Kim Ja-Ok), em tom de despedida, pois sua mãe vai se mudar para o Canadá, tão longe de Seul, a cidade que Haewon mora. As duas passam a tarde juntas, passeiam, conversas informais, lembranças de fatos do passado, mas observamos uma certa melancolia nesta jovem, carente de afeto e agora, com a separação de sua mãe, isto fica mais forte.
Haewon é estudante de cinema e tem um caso extra conjugal com seu professor de arte cênica Seongjun (Lee Seon-Gyoon), casado e bem mais velho do que Haewon.  Ele nutre um afeto e paixão pela jovem estudante, mas está sempre preocupado em esconder de todos o seu romance, inclusive dos seus alunos e colegas de Haewon.
Filme banal, simples nas situações apresentadas no cotidiano dos personagens, onde não há pretensão de analisar ou refletir os problemas apresentados, mas o objetivo maior é mostrar o sofrimento da protagonista, a sua solidão e baixa auto estima, que ela tenta superar através da bebida. Difícil para Haewon trabalhar o desapego, de um lado seu vínculo materno, e do outro, o vínculo afetivo com o homem que ama, um amor proibido.
Filme fala de moralismo, de tradição, de conflitos íntimos, sempre mais exposto que refletido. Através de diálogos informais, a jovem Haewon está sempre em evidência, e vive o seu dia a dia, como ela mesma afirma, ¨viver é morrer¨.
E o professor Seongjun, que fica sempre na zona de conforto, não assume o que deseja,  prefere viver o dilema do medo, de encontros furtivos, de preocupações com o julgamento alheio.
Momento triste e bonito quando os dois escutam um trecho da 7ª. Sinfonia de Beethoven, mostrando toda a solidão, abandono e tristeza do casal. E Haewon afirma: ¨Escutar uma música dessa é melhor que ler 100 livros¨,  como se aquela música representasse todo o sentimento de tristeza e melancolia do casal.
Filme simples, banal, lento, onde se mostra o cotidiano e sentimento das pessoas sem esperar respostas, feito com muita arte e primor.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

O LOBO DE WALL STREET




O diretor Martin  Scorsese é um dos maiores nomes em cinema da atualidade e é incrível sua capacidade de alcançar o público com grandes filmes, como Os Infiltrados, Touro Indomável, O Aviador, A Invenção de Hugo Cabret, etc... E agora ele nos brinda com o filme O Lobo de Wall Street, com 3 horas de uma história real de pura imoralidade ética, uma realidade podre no sentido visceral, um filme extremamente depravado, com um personagem tão extravagante, que consegue deixar a plateia fascinada, atônita mesmo.
Baseado no livro autobiográfico de Jordan Belfort, com roteiro adaptado de Terence Winter, conta a história real do jovem corretor Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio), uma pessoa cuja ganância, determinação e poder de persuasão o levaram a criar a empresa  Stratton Oakmont, que vendia ações de pequenas empresas a preços baixos, mas a corretagem era bem acima da média. Com esta estratégia,  Belfort conseguiu fazer uma fortuna imensa em poucos anos, junto com seus companheiros de infância, e o próprio Belfort preparou a sua equipe, ou seja, ele era o motivador do seu grupo de trabalho, ensinando a arte de vender ações.
O filme mostra um predador com uma vontade de ganhar dinheiro a qualquer custo e com uma ânsia de gastá-lo em prazeres mundano, com muitas mulheres, drogas e orgias.
O ator Leonardo DiCaprio é o dínamo do filme, com uma garra fora do comum na interpretação do seu personagem, muito bem construído no papel do lobo de Wall street, codinome recebido por se tornar um verdadeiro predador à procura de sua caça, e sempre conseguindo seu intento. Homem ganancioso que consegue construir um império incalculável e esbanja do mesmo jeito que ganha, com estardalhaço, onde as drogas e as perversões estão sempre presentes. Ganhador do troféu Globo de Ouro por sua atuação neste filme e concorrente ao Oscar de Melhor Ator, com grande possibilidade de ganhar.
A seu lado, atores coadjuvantes que dão um ótimo alicerce ao filme, como Matthew McConaughey (como seu mentor Mark Hanna), Margot Robbie (como sua segunda esposa Naomi), e Jonah Hill, no papel de seu amigo pessoal e companheiro de trabalho, Donnie Azoff.
Com uma linguagem irônica, afiada, desbocada, Leonardo DiCaprio no personagem Jordan Belfort  brilha o filme inteiro, é com certeza todo o diferencial, uma entrega total em todas as cenas, e quando ele prega para a sua ¨turma de trabalho¨, que poder de persuasão impressionante! ¨Não há nobreza na pobreza¨, este é um dos lemas de Belfort, e isto norteia toda a sua vida.
A história deste corretor é tão descabida, cheia de superlativos, de imoralidade, falta de pudor, que é difícil imaginar que é uma história verídica, e como ele conseguiu tamanha façanha. O ritmo eletrizante  conduz o filme o tempo inteiro, com uma trilha sonora que sustenta esta lei da selva, onde o lobo de Wall Street está  sempre à espreita de suas vítimas, e a plateia não consegue praticamente relaxar, entrando no mesmo ritmo de tensão e fluidez do filme.
Os palavrões, a apologia ao dinheiro e às drogas, depravação e excessos ganham força na vida deste homem, onde a ganância e a falta de ética e moral chega ao extremo inimaginável, sendo tudo colocado de forma provocativa, sarcástica e até engraçada. Importante ter um olhar totalmente desprovido de puritanismo e se deixar levar pelo frenesi que o filme passa o tempo inteiro.
Um verdadeiro manual de má conduta, amoral, obsceno, debochado ao máximo, enfim, totalmente politicamente incorreto. Estás preparado para mais uma de Martin Scorsese?
Concorrente aos Oscar de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante.