quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

PHILOMENA





O filme Philomena ( produção Reino Unido/França/EUA ), com a direção do cineasta inglês Stephen Frears ( A Rainha, 2006), é baseado no livro do autor Martin Sixsmith, intitulado ¨The Lost Child of Philomena¨.
Incrível imaginar esta história real de uma irlandesa chamada Philomena Lee (Judi Denchi), que durante 50 anos guardou um segredo que muito a atormentava e que a fazia sofrer diariamente. Em 1952, em plena adolescência, Philomena engravidou, foi rejeitada pela família e trancafiada no Convento de Roscrea, onde era tratada como verdadeira escrava, junto com outras jovens mães. Durante o dia elas trabalhavam arduamente na lavanderia e só tinham permissão para ver os seus filhos por 1 hora, e sempre na expectativa de perder o contato com eles. Pois o convento, com o aval da Igreja Católica, vendia essas crianças para famílias americanas. E assim aconteceu com o filho de Philomena, o que se tornou um grande sofrimento para ela guardado por 50 anos, mas sempre com a esperança de um dia encontrar seu filho.
Um repórter recém demitido da BBC, Martin Sixsmith (Steve Coogan) decide ajudá-la a procurar o seu filho nos Estados Unidos, com o propósito de escrever um livro que ele identifica ¨de interesse humano¨, sobre a história desta mulher tão sofrida, e a partir daí os fatos vão se entrelaçando, até  chegar ao clímax, com tantas curiosidades e fatos inusitados, que chega a parecer inverossímil.
Estas duas pessoas tão diferentes viajam e passam a conviver juntos com o real propósito, descobrir o paradeiro de Anthony, o filho de Philomena, o que ele se tornou, o que ele faz, o que ele sabe de suas origens, em um país com hábitos bem diferentes desta simples irlandesa.
De um lado Philomena, uma senhora simples, ingênua, humilde, com uma fé inabalável em Deus apesar de toda agrura que passou, cujo único desejo é descobrir toda a verdade sobre o seu filho e sua preocupação,
 que ele saiba que ela nunca o abandonou. E  apesar de todo sofrimento imposto pela Igreja, Philomena não guarda mágoas e não quer fazer justiça, só apaziguar seu coração de mãe. E para ajudar nesta tarefa temos o jornalista Martin Sixsmith, um homem agnóstico, amargurado, realista, que não aceita o sofrimento e as injustiças  que esta senhora e tantas outras mães foram  submetidas pela Igreja Católica e acha seu dever que tudo seja esclarecido publicamente.
Com um roteiro bem adaptado à história, uma trilha sonora encantadora de Alexandre Desplat, este drama que em vários momentos  nos leva a encher os olhos de lágrimas, consegue equilibrar com diálogos de humor tipicamente inglês entre este dois grandes protagonistas. Mas o diretor evitou se ater ou tomar partido às questões da Igreja, mas apenas mostrar os fatos e se fixar mais no drama da personagem principal, Philomena.
A grande atriz Judi Denchi interpreta uma Philomena de forma soberba, com uma naturalidade, uma doçura e simpatia inerente a seu personagem, e logo de início tomamos suas dores e padecemos com ela. E é  o contrapeso para as atitudes ásperas e irônicas de Martin, numa interação perfeita de Steve Coogan.
Imaginar que este filme é um caso verídico, que esta senhora irlandesa Philomena hoje tem 80 anos e está à frente do projeto ¨Philomena Projects¨, que consiste em ajudar outras mães irlandesas a encontrar seus filhos desaparecidos, é algo impressionante.
Philomena, uma mulher de fé que tem consciência dos erros do passado gerados pela Igreja Católica, mas que continua firme na sua fé cristã e crença por um mundo melhor, a começar por não guardar rancor  e cujo único desejo e esperança de toda sua vida, era saber onde e como estava seu filho e dizer que ela o amava e nunca o abandonou.
Filme rico de detalhes, tocante mas não piegas, realista mas dramático na medida certa, que expressa toda a dor de uma mãe disposta a tudo para encontrar a verdade sobre o seu filho;  e por incrível que pareça, a força que impulsiona esta mãe é a fé cristã na Igreja Católica, a mesma que movida por seus dogmas, foi responsável por tantas atrocidades e injustiças sociais.
Com quatro indicações ao Oscar 2014, Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Trilha Sonora.

Um comentário:

  1. Philomena é um filme que mexe com emoções das mais doces às mais cruas. Drama que se repete no decorrer da História, pois que preconceito, intolerância, ignorância, crueldade existiram e assim se mantêm. Castigar pessoas como se deuses fossem é especialidade de alguns, religiosos ou não. No caso das freiras dessa história real a maldade, a ganância, a mentira e a dissimulação chega limites revoltante, pelo que acarretaram de sofrimento, de dor em suas vítimas. Roscrea não é um convento, é um pedacinho do inferno que criaram aqui.
    Para ser franca, não sei que músicas têm no filme...passaram ao largo de mim. Qualquer hora vou rever, o que moveu aquelas freiras é uma grave distorção, uma doença religiosa, fruto da concepção deformada de poder da igreja e seus dogmas, e da sociedade, ambas ricos em hipocrisia.

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