quarta-feira, 9 de julho de 2014

O ÚLTIMO AMOR DE MR. MORGAN



Direção da cineasta alemã  Sandra NettelbeckO Último Amor de Mr. Morgan é um filme sensível com história bonita e surpreendente, cheio de emoções vividas no passado pelo simpático Mr. Morgan.
Conta a história de Matthew Morgan (Michael Caine), um senhor octogenário que há 3 anos vive em depressão pela morte da sua esposa Joan ( Jane Alexander), que sempre foi o seu porto seguro e o elo entre seus filhos. Mr. Morgan mora em Paris em extrema solidão, o que é observado pelo apartamento espaçoso e sempre vazio às escuras, pelos seus passeios solitários pela capital francesa, pelas suas conversas imaginárias com sua falecida esposa, onde Mr. Morgan sente a presença dela como se ainda fizesse parte do seu mundo atual.
Quando Mr. Morgan conhece a encantadora jovem Pauline (Clémence Poesy), cria-se um elo de afeto e amizade entre essas duas pessoas tão diferentes.  Mr. Morgan projeta a imagem da sua esposa em Pauline, e esta por sua vez, vê nele o pai que perdeu quando menina. Ambos acham algo que perderam e que buscam há  muito tempo, e isto por si já é motivo de uma grande amizade.
Em ritmo lento  mas condizente com o desenrolar da trama, esta dupla tem uma boa química e entre tristeza e momentos leves, sentimos uma luz na vida do solitário Mr. Morgan. Quando Pauline leva Mr. Morgan para aprender a dançar (ela é professora de dança), eis uma ótima terapia para este senhor que perdeu o sentido da vida.
Como diz Pauline ¨em tudo na vida há uma rachadura e é através dela que a luz acaba entrando¨. E Mr. Morgan aos poucos descobre que ela ¨´é a rachadura do seu mundo¨.
A chegada dos filhos de Mr. Morgan traz à tona a relação conturbada entre pai e filhos, principalmente seu filho Miles Morgan (Justin Kirk), pois este pai sempre teve dificuldades em assumir o seu papel na família, deixando esta tarefa para sua esposa.
Filme melancólico, mostra a angústia e solidão de quem perde o seu par na terceira idade, a dificuldade de seguir o rumo natural da vida, e o quanto é importante a presença e atenção dos filhos na hora do luto.
Com boa fotografia, vários momentos escuro como a mostrar o íntimo deste senhor, outros com focos de luz e sombras, e também os encantos de Paris. Uma trilha sonora delicada, mas o roteiro se perde na segunda parte do filme quando os filhos procuram o pai, com situações e diálogos sem força e até banais.
O ator Michael Caine mostra toda sua competência e elegância com este personagem tão marcante, e sua parceira Clémence Poesy é de uma delicadeza impecável, unindo a sofisticação e a simplicidade, a sabedoria e a juventude. O encontro dos dois é lindo e real,  ambos necessitando preencher um vazio, à procura de algo que perderam.
Drama sensível e forte, com temas como solidão na terceira idade, amizade que vai além do amor físico, importância da família quando ocorre um luto. Mas infelizmente o filme perde a força na segunda parte, inclusive o desempenho do ator Justin Kirk no papel do filho Miles deixa a desejar, um personagem fraco e inexpressivo.
Mas no final fica a reflexão. Estamos preparados para perder o grande amor de nossas vidas? E apesar da vida continuar o seu rumo, como se ¨manter vivo por dentro¨? E o valor do aconchego e união familiar em situação de luto. Enfim, como o idoso é encarado pela sociedade e até no contexto familiar, alguém experiente ou um estorvo. Em muitos casos, a resposta nos entristece.

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