O filme
Philomena ( produção Reino Unido/França/EUA ), com a
direção do cineasta
inglês Stephen Frears ( A Rainha, 2006), é baseado no livro do
autor Martin Sixsmith, intitulado ¨The Lost Child of Philomena¨.
Incrível imaginar esta história real de uma irlandesa
chamada Philomena Lee (Judi Denchi), que durante 50 anos guardou um segredo que
muito a atormentava e que a fazia sofrer diariamente. Em 1952, em plena
adolescência, Philomena engravidou, foi rejeitada pela família e trancafiada
no Convento de Roscrea, onde era tratada como verdadeira escrava, junto com
outras jovens mães. Durante o dia elas trabalhavam arduamente na lavanderia e só tinham
permissão para ver os seus filhos por 1 hora, e sempre na expectativa de perder
o contato com eles. Pois o convento, com o aval da Igreja Católica, vendia
essas crianças para famílias americanas. E assim aconteceu com o filho de
Philomena, o que se tornou um grande sofrimento para ela guardado por 50 anos, mas sempre com a esperança de um dia encontrar seu filho.
Um repórter recém demitido da BBC, Martin Sixsmith (Steve
Coogan) decide ajudá-la a procurar o seu filho nos Estados Unidos, com o
propósito de escrever um livro que ele identifica ¨de interesse humano¨, sobre a história desta mulher tão sofrida, e a
partir daí os fatos vão se entrelaçando, até chegar ao clímax, com tantas curiosidades e fatos inusitados, que chega a parecer inverossímil.
Estas duas pessoas tão diferentes viajam e passam a conviver juntos com o real propósito,
descobrir o paradeiro de Anthony, o filho de Philomena, o que ele se tornou, o
que ele faz, o que ele sabe de suas origens, em um país com hábitos bem diferentes desta simples irlandesa.
De um lado Philomena, uma senhora simples, ingênua, humilde,
com uma fé inabalável em Deus apesar de toda agrura que passou, cujo único desejo é descobrir
toda a verdade sobre o seu filho e sua preocupação,
que ele saiba que ela
nunca o abandonou. E apesar de todo sofrimento imposto pela Igreja, Philomena não
guarda mágoas e não quer fazer justiça, só apaziguar seu coração de mãe. E para
ajudar nesta tarefa temos o jornalista Martin Sixsmith, um homem agnóstico, amargurado, realista, que
não aceita o sofrimento e as injustiças
que esta senhora e tantas outras mães foram submetidas pela Igreja Católica e acha seu
dever que tudo seja esclarecido publicamente.
Com um roteiro bem adaptado à história, uma trilha sonora encantadora
de Alexandre Desplat, este drama que em vários momentos nos leva a encher os olhos de lágrimas,
consegue equilibrar com diálogos de humor tipicamente inglês entre este dois
grandes protagonistas. Mas o diretor evitou se ater ou tomar partido às questões da Igreja, mas apenas mostrar os fatos e se fixar mais no drama da personagem principal, Philomena.
A grande atriz Judi Denchi interpreta uma Philomena de forma
soberba, com uma naturalidade, uma doçura e simpatia inerente a seu
personagem, e logo de início tomamos suas dores e padecemos com ela. E é o
contrapeso para as atitudes ásperas e irônicas de Martin, numa interação
perfeita de Steve Coogan.
Imaginar que este filme é um caso verídico, que esta senhora
irlandesa Philomena hoje tem 80 anos e está à frente do projeto ¨Philomena
Projects¨, que consiste em ajudar outras mães irlandesas a encontrar seus
filhos desaparecidos, é algo impressionante.
Philomena, uma mulher de fé que tem consciência dos erros do
passado gerados pela Igreja Católica, mas que continua firme na sua fé cristã e
crença por um mundo melhor, a começar por não guardar rancor e cujo único
desejo e esperança de toda sua vida, era saber onde e como estava seu filho e
dizer que ela o amava e nunca o abandonou.
Filme rico de detalhes, tocante mas não piegas, realista mas
dramático na medida certa, que expressa toda a dor de uma mãe disposta a tudo
para encontrar a verdade sobre o seu filho; e por incrível que pareça, a força
que impulsiona esta mãe é a fé cristã na Igreja Católica, a mesma que movida por seus
dogmas, foi responsável por tantas atrocidades e injustiças sociais.
Com quatro indicações ao Oscar 2014, Melhor Filme, Melhor
Atriz, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Trilha Sonora.