segunda-feira, 31 de março de 2014

A MÚSICA NUNCA PAROU




Com direção de Jim Kohlberg, o drama A Música Nunca Parou (EUA) é baseado em história real relatada pelo neurologista Oliver Sacks no artigo ¨The Last Hippie¨.
Com roteiro de Gwyn Lurie e Gary Marks,conta a história do jovem Gabriel Sawyer ( Lou Taylor Pucci ), filho único do casal Henry Sawyer ( J. K. Simmons) e Helen Sawyer (Cara Seymour), que após atritos familiares, mais especificamente entre pai e filho, se afastou do convívio familiar .
O reencontro acontece após quase 20 anos, quando Gabriel se encontra em tratamento numa clinica neurológica devido ao diagnóstico de um tumor cerebral, com seqüelas a nível cognitivo, não conseguindo reter memórias recentes e lembrar do seu passado.
Com a ajuda dos pais e da musico-terapeuta Dianne (Julia Ormond), Gabriel começa a ter respostas neuronais a partir de estímulos musicais. Pois sua infância e adolescência foi toda recheada de contatos musicais através de seu pai Henry, que adorava música.
A trilha sonora é composta de canções dos Beatles, Bob Dylan, Buffalo Springfield, e a banda favorita de Gabriel, a Grateful Dead.
Através de narrativa fragmentada, com flashbacks da infância e dos 20 anos atrás quando ainda convivia com seus pais, vamos conhecendo a vida deste jovem que adorava música, seus conflitos de juventude e com o seu pai, sempre ao som de músicas da década de 60/70, este é o apelo forte do filme.
O trio de atores formado pelo casal Sawyer e seu filho Gabriel têm uma ótima química, em especial J. K. Simmons, em excelente interpretação como o pai Henry, que através da música tenta a todo custo estabelecer uma comunicação real com seu filho, pois Gabriel só sai do seu estado letárgico quando escuta músicas que marcaram sua vida.
O filme é um drama familiar lento, à direção falta um pouco de vivacidade mas paira na delicadeza, e no apelo emocional sem exageros através de músicas como  ¨All You Need is Love¨, dos Beatles. E nesses momentos fica a certeza de quanto a música pode ajudar em processos traumáticos e perdas de memória, com um poder transformador.
Este drama nos fala de amor  e conflito familiar, de orgulho, de saber voltar atrás quando percebe que falhou, principalmente em questões familiares. Da cura através da música e da cumplicidade entre pai e filho. A cena em que o pai consegue 2 ingressos para o show do Grateful Dead e vai com o filho, tentando perceber o significado daquele som que antes agredia os seus ouvidos,  para chegar até a alma e o coração do seu amado filho Gabriel, vale o filme.
Comovente mas sem apelo emocional, realista, verdadeiro, uma história de amor e superação, um ensinamento de vida.


quinta-feira, 27 de março de 2014

OUTONO EM NOVA YORK



Este blog brinda a chegada desta estação, o Outono, com este emocionante filme, vale a pena rever!!!
Com direção da atriz e diretora chinesa Joan Chen, o filme Outono em Nova York (2000), um melodrama com uma história triste de amor e grande ensinamento de vida, tendo como pano de fundo a cidade de Nova York em pleno outono, com seu visual deslumbrante e luminosidade característica de Manhattan.
Will Keane (Richard Gere), um cinquentão proprietário de restaurante que adora se envolver com mulheres, mas tem como lema de vida não se comprometer com nenhuma; até o dia em que ele conhece a jovem Charlotte Fielding (Winona Ryder), de 25 anos de idade, linda e com temperamento exótico e alegre, e que tenta viver um dia de cada vez, pois tem uma doença terminal.
Inicialmente Will tenta agir com Charlotte com a mesma frivolidade dos seus inúmeros casos amorosos, mas cai na cilada do coração e se apaixona pela jovem. Só que o tempo para Charlotte é curto e ela decide viver este amor com toda sua energia e alma, o que toca profundamente no coração de Will.
Como se espera de uma trama desse nível, um drama que nos leva às lágrimas, mas ao mesmo tempo com momentos de felicidade e alegria. Com uma linda fotografia, tendo como palco belas paisagens e locais de Nova York no outono, com as folhas caindo em pleno Central Park, e o frio chegando, características desta estação, dando um ar nostálgico à película.
O filme seduz pelos personagens, pelas imagens e a trilha sonora complementa a fotografia, músicas que lembram histórias de amor e ficam gravadas em nossa mente.
Um filme comovente com vários conflitos pessoais, com momentos alegres e tristes, onde a atriz Winona Ryder está incrivelmente bela e radiante e o seu par romântico Richard Gere, um irresistível e charmoso coroa sedutor. Esta jovem com metade da idade deste cinqüentão ensinará com sua juventude findando, o quanto a vida é bela e a importância do amor para as pessoas se sentirem plenas e felizes.
Fica a reflexão do quanto vale a pena viver a vida com plenitude, que a felicidade se encontra nos momentos felizes, de preferência ao lado de alguém que amamos, e isto é algo único e maravilhoso. Que o amor é capaz de mudar e até salvar as pessoas, e se um dia encontrar alguém que sinta que te complete, sua alma gêmea, agarre esta chance e dê o melhor de si para o outro. Pois no final, tudo retorna em dobro para quem é altruista no amor.


segunda-feira, 24 de março de 2014

A GAIOLA DOURADA




Primeiro longa metragem do diretor  Ruben Alves, a produção franco portuguesa  A Gaiola Dourada, cujo roteiro é uma homenagem  a seus  pais, portugueses de origem e que viveram mais de quarenta anos na França, com  vários personagens do filme como  imigrantes portugueses.
Um comédia com leveza e descontração, apesar de não se aprofundar no tema, conta com um roteiro interessante, mostrando culturas diferentes e as condições dos imigrantes na Europa, na sua maioria com empregos subalternos, subservientes  e com  baixa remuneração.
Conta a história de um casal de portugueses que vivem há mais de 30 anos em Paris, com um casal de filhos que nasceram neste país. Maria Ribeiro (Rita Blanco) é zeladora de um prédio em um bairro nobre parisiense e seu esposo José Ribeiro (Joaquim de Almeida) trabalha na construção civil e com muita dificuldade conseguiram criar seus filhos. Ambos gostam dos seus trabalhos e realizam com muita eficiência, subserviência e boa vontade, sempre à disposição dos seus patrões.
Um dia este casal recebe a notícia de uma herança familiar, e com isso o sonho de voltar a viver em seu país de origem e ter uma casa própria, está prestes a se concretizar. Mas como dizer isto a seus patrões, que por não quererem perder tão eficientes e leais empregados, começam a bajulá-los e fazer pequenos acertos para conseguir que eles permaneçam em Paris.
Em paralelo tem o romance de sua filha Paula Ribeiro (Barbara Cabrita) com o filho do patrão de José Ribeiro, o que trará um certo desconforto para ambas as famílias.
Este filme fez um estrondoso sucesso na Europa e tem muitos acertos, conseguindo unir à comédia, um drama leve e romance água com açúcar. Com um elenco com ótimas atuações, o diretor acertou em cheio ao escolher atores portugueses de primeira, como Rita Blanco e Joaquim de Almeida como protagonistas, e participação especial de Maria Vieira e Jacqueline Corado, como Rosa e Lourdes respectivamente, que primam em cenas bem engraçadas e com humor tipicamente português, sem cair no caricato ou soar de forma grosseira.
A cena do jantar que o casal de imigrantes portugueses resolve convidar os patrões franceses, cada um tentando agradar o outro se espelhando na cultura e tradições, é realmente muita bem feita e hilária.
A trilha sonora mescla músicas francesas com muito fado, dando um toque nostálgico à película, o que é também sugerido pela fotografia.
Uma comédia que prima pela simplicidade, pauta nos conflitos culturais e sociais de forma leve, na dificuldade dos imigrantes na Europa, o trabalho que exercem, em geral braçal e de baixa remuneração.
Sem maiores pretensões sentimos a importância e a saudade do País de origem para os imigrantes, as dificuldades dessas pessoas e a exploração no trabalho. Tudo de forma descontraída, sem aprofundamento, deixando a reflexão para a plateia.

quinta-feira, 20 de março de 2014

SEM ESCALAS





O filme Sem Escalas (EUA/ França) do diretor Jaume Collet-Serra (A Órfã/ 2009 e Desconhecido/ 2011) é um suspense com muita ação, cuja história se passa o tempo inteiro dentro de um avião.
Durante um vôo de Nova York a Londres com duração de cinco horas, o agente Neil Marks (Liam Neeson), um ex alcóolatra com problemas existenciais mas com coragem necessária para resolver problemas, começa a receber mensagens  SMS com ameaças de morte, que colocam toda as pessoas do avião no jogo, e Neil imediatamente percebe indícios de perigo eminente no ar.
E quando os fatos começam a confirmar as mensagens, Neil inicia uma verdadeira investigação em pleno vôo, desejoso de chegar até o assassino. Em troca a misteriosa pessoa que envia os SMS ao detetive, exige um valor em dinheiro através de  transferência bancária. Interessante as mensagens que Marks recebe  aparecer na tela com o som característico, levando-nos a uma contagem regressiva e fazendo-nos participar da investigação.
 Partindo dessa premissa, temos um suspense de qualidade que prende a atenção do início ao fim, com muitas reviravoltas e que apenas nos minutos finais conseguimos matar a charada. Afinal, todas as pessoas do avião passam a ser suspeitas, criando uma atmosfera de envolvimento e suspense real.
O ator Liam Neeson, já conhecido pela sua ótica atuação em filme de ação e suspense, como Busca Implacável (2008) e Desconhecido (2011), mais uma vez dá uma performance coerente com o enredo do filme, um verdadeiro especialista neste gênero. Contamos também com participações pequenas mas de peso de atores como Julianne Moore, Lupita Nyong’o e  Scoot McNairy.  Isto faz um diferencial no filme.
Apesar de conter uma história meio absurda, este longa se inspira na linha de filmes como ¨Aeroporto¨, com suspense e mistério quanto a identidade do suposto terrorista, e a cada instante fatos acontecem que prendem a nossa atenção até o desfecho final, com sensação constante de perigo em um local que não tem saída, no sentido literal da palavra. Um verdadeiro jogo onde as pedras do tabuleiro vão se encaixando, apesar de termos a sensação que este suspense poderia ter sido mais bem elaborado e aperfeiçoado.
Um filme com o único objetivo de entretenimento, com ótimas atuações,  onde a tecnologia está presente e faz parte integrante da trama. Idealizado apenas com o objetivo de bulir com a nossa emoção, um suspense em clima de perigo constante com  momentos de ação. Afinal, as vezes é bom ir ao cinema apenas com o intuito de se divertir e testar nossos nervos.

segunda-feira, 17 de março de 2014

NINFOMANÍACA II



O filme Ninfomaníaca II, do polêmico diretor dinamarquês Lars Von Trier, é uma continuidade da primeira parte do filme com o mesmo nome, com os mesmo intérpretes protagonistas e o formato similar.
Na primeira parte do filme, Joe ( Charlotte Gainsbourg), uma mulher de 50 anos viciada em sexo, conta sua história para o bom e pacato Seligman (Stellan Skarsgard), que ao encontrá-la no meio da noite em um beco, suja e ferida, a leva para sua casa, cuida dos seus ferimentos e tenta confortá-la e interpretar seus devaneios e confidências pessoais.
Nesta segunda parte do filme, a amargurada Joe continua a contar suas agruras e dificuldades na juventude (interpetada pela jovem atriz Stacy Martin), chegando a idade atual. Vemos Joe vivenciar o casamento e a maternidade com o marido Jerôme (Shia LaBeouf); nesta fase difícil eles tentam uma vida a dois, com Joe tendo dificuldades em manter este padrão de vida, chegando até a procurar um grupo de ajuda denominado ¨viciadas em sexo¨, deixando o prazer de lado para tentar se dedicar ao lar, ao marido e filho. Tem uma sequência com o filho, que com certeza quem assistiu o filme Anti-Cristo, logo lembrará da cena antológica do início deste filme.
Apesar de ser um filme erótico, não exala sensualidade, existe até um  certo tom didático, provocado propositalmente pelo diretor. Fala-se muito em pecado, culpa, auto punição, vindo sempre atrelado às interpretações analógicas de Seligman, através de conceitos religiosos e contestações, em discursos arrastados e até cansativos.
A personagem Joe sofre por não conseguir livrar-se do vício, perde emprego, não consegue manter o casamento, tenta outras vias de perversão sexual  como uma espécie de penitência, se relacionando com o misterioso K. (Jamie Bell), em cenas fortes de sadomasoquismo.
A cena erótica mais esperada do filme, um ménage à trois (pela foto que aparece nas propagandas) é surreal e até meia engraçada, com dois negros africanos tentando a melhor posição para transar com Joe, falando no idioma deles, sem ela entender nada.Um golpe certeiro de Lars Von Trier , com certeza, e um balde de água fria para quem aguardava algo erótico e sensual.
A atriz Charlotte Gainsboug dá uma interpretação intensa e sofrida à protagonista , a Joe ninfomaníaca adulta. O ator Jamie Bell  como o misterioso K., consegue instigar com seu personagem estranho e rodeado de mistério, em sequências fortes e perturbadoras.
Filme sombrio, fatalista, erótico sem ser sensual, onde não há espaço para interpretações, pois tudo é dito, indagado e explicado ao estilo do diretor, de forma provocante e polêmica. Fala-se de solidão e deturpações sexuais de uma pessoa viciada em sexo, que se auto destroi  como forma de punição e a culpa toma lugar violento em sua alma. Tudo com muito discurso que em alguns momentos chega a cansar.
Os momentos finais do filme é algo surpreendente, que caberá a cada um decifrar, algo que poucos diretores conseguiriam, um final sarcástico e polêmico, estilo Lars Von Trier

quinta-feira, 13 de março de 2014

12 ANOS DE ESCRAVIDÃO





Merecedor do Oscar 2014 de Melhor Filme, o drama 12 Anos de Escravidão, do diretor inglês Steve MacQueen (Shame/2011) e  roteiro de John Ridley (Oscar 2014 de Melhor Roteiro Adaptado), este épico histórico é baseado em livro de memórias do próprio Solomon Northup.
Narrado pelo protagonista, assistimos um relato sensível e de uma crueza de doer a nossa alma, com uma força visceral mas sem forçar a emoção, pois tudo que aconteceu é real e fez parte da história dos EUA por 240 anos, tempo que durou o Sistema Escravagista deste País.
Baseado na história real do negro norte-americano Solomon Northup ( Chiwetel Ejiofor), um violinista clássico, culto, casado e pai de dois filhos, que vivia no norte dos EUA, onde a escravidão era proibida. Através de uma oferta de trabalho que na verdade era uma armadilha, Solomon é seqüestrado e vendido como escravo em Louisiana, em 1841. A partir deste preâmbulo o que vemos na tela é todo tipo de humilhação, violência física e moral e total submissão que este personagem passa junto com outros negros. Os horrores da escravidão são mostrados com tanto vigor  em imagens que dispensa palavras, pois é praticamente impossível expressar tanto sofrimento sobre um sistema tão cruel como a escravatura.
Observar um homem livre passar por uma experiência de tanta humilhação e sofrimento, onde perde o direito até sobre sua própria identidade e passa a ser uma mercadoria de um senhor e amo soberano.  ¨Dizer a ninguém quem eu sou, é assim que se sobrevive? Prefiro não sobreviver¨, diz Solomon com olhar de espanto e indignação diante do que vê e sente a partir do momento que perde sua liberdade. E para conseguir sobreviver a uma situação tão cruel e vulnerável, os negros tinham que sufocar seus pensamentos e sofrimento pessoal pela própria sobrevivência, diante das chicotadas e do desdém de ¨seus donos¨.  Como diz a esposa de um senhor a uma escrava que soluça desesperadamente ao se separar de seus filhos :¨logo você se esquecerá deles¨.
Um filme de veracidade torturante, com uma força histórica realista , que nos mostra a ferida e os feridos, dando um misto de asco e impotência à plateia que supera a emoção, diante de tanta violência contra a dignidade humana.
O protagonista Solomon trabalhou como escravo por 12 anos em fazendas de cana e algodão e o ator Chiwetel Ejiofor dá uma interpretação digna ao personagem. Assim como os atores Michael Fassbender (intérprete de Shame) e Benedict Cumberbatch desempenham seus papeis de forma realista como os senhores feudais, que chegamos a sentir revolta desses personagens. O ator Brad Pitt,  Produtor do filme, faz uma pequena participação como o canadense Bass, que não aceita o regime escravagista.
A atriz Lupita Nyong’o no papel da escrava Patsey nos brinda com uma interpretação estupenda. Escrava desejada e odiada pelo seu amo Edwin Epps (Michael Fassbender), estrupada e espancada cruelmente por ele, numa das cena mais tristes do filme. O sofrimento desta escrava é tamanha que ela suplica a Solomon que tire a sua vida, em momento de grande expressividade. Muito bem merecido o Oscar 2014 de Melhor Atriz Coadjuvante.
A fotografia é espetacular, tem momentos que a câmera enquadra os negros que trabalham nas plantações e segura a imagem por alguns segundos, um verdadeira pintura, como a nos dar fôlego diante de tanta barbárie.
Filme de força incomum, sensível e ao mesmo tempo mostra uma crueldade que incomoda, através da história comovente do negro Solomon, nos leva a repensar e analisar um período negro da história dos EUA, e como foi possível manter a escravatura por tantos anos. Ver na tela a transformação de um ser humano livre em escravo, a exploração da mão de obra, espancamentos e humilhações diárias, é algo perturbador e revoltante, que toma o lugar do choro.
¨Só posso comparar meu sofrimento às agonias flamejantes do inferno¨, palavras de Solomon , um negro livre vendido como escravo, assim como vários outros negros nesta mesma situação.
A Abolição da Escravatura nos EUA aconteceu em 1863 pelo Presidente Abraham Lincoln. No Brasil foram quatro séculos de escravidão com quase 5 milhões de prisioneiros. 



segunda-feira, 10 de março de 2014

UMA DAMA EM PARIS





O drama francês Uma Dama em Paris do jovem diretor estoniano Ilmar Raag (Klass /2007),  é uma agradável surpresa para os que curtem um filme leve e intimista, com um roteiro interessante, sem grandes momentos de dramaticidade apesar do tema relacionado com a velhice e solidão.
Tipo uma crônica, conta o encontro de duas senhoras, cada qual com sua história de vida e que por motivos pessoais diferentes se encontram em profunda solidão, e este encontro significará mudanças em suas vidas.
A estoniana Anne (Laine Mägi), com a morte de sua idosa mãe, decide sair da sua terra natal e mudar-se para Paris, em busca de algo novo para sua vida. Contratada por Stéphane (Patrick Pineau) para cuidar de Frida (Jeanne Moreau), uma idosa estoniana rica que mora em Paris há muitos anos, e que passa por uma profunda depressão.
Anne é recebida de forma grosseira por Frida, uma pessoa rabugenta, orgulhosa, que não aceita a velhice e deseja a todo custo reconquistar o amor de Stéphane, que foi seu amante no passado, apesar da diferença de idade. O próprio Stéphane tem uma dívida de gratidão por Frida e é quem cuida e se preocupa com esta senhora tão amarga e de difícil convivência.
Duas mulheres tentando se adaptar a viver juntas, com personalidades e temperamentos bem diferentes, mas ambas solitárias e necessitando de atenção e afeto. Nesta relação delicada desses três personagens a trama vai se desenvolvendo, com revelações que nos levam ao entendimento da situação, de forma intimista, lenta e delicada, sem pieguices.
O elenco tem uma boa interação e é interessante rever a grande dama do cinema francês Jeanne Moreau aos 84 anos, em plena arte de interpretar, inclusive um papel que tem alguns aspectos de sua vida de grande atriz.
A fotografia em tons em geral escuro torna o clima do filme pesado, criando uma certa monotonia no contexto em geral.
A personagem Anne nos seus passeios diários nos mostra uma Paris aconchegante, sem se deter em pontos turísticos, mostrando as ruas de Paris, com seus cafés, suas vitrines e as luzes da noite, que a tornam mais bonita e cheia de mistérios.
Com um história sutil e leve, este filme nos leva à reflexão sobre a velhice, a falta de perspectiva diante do tempo, e a solidão e o abandono que muitos idosos sentem. Da importância de saber aceitar o outono da vida, de construir relações e afetos que servirão de suporte na velhice.
E essas duas mulheres solitárias e com trajetos tão diferentes, vão descobrir o prazer da amizade e que podem ser belas e sensuais, independente da faixa etária. Afinal, envelhecer é um processo natural do ser humano e as perdas fazem parte deste processo.
O diretor Ilmar Raag ao criar este roteiro, se inspirou na experiência de sua própria mãe, que foi cuidadora de uma rica senhora parisiense.



quinta-feira, 6 de março de 2014

CLUBE DE COMPRAS DALLAS




O filme Clube de Compras Dallas (EUA), do diretor canadense Jean-Marc Vallée ( A Jovem Rainha Vitória /2009), com seis indicações ao Oscar 2014, ganhador de 3 Oscar, os troféus de  Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante e Maquiagem, muito bem merecido.
Este drama se baseia em fatos reais, passado em 1986, quando a Aids era considerada ¨a peste gay¨, uma doença associada ao homossexualismo e pessoas que utilizavam drogas injetáveis. Conta a história de Ron Woodroof  (Matthew McConaughey), um eletricista texano e peão de rodeio, um cara grosseirão, ignorante e homofóbico, com uma vida depravada, com muita orgia regada a drogas e sexo com mulheres sem proteção.
Quando Ron é diagnosticado com HIV em fase terminal e com expectativa de vida de 30 dias, este machista fica inconformado e começa sua luta contra a morte, inicialmente pesquisando sobre o uso do AZT,  medicação que estava em teste nos EUA nos pacientes com Aids. Mas o AZT causava muitos efeitos colaterais e destruía o sistema imunológico dos portadores de HIV, pela alta dosagem que estava em estudo e por não estar associado a outros medicamentos.
Ron vai para o México e descobre outras medicações alternativas e se torna um ativista, com o objetivo de ajudar a si próprio e a outras pessoas dependentes destas medicações, pelo direito à vida.
Do seu jeito tosco e agressivo, ele começa a contrabandear medicamentos de outros países como México, China, Japão, e cria o Clube de Compras Dallas, onde os pacientes com Aids se associavam e pagavam uma mensalidade de 400 dólares por mês, para terem direito ao AZT e outros medicamentos que eram proibidos nos EUA.  Isto começou a incomodar as indústrias farmacêuticas e o próprio Governo dos EUA, inclusive Ron foi preso várias vezes, mas sempre conseguia sair das enrascadas que se metia.
Este personagem Ron, que tinha horror aos gays, aos poucos vai mudando a sua maneira de pensar e inclusive se alia ao travesti  Rayon (Jared Leto),  para criar o Clube de Compras Dallas, que visava lucro próprio e ajudava outras pessoas com Aids.
Ron também passou a ser discriminado pelos próprios amigos, pela comunidade, pois nesta época quem contraia a doença Aids era vítima de muitos preconceitos, por estar associada aos homossexuais.
Ganhador do Oscar de Melhor Ator, Matthew McConaughey é a alma deste filme, com uma criação magnífica do personagem Ron, está irreconhecível pela magreza, mas principalmente pela forma como incorporou o insuportável protagonista Ron, que chega a nos incomodar pela sua brutalidade, rudeza, homofobia. E o ator Jared Leto, que interpreta o travesti Rayon, também concorreu e ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, pela transformação e magnitude do seu personagem.
A atriz Jennifer Garner como a Dra. Eve Saks, uma personagem meia apática, que se alia a Ron na luta para conseguir medicamentos em outros países, tornando-se um alvo dos próprios colegas no Hospital.
Filme intrigante, incomodativo, com bom roteiro, excelentes interpretações, figurino e maquiagem perfeitos aos personagens. Um drama pesado, que incomoda a plateia, sem pieguices, realista até sufocante, este filme veio para fazer jus a vários Oscar 2014. Realmente imperdível!!!



segunda-feira, 3 de março de 2014

TUDO PODE DAR CERTO




O grande diretor Woody Allen, já tão conhecido pelo estilo de humor sarcástico, que tem até mudado nos últimos tempos, ganhador de vários Oscars e outros troféus, realizou o filme Tudo Pode dar Certo (2009), uma comédia de  humor inteligente com tiradas irônicas, um humor negro super afiado.
O protagonista Boris vivido por Larry David parece ser o alter ego do diretor. Um personagem idoso,  inteligente, sagaz, prepotente e arrogante. Aos poucos Boris vai mudando sua ótica de ver a vida com a entrada da jovem Melodie (Evan Rachel Wood ) em sua vida.
Esta comédia conta a história de Boris (Larry David), um velho físico  rabugento, hipocondríaco, mal humorado, pessimista, com uma inteligência acima do normal, que se acha o dono da verdade, critica as pessoas, os considerando inferiores. Enfim, olha a vida por uma ótica pessimista e realista até demais.
A sua vida começa a mudar quando ele por acaso conhece a jovem Melodie ( Evan Rachel Wood) , e que termina indo morar com ele, por falta de opção.
Unindo a inteligência e a maturidade de Boris à beleza e juventude de Melodie, o que o grande Woody  Allen faz ?  Aos poucos, um vai aprendendo com o outro, um vai percebendo os nuances do outro, um vai precisando do que o outro pode lhe dar, enfim, as diferenças terminam os aproximando cada vez mais.
Só um gênio como Woody Allen para imaginar um personagem como este, enfim Boris é a imagem que o diretor passa de si mesmo para o público. Acredito que ele deve ter se divertido bastante com este personagem e suas inúmeras facetas.
Filme ácido, com humor irônico, com piadas que chocam o público,  um personagem ofensivo, antipático de imediato ao público, justamente a pretensão do filme, e  este é justamente o diferencial .
Mas no final nos leva a várias reflexões sobre os conceitos e valores que damos à vida e o que exigimos das pessoas.
Para mim, um dos grandes filmes de Woody Allen. Um tiro certeiro para quem curte este tipo de filme. Mesmo quem já assistiu, vale a pena relembrar!!



sábado, 1 de março de 2014

COMO PERDER UM HOMEM EM 10 DIAS






Com direção de Donald Petrie, esta típica comédia romântica americana, Como Perder um Homem em 10 Dias ( 2003),  é um divertimento leve e perfeito para passar uma noite agradável. Previsível, cheia de clichês, com atores carismáticos, mas que nos encanta com suas performances e nos delicia com uma história simples e até boba, mas é justamente este o diferencial, leveza e divertimento.
Bem Barry ( Matthew McConaughey), um publicitário charmoso que faz uma aposta com seu chefe, que seria capaz de fazer uma mulher se apaixonar por ele em 10 dias, e em troca ganharia uma campanha de publicidade de diamantes. No outro lado temos a jovem determinada Andie Anderson (Kate Hudson), uma jornalista cuja ambição para conseguir boas matérias, a leva a situações inusitadas. E ela decide escrever um artigo sobre ¨como perder um homem em 10 dias¨.
Quando estes dois lindos protagonistas se encontram em um bar e decidem ser o alvo de suas disputas, o duelo vai começar. Com estilos diferentes de abordagem, eles farão de tudo para alcançar o seu objetivo, mas o cupido flecha o coração desses dois oponentes.
Kate Hudson está linda e carismática nesta comédia, interpretando com muita naturalidade a jornalista Andie. E seu par romântico Matthew McConaughey tem uma boa atuação, como conhecido galã de comédia americana.
Verdadeira comédia romântica, onde o final é perceptível, com situações previsíveis, mas que nos emociona, nos diverte, nos faz acreditar que na máxima que os opostos se atraem, e que quando existe amor, é possível lapidar as arestas para chegar a um final feliz. Uma ótima opção de distração, para se rever quando desejar relaxar e dar boas risadas.