domingo, 29 de junho de 2014

VIZINHOS


A comédia Vizinhos (EUA), direção de Nicholas Stoller, é o tipo de filme produzido com a simples intenção de divertimento, comédia tipo besteirol.
Recheada de comentários politicamente incorretos, humor satírico com xingamentos, palavras chulas, que diverte principalmente o público jovem. E este é o diferencial desta comédia, humor duvidoso que em determinados momentos até nos constrange, com isso atinge o principal objetivo, fica nítido pelas gargalhadas da plateia.
Conta a história do jovem casal Mac Radner (Seth Roger) e Kelly Radner (Rose Byrne), empolgados com a compra de uma casa em um bairro tranquilo, já que a família cresceu com a chegada de uma nenê de poucos meses.
A paz do casal acaba quando tornam-se vizinhos de uma república universitária, com jovens solteiros e bagunceiros. Esses jovens fazem parte de uma Fraternidade denominada Delta Psi, tendo como líder o bonitão Teddy Sanders (Zac Efron). A Delta Psi funciona como uma seita que os jovens se associam, fazem votos de lealdade, tudo regado a muita festa, badalação, bebidas, arruaça e confusão.
O casal Mac e Kelly apesar dos insistentes pedidos de silêncio aos vizinhos universitários, não conseguem ter paz e tranquilidade para criar o seu bebê. A partir desta primícia, tudo que vem por aí é brigas e confusões, com piadas e situações obscenas, extravagantes e até esquisitas (estilo American Pie).
Os atores Seth Roger e Rose Byrne estão coerentes com seus papeis, nada mais que isto. O ator Zac Efron até que segura bem o papel de líder da Delta Psi, um cara bonitão, cheio de músculos e pouco cérebro.
A trilha sonora é boa, mas sem nada original e o roteiro tem certas situações que insiste na temática e chega a entendiar.  Momentos engraçados como os air bags explodindo, uma vingança da Fraternidade ao casal Mac e Kelly, por terem chamado a polícia, em uma das festas rave, atrapalhando o sono da doce bebê. Aliás, um colírio à parte o sorriso e os gracejos da nenê; toda vez que aparece, rouba a cena e nos faz sorrir.
Comédia do tipo que muitos jovens curtem, recheada de clichês grosseiros e escrachados, sem sutileza, muito direto e com certo ar de malícia. Mas para quem curte estas comédias, um prato cheio de gargalhadas.


quarta-feira, 25 de junho de 2014

O LOBO ATRÁS DA PORTA


O cinema nacional brinda o público com o filme O Lobo atrás da Porta, direção e roteiro de Fernando Coimbra, conhecido por curtas metragem de qualidade. Neste seu primeiro longa, levou o troféu de Melhor Filme da Mostra Horizontes Latinos, no Festival de Cinema de San Sebastian (Espanha).
Um drama/suspense, como um quebra-cabeça temos a reconstrução do sequestro de uma criança, onde os envolvidos são a sua própria família e a amante, assim como tantos folhetins policiais diários que mexem com a imaginação, espanto e indignação popular. Onde cada personagem envolvido conta ao delegado (Juliano Cazarré) o seu lado nesta história mostrado em flashbacks, e é incrível que ao conhecer as  pessoas, fazemos um pré julgamento e aos poucos esta visão vai se modificando, e mostrando como eles realmente são.
Com um bom roteiro,conta a história da menina Taninha que desaparece, várias versões são expostas ao delegado, como o pai Bernardo (Milhem Cortaz), a pacata mãe Silvia (Fabiula Nascimento), que dão queixa do sumiço da criança. Depois de conhecer os fatos pelo ângulo de cada participante da história, a principal suspeita recai sobre Rosa (Leandra Leal), uma jovem na faixa dos 25 anos, que se tornou amante de Bernardo.
Com ótima direção, fotografia de qualidade, onde os fatos são contados e sugeridos nesta maquiavélica história, sem aparecer cenas chocantes; em alguns momentos a plateia entende o significado das ações através do som e imagens distorcidas, o que leva a nossa imaginação e indignação a fluir.
Os atores em geral estão irrepreensíveis em seus respectivos papeis, como Juliano Cazarré  interpretando o delegado inquisidor com seu humor sarcástico, a atriz Fabiula Nascimento como a mãe Silvia, uma pessoa serena e até ingênua, ao ponto de se tornar amiga de Rosa.
Mas quem realmente brilha e rouba a cena é a atriz Leandra Leal no papel da amante Rosa, uma personagem dúbia, que foge do estereótipo ¨da outra¨, com momentos de doçura outros de sedução, uma vítima e algoz de uma situação, prisioneira de uma teia que ela mesma teceu, cujo amargor leva à uma situação inescrupulosa. Impressiona seu olhar e gestos de menina doce ou mulher fatal, quando assim deseja. A cena final é tão verossímil, todo focado no seu rosto, que choca e agride a plateia. Merecido prêmio de Melhor Atriz no Festival do Rio 2013.
Filme instigante, um suspense exposto de forma inteligente através de um drama familiar onde os segredos vão sendo expostos, expiados e desvendados, dando um novo significado na investigação policial. Com uma abordagem humana, mostrado com sarcasmo e até algumas gotas de humor, que nos leva a um riso nervoso, talvez para diluir um drama tão atroz, como o sequestro de uma criança.
Atos impensados influenciam a história de vida das pessoas, e muitas vezes o mal que existe no íntimo supera o bem, e perde-se a noção de realidade e justiça, o amargor aprisiona o ser humano tornando-a vítima e algoz, mas em toda vingança os dois lados saem feridos.
Por trás de cada cordeiro, um lobo está à espreita. Cabe a cada um, conter o seu lobo.




 



domingo, 22 de junho de 2014

O QUE OS HOMENS FALAM



O que os Homens Falam ( Una Pistola em Cada Mano, título original), direção do cineasta espanhol Cesc Gay, comédia moderna recheada de diálogos entre homens na faixa etária dos 40/50 anos, noventa minutos de humor ácido e espirituoso.
Formada de vários episódios pequenos em que os homens estão na berlinda, dialogando sobre suas inseguranças e fragilidades, em particular sobre a crise da meia idade.
Com elenco formado por atores de primeira qualidade como Ricardo Darín, Luis Tosar, Javier Câmara, Eduardo Noriega, Jordi Molla e outros, observamos o universo masculino discutindo temas como sexo no trabalho, infidelidade conjugal, crise da idade, impotência sexual, etc. São diálogos leves, cômicos, cheios de nuances e sutileza.
Com uma fotografia clara, filmado em Barcelona, participamos de histórias ligada ao homem contemporâneo. De forma perspicaz, um humor que divide a plateia no gosto, com ritmo lento e em alguns momentos soa monótono.
Vemos a figura alfa de forma insegura, frágil, prato cheio para as mulheres, enquanto estas conseguem se situar melhor nesta crise da meia idade, bingo para elas, sintam-se vingadas!
Apesar de ser um filme sobre o ponto de vista masculino, não é machista e o elenco consegue segurar tantos diálogos, e isto em si já é uma façanha, pois convenhamos que DR não é o forte dos homens em geral.
Tipo da comédia que tem um público destinado, divide opiniões devido a quantidade de diálogos, mas isto soa no mínimo engraçado e criativo, homens modernos na faixa dos 40/50 anos a discutir questões que o afligem, sui generis!!

quarta-feira, 18 de junho de 2014

PELO MALO




Produção Venezuela, direção de Mariana Rondón, o filme Pelo Malo (significa cabelo ruim) é uma agradável surpresa para quem assiste.
Drama fala de preconceito, racismo, homofobia, e como o amor de uma mãe reage a esses conceitos. Fala de injustiça social, onde o poder subjuga os mais fracos, e também o papel da mulher numa sociedade machista, que a enfraquece  numa desigualdade social.
O drama conta a história do menino Júnior (Samuel Lange Zambrano), que mora com sua mãe Marta  (Samantha Castillo) e seu irmãozinho de poucos meses.
Com dificuldades de sobrevivência, vemos uma mãe que ficou viúva, que luta para manter o seu emprego de vigilante e tem que conviver com a miséria, além de não aceitar o jeito de ser diferente de seu filho. Júnior tem cabelos encrespados e sonha em alisar os cabelos. Enquanto os outros meninos gostam de jogar bola, Júnior prefere brincar com as meninas e quer ser cantor e ator. Sua avó Carmen (Nelly Ramos) dá força aos devaneios do neto, o que incomoda ainda mais a mãe de Júnior.
Martha, uma mulher determinada e agressiva, até pelo próprio trabalho que exerce de vigilante, é confrontada o tempo inteiro pelo comportamento estranho do filho, preocupada que ele seja gay. O amor desta mãe é grosseiro, sem toques de carinho, quase odioso pelo fato do filho ter um comportamento ¨diferente¨, e na sua ignorância, imagina que tratando-o desta forma agressiva, ele se ¨tornará um homem¨, conforme ela mesma cita.
Como pano de fundo vemos a miséria de um país, a pobreza nas favelas de Caracas, o papel determinante das instituições sociais como Escola e Igreja na vida das pessoas. O filme tem um olhar sócio-cultural com um significado enorme no drama desta família, aliado ao preconceito e a ignorância.
Os atores Samantha Castillo e Samuel Lange Zambrano como a mãe Marta e o filho Júnior são consistentes nas falas e ainda mais nos olhares. O garoto Júnior tem um peso enorme nesta história e o ator segura de forma incrível, com uma atuação forte e definida.
O drama mostra o mundo injusto pela visão que mãe e filho enxergam, sem críticas, afinal, eles estão juntos e ao mesmo tempo em mundos pessoais opostos. A cena final do filme é cruel, realista e até compreensível pela dinâmica, pela maneira de ser e do comportamento de mãe e filho. Uma relação hostil e preconceituosa, cheia de insatisfações de ambos os lados.
Mas no filme não há julgamentos de comportamento e isto deixa a plateia à vontade para torcer pelo entendimento de mãe e filho, e que o amor que existe consiga fluir neste núcleo familiar, em que a própria sociedade oprime e os afeta.
Ganhou o Premio Concha de Oro no Festival de San Sebastian/ 2013.


domingo, 15 de junho de 2014

A CULPA É DAS ESTRELAS

Com força total chega às telas o longa A Culpa é das Estrelas, direção de Josh Boone, adaptação do livro homônimo do escritor John Green, best-seller que mexe com os corações principalmente dos adolescentes, uma reprodução coerente em emoção e fidelidade à narração deste livro, um dos mais vendidos dos últimos tempos.
O melodrama conta a história da adolescente Hazel Grace Lancaster (Shailene Woodley), que luta contra um câncer de tireóide em fase terminal. Em terapia psicológica com um grupo de apoio, Hazel Grace conhece  Augustus Waters ( Ansel Elgort), um jovem otimista e espirituoso, portador de câncer ósseo. Os dois se apaixonam e mesmo com suas limitações e um futuro cheio de interrogações, decidem viver o momento presente e a descoberta do primeiro amor de forma intensa e apaixonada.
Esses dois jovens têm visões diferentes da vida e da forma de enfrentar a doença. Enquanto   Hazel Grace, uma jovem amadurecida e altruísta, vive reclusa e  preocupada com a dor de seus pais e como eles ficarão quando ela se for deste mundo, o irreverente Augustus quer viver intensamente a vida e tem interesse em deixar sua marca na terra, para lembrarem sempre dele quando morrer.
Uma produção inteligente neste love story moderno tipo Romeu e Julieta, só que neste caso os empecilhos de viverem o infinito amor não é por impedimento da família, mas da própria vida com seus infortúnios e suas ciladas. Este filme conseguiu levar às telas a magia do livro, jovens encantadores que decidem vivenciar o primeiro amor, sabendo que têm prazo de validade. Apesar da doença e da terrível sensação de que a vida se esvai, eles transmitem alegria e o humor da juventude através da dor.
Neste drama as situações e diálogos fluem com leveza, apesar da intensidade do tema, soando romântico sem ser piegas. E explora assuntos atuais e fortes, como a luta de pessoas jovens contra esta doença considerada o mal do século, a importância do apoio familiar e grupos de ajuda, a descoberta do primeiro amor. E o quanto é importante estar aberto às pessoas e à vida, mesmo em fases tão tumultuadas como a dos personagens Hazel Grace e Augustus.
O diretor acertou em cheio ao escolher os jovens atores Shailene Woodley e Ansel Elgort (atuaram no filme Divergente) para os  papeis principais; eles possuem ótima química, agem com naturalidade, sem apelar nem constranger. Suas atuações comoventes com certeza arrancarão lágrimas e suspiros da plateia.
Com bela fotografia e trilha sonora fiel ao tema, este drama consegue equilibrar um tema pesado e dramático com momentos espirituosos, com certa leveza e muito romantismo, prato feito para os adolescentes, mas que agrada a todas as idades.
Um filme que mexe com nossos sentimentos, estes jovens  nos ensinam a lidar com questões tão sérias de forma tão amadurecida, e mostra como a vida é bela, simples e o ser humano complica. Que nem uma doença é capaz de destruir o amor e o otimismo das pessoas, a importância de lutar e seguir em frente, e mesmo quando as tempestades aparecem, o caminho tem que ser trilhado de forma grandiosa. 
O importante não é a extensão, mas o que se faz com a riqueza de uma vida. E a maior marca que deixamos neste mundo é através do amor e dos atos de altruísmo e solidariedade.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

MALÉVOLA


Malévola (Fantasia/EUA), direção de Robert Stromberg, especialista em efeitos visuais (ganhou Oscar de Diretor de Arte nos filmes Avatar e Alice no País das Maravilhas), e tendo a atriz Angelina Jolie como protagonista e produtora, já é de se esperar uma produção diferenciada, com grandes efeitos visuais.
Bem interessante conhecer o ponto de vista da vilã Malévola nesta história tão conhecida do público, A Bela Adormecida.
Malévola (Angelina Jolie) era uma fada boa e pura, protetora do reino dos Moors, mas se tornou uma mulher amargurada e vingativa quanto foi traída pelo seu amor Stefan (Sharlto Copley), que a preteriu pelo trono do reino dos humanos.
Stefan se tornou rei e ao nascer a sua filha, a princesa Aurora (Elle Fanning), Malévola lançou uma maldição à princesa, que obrigou o rei a esconder Aurora até os 16 anos. E Malévola acompanhou o desenvolvimento de Aurora, e passou a nutrir um sentimento de amizade e amor pela princesa.
Com um toque sombrio que em determinados momentos amedronta, o filme  impressiona e empolga pelo bom roteiro, com uma trilha sonora tocante relacionada à ambientação do filme. Com efeitos visuais de qualidade, dá gosto de acompanhar principalmente em 3D, um visual sedutor e divertido com bom ritmo, apesar de, em certa altura, diminuir a tensão, no final o clímax é muito empolgante e cheio de ação.
Vemos seres fantásticos, fadinhas em miniatura, dragões gigantes, em especial a muralha de espinhos feita por Malévola, refletindo todo seu ódio e amargor pelo mundo dos humanos; e a levitação da princesa Aurora é muito bem feita, digna de nota.
A atriz Angelina Jolie ganha a cena no papel da vilã Malévola, com seu talento e beleza ela humaniza a personagem central e dá peso à trama. Com seu olhar, seus gestos, risos, gritos, ela confere um carisma impecável, não conseguimos visualizar outra atriz para ser esta vilã.
Entretenimento para crianças e adultos, e fica uma lição no término do filme, a importância de crer no amor e nas pessoas, mas que em tudo na vida existe os dois lados da moeda. Importante não guardar ódio e rancor no coração, pois pode levar à sede de vingança. Que o amor verdadeiro existe, mas nem sempre é da forma que imaginamos, é o que nos mostra esta fábula em que a protagonista é uma vilã que termina sendo uma anti-heroína, uma reviravolta interessante na abordagem do belo conto A bela Adormecida.


domingo, 8 de junho de 2014

UMA FAMILIA EM TÓQUIO


O filme Uma Família em Tóquio, direção do cineasta Yoji Yamada (O Samurai do Entardecer /2002), é uma releitura da obra prima de Yasujiro Ozu, ¨Era uma Vez em Tóquio¨(1953), este referencial já nos leva a comparação entre o clássico original e a obra atual.
Com algumas mudanças na história original, observamos neste longa o Japão do século XXI, onde o trabalho e o estudo tornam a vida das pessoas acelerada, sem muito tempo para a família e as tradições estão sendo preteridas pelo modernismo.
Conta a história de um casal de idosos que mora no interior do Japão e decidem passar uns dias em Tóquio, com a pretensão de rever seus filhos e netos.  Os dois filhos mais velhos são casados e trabalham em sua própria residência, o mais velho é médico e a filha tem um salão de beleza. O filho mais novo não tem emprego fixo, fugindo do padrão tradicional de vida de seus irmãos, e por isto é sempre marginalizado pela família.
O pai Noriko (Yû Aoi) e a mãe Masatsugu (Satoshi Tsumabuki) de imediato percebem que seus filhos não têm tempo para dedicar a eles, devido à  vida atribulada que levam, uma rotina típica das grandes metrópoles. Chegam até a reservar um hotel para seus pais se hospedarem, visando facilitar a vida deles.
Um drama delicado e com enorme carga emocional, que tenta mostrar com certa sutileza a tradição japonesa e o quanto a família se enquadra neste contexto atual. É o retrato de 2 gerações, cada qual tentando se adequar ao mundo moderno, onde as tradições e os elos familiares vão se modificando, diante do consumismo e da ânsia de viver o presente, colocando o trabalho e demais afazeres em primeiro ângulo.
Com ritmo lento e melancólico, vemos uma Tóquio agitada com suas luzes artificiais, contrastando com o colorido da ilha onde o casal mora. Com um bonito visual, boa fotografia anexo a uma trilha sonora suave, que nos envolve nesta crônica de vida em família.
Com atores bem entrosados, em especial a figura da mãe que é de uma delicadeza e singularidade ímpar. Os diálogos entre o casal é algo tocante, onde ela sempre ameniza e enfatiza o lado otimista e positivo diante da rigidez do seu esposo perante seus filhos, em especial o mais jovem, que tem conflitos com o pai desde a infância. O momento de intimidade da mãe com a sua futura nora, a namorada deste filho, é de uma singeleza e ternura indescritível. Com certeza várias mães se espelharão nesta doce e sábia mulher.
Este drama carrega na emoção, na cumplicidade, na delicadeza, na força da família  neste mundo conturbado que vivemos, e o peso e o papel significativo da mãe no contexto familiar.
¨Quando você deseja ser um bom filho, seus pais já se foram¨. Uma das falas do filho mais jovem, algo para nos fazer parar neste mundo tão confuso e repensar nossos valores perante a vida e nossa família.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

EU, MAMÃE E OS MENINOS



A comédia Eu, Mamãe e os Meninos bateu recorde de bilheteria na França e tem direção e roteiro de Guillaume Gallienne, que também é o protagonista desta história dramática da vida pessoal do diretor estreiante, que expõe sua vida sem pudor, de maneira interessante e hilária.
Uma combinação de teatro e cinema, uma espécie de peça monólogo do ator diante de uma plateia de teatro. Idealizada inicialmente para o teatro e, devido ao sucesso, foi adaptada  para o cinema.
O ator Guillaume Gallienne interpreta de forma magistral diversos personagens, ele próprio em várias idades, a mãe, a imperatriz Sissi, enfim, um ator camaleônico. Este ator recentemente fez o papel de Pierre Bergé, o companheiro de YSL,  no filme Yves Saint-Laurent.
Inspirado na história de vida do autor, que foi criado de forma ¨diferente¨ pela mãe Babou (até na maneira de se referir a ele, daí o título do filme), que desde a infância o enxergava como homossexual,  gerando preconceito e até bulling  dos familiares, na escola, com os amigos.
Todo esse universo é exposto de forma transparente, uma paródia narcisista, onde o ator vai construindo os personagens, uma espécie de ensaio teatral, numa exposição dos problemas que sofreu como a  super proteção da mãe, a rejeição do pai (André Marcon), dificuldade em assumir sua sexualidade, temas fortes colocados de forma histriônica. Todos esses conflitos gerou uma confusão na cabeça do personagem, que vai em busca de sua identidade sexual já na fase adulta.
Comédia populesca que nos leva ao riso frouxo com assuntos sérios, e ao mesmo tempo nos faz refletir, apesar de momentos tediosos, talvez pela falta de outros personagens. Fica a questão, como alguém consegue expor algo tão sério e dramático de sua vida de forma tão hilária, que refletiu no seu futuro e o transformou como ser humano?
Destaque do Festival de Cinema Francês, ganhou cinco troféus, entre eles o  César de Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator.

domingo, 1 de junho de 2014

FLORBELA


Produção portuguesa com direção do cineasta Vicente Alves do Ó, Florbela conta a cinebiografia da grande poetisa portuguesa Florbela Espanca, passado no século XX.
Um drama em potencial, o filme tem a intenção de mostrar o sofrimento desta mulher, a sua busca incessante em viver intensamente o amor, um mulher acima do seu tempo, que desde cedo se interessou pela arte da poesia.
Florbela Espanca  (Dalila Carmo) nasceu em Vila Viçosa, Portugal, e tentou viver uma vida plena, ansiosa por amor; teve uma vida sofrida, sentimentos íntimos que a transformaram e a levaram para a literatura. Sua 1ª. Obra ¨Livro das Mágoas¨(sonetos) denota sua inquietude e neuroses que a atormentavam desde jovem. Morreu aos 36 anos,  e o trágico acidente de avião que ceifou a vida do seu irmão Apeles (Ivo Canelas), foi devastador na sua vida.
Com bom figurino e ambientação de época, o filme se revela um verdadeiro dramalhão, uma típica novela portuguesa, com ritmo lento que em certos momentos, entedia a plateia. Com emoção exacerbada, trilha sonora excessiva, mostra a vida trágica de Florbela Espanca, o seu casamento com o médico Mário Lage (Albano Jerônimo), a cumplicidade e amor exagerado pelo irmão Apeles.
Na verdade, no filme conhece-se a mulher cheia de neuroses que se tornou Florbela e pouco retrata a poetisa portuguesa, sente-se falta dos seus versos durante o filme ( só no final, uma pequena amostra). Ou seja, quem não conhece a biografia desta grande poetisa, sai do cinema sem ter a real noção do seu valor na literatura portuguesa. Fica nítida a intenção de mostrar o sofrimento de Florbela e o porque só conseguimos desvendar nos últimos créditos do drama.
A atriz Dalila Carmo assume a personalidade da poetisa de maneira autêntica, uma mulher que, mesmo contra os costumes da época, tentou viver uma vida plena, apesar de tanta angústia e tristeza que a cometeu, devido problemas familiares. E seus versos falam através da sua alma.
¨Não tenhas medo, não! Tranquilamente,
Como adormece a noite pelo outono,
Fecha os olhos, simples, docemente,
Como à tarde uma pomba que tem sono¨... (pela memória de seu adorado irmão).