quarta-feira, 25 de junho de 2014

O LOBO ATRÁS DA PORTA


O cinema nacional brinda o público com o filme O Lobo atrás da Porta, direção e roteiro de Fernando Coimbra, conhecido por curtas metragem de qualidade. Neste seu primeiro longa, levou o troféu de Melhor Filme da Mostra Horizontes Latinos, no Festival de Cinema de San Sebastian (Espanha).
Um drama/suspense, como um quebra-cabeça temos a reconstrução do sequestro de uma criança, onde os envolvidos são a sua própria família e a amante, assim como tantos folhetins policiais diários que mexem com a imaginação, espanto e indignação popular. Onde cada personagem envolvido conta ao delegado (Juliano Cazarré) o seu lado nesta história mostrado em flashbacks, e é incrível que ao conhecer as  pessoas, fazemos um pré julgamento e aos poucos esta visão vai se modificando, e mostrando como eles realmente são.
Com um bom roteiro,conta a história da menina Taninha que desaparece, várias versões são expostas ao delegado, como o pai Bernardo (Milhem Cortaz), a pacata mãe Silvia (Fabiula Nascimento), que dão queixa do sumiço da criança. Depois de conhecer os fatos pelo ângulo de cada participante da história, a principal suspeita recai sobre Rosa (Leandra Leal), uma jovem na faixa dos 25 anos, que se tornou amante de Bernardo.
Com ótima direção, fotografia de qualidade, onde os fatos são contados e sugeridos nesta maquiavélica história, sem aparecer cenas chocantes; em alguns momentos a plateia entende o significado das ações através do som e imagens distorcidas, o que leva a nossa imaginação e indignação a fluir.
Os atores em geral estão irrepreensíveis em seus respectivos papeis, como Juliano Cazarré  interpretando o delegado inquisidor com seu humor sarcástico, a atriz Fabiula Nascimento como a mãe Silvia, uma pessoa serena e até ingênua, ao ponto de se tornar amiga de Rosa.
Mas quem realmente brilha e rouba a cena é a atriz Leandra Leal no papel da amante Rosa, uma personagem dúbia, que foge do estereótipo ¨da outra¨, com momentos de doçura outros de sedução, uma vítima e algoz de uma situação, prisioneira de uma teia que ela mesma teceu, cujo amargor leva à uma situação inescrupulosa. Impressiona seu olhar e gestos de menina doce ou mulher fatal, quando assim deseja. A cena final é tão verossímil, todo focado no seu rosto, que choca e agride a plateia. Merecido prêmio de Melhor Atriz no Festival do Rio 2013.
Filme instigante, um suspense exposto de forma inteligente através de um drama familiar onde os segredos vão sendo expostos, expiados e desvendados, dando um novo significado na investigação policial. Com uma abordagem humana, mostrado com sarcasmo e até algumas gotas de humor, que nos leva a um riso nervoso, talvez para diluir um drama tão atroz, como o sequestro de uma criança.
Atos impensados influenciam a história de vida das pessoas, e muitas vezes o mal que existe no íntimo supera o bem, e perde-se a noção de realidade e justiça, o amargor aprisiona o ser humano tornando-a vítima e algoz, mas em toda vingança os dois lados saem feridos.
Por trás de cada cordeiro, um lobo está à espreita. Cabe a cada um, conter o seu lobo.




 



Um comentário:

  1. Nossa, é o caso da "fera da Penha"? Foi nos anos 60, eu era criança, mas nunca esqueci o fato nem a foto da criminosa estampada em O Cruzeiro.

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