Merecedor do Oscar 2014 de Melhor Filme, o drama 12 Anos de
Escravidão, do diretor inglês Steve MacQueen (Shame/2011) e roteiro de John Ridley (Oscar 2014 de Melhor Roteiro Adaptado), este épico histórico é
baseado em livro de memórias do próprio Solomon Northup.
Narrado pelo protagonista, assistimos um relato sensível e
de uma crueza de doer a nossa alma, com uma força visceral mas sem forçar a
emoção, pois tudo que aconteceu é real e fez parte da história dos EUA por 240
anos, tempo que durou o Sistema Escravagista deste País.
Baseado na história real do negro norte-americano Solomon
Northup ( Chiwetel Ejiofor), um violinista clássico, culto, casado e pai de dois
filhos, que vivia no norte dos EUA, onde a escravidão era proibida. Através de
uma oferta de trabalho que na verdade era uma armadilha, Solomon é seqüestrado
e vendido como escravo em Louisiana, em 1841. A partir deste preâmbulo o que vemos na
tela é todo tipo de humilhação, violência física e moral e total submissão que
este personagem passa junto com outros negros. Os horrores da escravidão são
mostrados com tanto vigor em imagens que dispensa palavras, pois é praticamente
impossível expressar tanto sofrimento sobre um sistema tão cruel como a
escravatura.
Observar um homem livre passar por uma experiência de tanta
humilhação e sofrimento, onde perde o direito até sobre sua própria identidade e passa
a ser uma mercadoria de um senhor e amo soberano. ¨Dizer a ninguém quem eu sou,
é assim que se sobrevive? Prefiro não sobreviver¨, diz Solomon com olhar de
espanto e indignação diante do que vê e sente a partir do momento que perde sua
liberdade. E para conseguir sobreviver a uma situação tão cruel e vulnerável,
os negros tinham que sufocar seus pensamentos e sofrimento pessoal pela própria
sobrevivência, diante das chicotadas e do desdém de ¨seus donos¨. Como diz a esposa de um senhor a uma escrava
que soluça desesperadamente ao se separar de seus filhos :¨logo você se esquecerá
deles¨.
Um filme de veracidade torturante, com uma força histórica realista , que
nos mostra a ferida e os feridos, dando um misto de asco e impotência à plateia que supera a emoção,
diante de tanta violência contra a dignidade humana.
O protagonista Solomon trabalhou como escravo por 12 anos em
fazendas de cana e algodão e o ator Chiwetel Ejiofor dá uma interpretação digna
ao personagem. Assim como os atores Michael Fassbender (intérprete de Shame) e
Benedict Cumberbatch desempenham seus papeis de forma realista como os senhores
feudais, que chegamos a sentir revolta desses personagens. O ator Brad Pitt, Produtor do filme, faz uma pequena participação como o canadense Bass,
que não aceita o regime escravagista.
A atriz Lupita Nyong’o no papel da escrava Patsey nos brinda
com uma interpretação estupenda. Escrava desejada e odiada pelo seu
amo Edwin Epps (Michael Fassbender), estrupada e espancada cruelmente por
ele, numa das cena mais tristes do filme. O sofrimento desta escrava é tamanha
que ela suplica a Solomon que tire a sua vida, em momento de grande expressividade. Muito bem merecido o Oscar 2014 de Melhor Atriz Coadjuvante.
A fotografia é espetacular, tem momentos que a câmera
enquadra os negros que trabalham nas plantações e segura a imagem por alguns segundos, um
verdadeira pintura, como a nos dar fôlego diante de tanta barbárie.
Filme de força incomum, sensível e ao mesmo tempo mostra uma
crueldade que incomoda, através da história comovente do negro Solomon, nos
leva a repensar e analisar um período negro da história dos EUA, e como foi
possível manter a escravatura por tantos anos. Ver na tela a transformação de
um ser humano livre em escravo, a exploração da mão de obra, espancamentos e
humilhações diárias, é algo perturbador e revoltante, que toma o lugar do choro.
¨Só posso comparar meu sofrimento às agonias flamejantes do
inferno¨, palavras de Solomon , um negro livre vendido como escravo,
assim como vários outros negros nesta mesma situação.
A Abolição da Escravatura nos EUA aconteceu em 1863 pelo
Presidente Abraham Lincoln. No Brasil foram quatro séculos de escravidão com
quase 5 milhões de prisioneiros.
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