quinta-feira, 13 de março de 2014

12 ANOS DE ESCRAVIDÃO





Merecedor do Oscar 2014 de Melhor Filme, o drama 12 Anos de Escravidão, do diretor inglês Steve MacQueen (Shame/2011) e  roteiro de John Ridley (Oscar 2014 de Melhor Roteiro Adaptado), este épico histórico é baseado em livro de memórias do próprio Solomon Northup.
Narrado pelo protagonista, assistimos um relato sensível e de uma crueza de doer a nossa alma, com uma força visceral mas sem forçar a emoção, pois tudo que aconteceu é real e fez parte da história dos EUA por 240 anos, tempo que durou o Sistema Escravagista deste País.
Baseado na história real do negro norte-americano Solomon Northup ( Chiwetel Ejiofor), um violinista clássico, culto, casado e pai de dois filhos, que vivia no norte dos EUA, onde a escravidão era proibida. Através de uma oferta de trabalho que na verdade era uma armadilha, Solomon é seqüestrado e vendido como escravo em Louisiana, em 1841. A partir deste preâmbulo o que vemos na tela é todo tipo de humilhação, violência física e moral e total submissão que este personagem passa junto com outros negros. Os horrores da escravidão são mostrados com tanto vigor  em imagens que dispensa palavras, pois é praticamente impossível expressar tanto sofrimento sobre um sistema tão cruel como a escravatura.
Observar um homem livre passar por uma experiência de tanta humilhação e sofrimento, onde perde o direito até sobre sua própria identidade e passa a ser uma mercadoria de um senhor e amo soberano.  ¨Dizer a ninguém quem eu sou, é assim que se sobrevive? Prefiro não sobreviver¨, diz Solomon com olhar de espanto e indignação diante do que vê e sente a partir do momento que perde sua liberdade. E para conseguir sobreviver a uma situação tão cruel e vulnerável, os negros tinham que sufocar seus pensamentos e sofrimento pessoal pela própria sobrevivência, diante das chicotadas e do desdém de ¨seus donos¨.  Como diz a esposa de um senhor a uma escrava que soluça desesperadamente ao se separar de seus filhos :¨logo você se esquecerá deles¨.
Um filme de veracidade torturante, com uma força histórica realista , que nos mostra a ferida e os feridos, dando um misto de asco e impotência à plateia que supera a emoção, diante de tanta violência contra a dignidade humana.
O protagonista Solomon trabalhou como escravo por 12 anos em fazendas de cana e algodão e o ator Chiwetel Ejiofor dá uma interpretação digna ao personagem. Assim como os atores Michael Fassbender (intérprete de Shame) e Benedict Cumberbatch desempenham seus papeis de forma realista como os senhores feudais, que chegamos a sentir revolta desses personagens. O ator Brad Pitt,  Produtor do filme, faz uma pequena participação como o canadense Bass, que não aceita o regime escravagista.
A atriz Lupita Nyong’o no papel da escrava Patsey nos brinda com uma interpretação estupenda. Escrava desejada e odiada pelo seu amo Edwin Epps (Michael Fassbender), estrupada e espancada cruelmente por ele, numa das cena mais tristes do filme. O sofrimento desta escrava é tamanha que ela suplica a Solomon que tire a sua vida, em momento de grande expressividade. Muito bem merecido o Oscar 2014 de Melhor Atriz Coadjuvante.
A fotografia é espetacular, tem momentos que a câmera enquadra os negros que trabalham nas plantações e segura a imagem por alguns segundos, um verdadeira pintura, como a nos dar fôlego diante de tanta barbárie.
Filme de força incomum, sensível e ao mesmo tempo mostra uma crueldade que incomoda, através da história comovente do negro Solomon, nos leva a repensar e analisar um período negro da história dos EUA, e como foi possível manter a escravatura por tantos anos. Ver na tela a transformação de um ser humano livre em escravo, a exploração da mão de obra, espancamentos e humilhações diárias, é algo perturbador e revoltante, que toma o lugar do choro.
¨Só posso comparar meu sofrimento às agonias flamejantes do inferno¨, palavras de Solomon , um negro livre vendido como escravo, assim como vários outros negros nesta mesma situação.
A Abolição da Escravatura nos EUA aconteceu em 1863 pelo Presidente Abraham Lincoln. No Brasil foram quatro séculos de escravidão com quase 5 milhões de prisioneiros. 



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