O filme Instinto Materno, produção romena do diretor Calin Peter Netzer, premiado com o troféu Urso de Ouro no Festival de Berlim 2013,
confere uma trama familiar densa e pesada sobre a relação de mãe e filho,
quando os limites não são preservados.
No papel da mãe dominadora Cornelia Kerenes, a atriz
Luminita Gheorghiu é de uma veracidade e interpretação excelente, contrapondo
ao filho Barbu (Bogdan Dumitrache), uma pessoa fora de prumo e desgostoso com a sua própria vida.
Barbu é um homem na faixa dos 35 anos, imaturo e
desnorteado, que não conseguiu se impor perante a vida, subjugado pela sua mãe
Cornelia, e cujo pai, Sr. Fagarasanu (Florin Zamfirescu) é figura insignificante neste núcleo familiar, devido ao poder dominador da mãe.
Barbu tenta uma vida com Carmen (Ilinca Gioia), uma mulher
divorciada e que sua mãe não suporta, pois não consegue aceitar e entender seu
filho fora de suas rédeas.
Devido a morte de uma criança em um acidente de carro cujo
autor foi Barbu, a mãe Cornelia reage como uma leoa, passando como um trator
por cima de tudo e de todos, inclusive da família da vítima. Esta mãe
desesperada usa o seu poder e fortuna para conseguir livrar o filho da prisão,
sem se atentar a sentimentos , usando de forma ilícita os poderes que possui perante as pessoas e o sistema social.
Com esta trama, o espectador percebe todo tipo de corrupção
e injustiça social, o domínio que as pessoas podem ter sobre outras devido a
hierarquia social e o quanto o dinheiro corrompe. Cornelia através do seu
poder, domina a sua família e compra as pessoas e o próprio sistema.
Um filme que fala de imposição de limites nas relações
familiares e o quanto isto interfere no desenvolvimento e caráter das pessoas. Uma
mãe altamente possessiva, cujo amor extremado pelo filho é motivo de desunião
entre os dois, pois caem na armadilha da dominação, perdendo-se a liberdade de
pensamento e ação. Uma mãe cujo amor é capaz de ferir valores éticos na esperança de ¨salvar o seu filho¨, mostrando as diferenças de classe na Romênia ou em outro país qualquer e as injustiças sociais.
Um filme denso, realista, com uma fotografia escura, o que
causa um certo desconforto à plateia. Com diálogos fortes e críticos,
principalmente entre mãe e filho, e uma figura paterna inexpressiva em um
ambiente dominado pela presença materna. É quando o amor perde a medida e
ultrapassa os limites da racionalidade, e nesta rede aprisiona as pessoas
envolvidas, tanto os submissos, mais ainda o dominante, trazendo infelicidade e
dificuldades nas relações em geral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário