segunda-feira, 29 de julho de 2013

ALÉM DO ARCO-ÍRIS




Com direção de Agnés Jaoui com parceria com seu marido Jean-Pierre Bacri, ambos atores também deste filme Além do Arco-Íris, onde interpretam os personagens Marianne e Pierre. A diretora é responsável por filmes como Uma questão de Imagem e O gosto dos Outros, que valem a pena assistir.
Este drama francês tem características de uma fábula ou conto de fadas, a partir das cores, do ritmo e das tramas  relacionadas, com várias personagens e histórias que se entrelaçam. Era uma vez...uma jovem romântica que acreditava no amor e sonhava encontrar seu príncipe encantado; um homem separado, amargurado, pessimista e racional, que não conseguia manter uma relação afetuosa com os familiares, e vivia atormentado por acreditar que tinha dia marcado para morrer, conforme previsão de uma vidente; um jovem músico e compositor gago que não acreditava no seu talento e que não se entendia com seu pai; uma mulher de meia idade que persistia no sonho de ser atriz; uma garotinha que acreditava em Deus e que não aceitava a separação dos pais...era uma vez...
Em todas as histórias há uma mistura do real com as fábulas, os contos de fadas e outras histórias infantis, com certo humor satírico e um romantismo que em certos momentos beira o ridículo, que nos diverte e faz sugerir que a realidade é bem diferente das fábulas, e que é preciso amadurecer e separar o real do imaginário. Mas que muitas vezes não enxergamos os sinais que a vida nos fornece e preferimos nos enganar, enxergando  ¨principe por sapo¨, ou melhor dizendo no real, gato por lebre.
Já nos créditos iniciais do filme observamos as cores e a fotografia, que nos leva a questionar se o filme se passa na vida real ou é uma fábula, com uma trilha sonora que combina com os flashes e diálogos, e com os personagens simples, uns românticos, outros realistas, e por aí vai se formando cada trama desenvolvida.a
A diretora usa a temática dos contos como Cinderela, Chapeuzinho Vermelho, para realizar um filme diferente, mas cuja  abordagem tem relação com a vida moderna, com toda a realidade que nos norteia, com imagens e conceitos sobre o amor, a família, amizade, insegurança e maturidade. Um momento super interessante quando o mocinho (príncipe ou sapo?) para acordar a jovem ( ou princesa?) Laura, dá uma bofetada na cara dela. Sente-se pena ou ela mereceu  para acordar do sonho que criou para si?
Os atores Agnes Jaoui, Jean-Pierre Bacri, AgatheBonitzer (no papel de Laura), Benjamin Biolay e Arthur Dupont têm uma boa química, onde todos os personagens têm um peso praticamente igual no decorrer do filme.
Um tipo de filme que ao término sentimos um gostinho amargo  e gostoso da realidade da vida, justamente por se diferenciar de filmes padrões, por nos levar a utilizar nossas próprias ideias para entendimento do real e do imaginário, vai depender do conceito de cada pessoa. Será que a vida pode ser um conto de fadas, eis a questão. Afinal, a vida está aí para ser vivenciada nos seus detalhes com valores pessoais e reais. E que não é nenhum conto de fadas, mas a beleza e o conteúdo depende do olhar de cada um.





sexta-feira, 26 de julho de 2013

O CAVALEIRO SOLITÁRIO





Com a direção de Gore Verbinski, responsável também pela direção dos três primeiros filmes de Piratas do Caribe, O Cavaleiro Solitário teve um orçamento de 250 milhões de dólares, e espera-se desta mega produção um retorno em bilheteria similar aos outros filmes.
A história é passada em Colby, no Texas, nos anos 1869, contada por um velho índio americano. Conta a história do advogado John Red (Armie Hammer) que ao retornar a sua cidade natal para trabalhar junto a seu irmão Dan, que é um dos xerifes da cidade, acaba assistindo a um massacre pelo bandido Butch Cavendish (William Fichter) e seu bando.Este bandido tem a fama de comer carne humana e mata o irmão de John Red e retira o seu coração.
John Red revoltado com o que assistiu, junta-se ao índio Tonto (Johnny Deep) e seu cavalo branco, com a intenção de capturar o bandido Butch Cavendish e levá-lo ao tribunal, com o intuito de fazer justiça. John também é apaixonado pela sua cunhada Rebecca (Ruth Wilson), que é capturada pelo bandido, juntamente com seu filho Danny.
Este filme envolve ação, aventura, faroeste e comédia, numa trama de 149 minutos, com momentos de muita diversão e ação, junto a um melodrama, recheado de piadas e humor sarcástico, uma versão engraçada do Zorro, parece que este foi o intuito do diretor, mas que termina se perdendo pelos exageros e pelo intrincado da história, que parece não levar a lugar comum.
A atuação de Johnny Deep é uma atração à parte, faz o índio Tonto interessante, se destacando como ator coadjuvante, mais que o protagonista, algo inevitável e previsível. Johnny Deep está brilhante na caracterização de um personagem singular, aquele jeito que ele faz tão bem de um personagem caracterizado e com trejeitos engraçado. Já Armie Hammer deixa a desejar como o mocinho John Red, meio perdido em um roteiro de muitas  reviravoltas do seu personagem.
Tem um momento muito singular e divertido, que fascina o público, quando o mocinho assume realmente o papel de herói e cavalga no seu cavalo branco (como Silver) sobre um trem em movimento ao som da música de abertura da ópera de Guilherme Tell . Esta realmente é uma cena empolgante, mas o filme se perde em sequências que retornam, ficando cansativo e chato, em alguns momentos. 
A trilha sonora é condizente com um filme de aventura e muita ação, e os efeitos especiais e técnicos são muito bem feitos, meio surreais, mas que funcionam bem no filme, apesar dos excessos que cansam e oscilam no filme, devido a trama que se torna muito arrastada.
Enfim, um filme com o roteiro de  Terry Rossio e direção de Gore Verbinski, e tendo como chamariz o ator Johnny Deep, tem todos os elementos que necessitam para quem gosta de superproduções de ação e drama, puxando para o lado cômico, e que a juventude e principalmente os fãs deste ator adoram e curtem demais, e uma grande bilheteria. Uma boa distração apenas é o que se pode esperar deste filme, nada mais!!





segunda-feira, 22 de julho de 2013

NOTA DE RODAPÉ





Esta comédia dramática israelense do diretor Joseph Cedar nos fala sobre os nuances e rancores nas relações familiares, quando pais e filhos têm o mesmo vínculo profissionalmente, gerando conflitos pessoais e no âmbito familiar quando há competitividade e falta de diálogo.
Este drama conta a história de rivalidade dos intelectuais Eliezer, o pai e Uriel Scholnik, o filho, ambos professores, escritores e pesquisadores do estudo do Talmude, o livro sagrado dos judeus. Mas enquanto o pai com dedicação exclusiva à profissão é esquecido, colocado no ostracismo e até odiado por outros intelectuais. Seu filho Uriel vive em plena glória do reconhecimento do seu talento literário, com vários livros como Best-Sellers, e é sempre procurado e bajulado no mundo acadêmico e pelo público, em geral. Por estas razões, pai e filho mantêm uma relação conflituosa, sem entrosamento devido vaidade ferida do pai e arrogância do filho.
A vida destes dois personagens vai passar por uma reviravolta quando Eliezer recebe uma ligação do Comitê de Premiação do Troféu Israel, prêmio concebido anualmente às grandes figuras de várias áreas, confirmando que naquele ano ele foi agraciado com tal prêmio. Na realidade houve um equivoco, pois o prêmio era para o livro do seu filho , que foi convocado às pressas para resolver esta questão. E eis Uriel no maior impasse da sua vida: dizer a verdade ao pai ou recusar este prêmio tão almejado no meio acadêmico, que o colocaria numa posição de maior destaque na sua profissão? Pois este sabe o significado do prêmio para seu pai e o desgaste na relação familiar.
O ator Shlomo Bar-Aba faz o papel de Eliezer Scholnik, um pai amargurado, e este sentimento ele repassa para a família, inclusive para o filho, a quem desdenha, sentindo-se mais humilhado por não ter o prestígio do filho, discordando dos textos que este escreve.O filho Uriel Scholnik (interpretado pelo ator Lior Ashkenazi) por sua vez mescla um sentimento de orgulho e ressentimento pelo pai, e tudo só piora com a indecisão de dizer a verdade para o pai e o medo de aumentar ainda mais a distancia entre os dois.
Ambos trabalham de forma magistral, dois personagens difíceis de digerir, ambos intragáveis na maneira de agir, que não conseguem se ajustar, vivem em disputa, sem conseguir colocar a afeição acima da vaidade e do rancor.
O filme tem um lado dramático que nos faz repensar os valores da família, os egos inflados, o poder e os ensinamentos dos pais perante o futuro dos filhos, as frustrações adquiridas pela vida e o quanto este conflitos pessoais pesam perante a família. De humor irônico e até sombrio, mostra a fogueira das vaidades no meio acadêmico, tendo a inveja e a forte concorrência em relação à competência, e o peso da integridade diante da notoriedade pública. E nos instiga de forma inteligente, a refletir outras várias facetas da vida familiar, do poder e do peso das profissões quando pai e filho disputam a mesma área. Enfim, um filme de humor ácido, ousado, mostrando que muitas vezes o que não está dito, como uma nota de rodapé, fala muito mais pelo que é sentido.
Sentimentos como a admiração, o rancor e a inveja se entremeiam de tal forma nesta complicada relação de pai e filho, onde o suspense e o drama se unem a comédia, e cria um impasse com o espectador, que não consegue torcer por um final feliz ou por um final dentro da lógica da realidade impiedosa que o diretor nos infligiu.
O filme tem o título Nota de Rodapé, pois a única citação da vida acadêmica do pai foi justamente uma nota em um livro de um famoso intelectual, sendo este grande motivo de orgulho, e em contra partida a não aceitação e o conflito pela projeção do filho no meio acadêmico.
O competente diretor Joseph Cedar é também responsável pela direção do  filme  Beaufort ( 2007).
Indicado ao Oscar 2012 de Melhor Filme Estrangeiro. Vencedor do Premio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes 2011.





sexta-feira, 19 de julho de 2013

CONFISSÕES DE UM JOVEM APAIXONADO




O filme Confissões de um jovem apaixonado tem direção e roteiro da diretora e atriz francesa Sylvie Verheyde, um drama adaptado do romance de Alfred de Musset, em coprodução com a Alemanha.
Ambientado em Paris dos anos 1830, conta as desventuras de amor do jovem burguês Octave que leva uma vida ociosa e após uma decepção amorosa com sua namorada, que o trai com seu melhor amigo, passa a viver uma fase de orgia e depravação, em meio a mulheres, sexo e drogas. Com a morte do seu pai, Octave viaja ao interior onde decide passar um tempo refletindo sobre o amargor da desilusão e aí conhece uma jovem viúva Brigitte, dez anos mais velha que ele, e o jovem se apaixona desesperadamente por ela.
Apesar do romance ser criticado  pelas pessoas devido a diferença de idade, um grande preconceito da época, eles insistem em manter este romance, e o jovem Octave se depara com as incertezas do amor, a oscilação de se manter entre o desejo do coração e a razão.
Este é um filme clássico, uma reconstrução de época passada no período das guerras napoleônicas, cujo objetivo do romance é justamente falar sobre o amor e a inconstância de um jovem, o desejo e o desespero de amar apesar da falta de maturidade e dos preconceitos da época.
O ator Pete Doherty, ex vocalista da banda de rock inglesa The Libertines, vive o papel do jovem Octave, com seu cabelo sempre descabelado e andar cambaleante, com expressão de tédio constante, não convence e não consegue dar vigor ao personagem.
 Já no papel da viúva Brigitte temos a boa atriz Charlotte Gainsbourg , que atuou no filme Anticristo. Falta química e vigor entre os dois personagens, e isto fica bem nítido durante o filme, distanciando o espectador da história, tornando o filme insosso e desmotivador.
Esta peça burlesca de 120 minutos com diálogos fracos e ritmo lento, cenários sem graça,  realmente sem identificação e não consegue emplacar o toque que a direção deseja.
Este filme que fala sobre o amor, a razão de existir e a infidelidade, infelizmente não consegue comover a plateia , principalmente pelo personagem principal, um verdadeiro equívoco na escolha da estrela de indie rock Pete Doherty.
Filme indicado ao Un Certain Regard Award do Festival de Cannes 2012.





terça-feira, 16 de julho de 2013

TRUQUE DE MESTRE





O diretor do filme Truque de Mestre, Louis Leterrier é responsável também por filmes de ação e de super produções como Fúria de Titãs, Carga Explosiva, Cão de Briga e O Incrível Hulk. Neste filme ele utiliza a mágica e o ilusionismo como forma de captar a atenção e o interesse do espectador, onde combina ação, produção de grande porte e muita diversão com truques de mágica.
Logo no início este suspense mostra que seu objetivo é impressionar, apresentando quatro mágicos, cada um com uma característica própria especial, em um verdadeiro espetáculo de grandes artistas, que por alguma razão incógnita, daí o suspense, são reunidos por uma pessoa misteriosa que não é identificada,  para realizarem  espetáculos de mágicas monumental, visando sempre o roubo de grandes bancos e repassando o dinheiro para o público presente.
Os mágicos escolhidos são Woody (Merritt Mckinney) como um hipnotizador que só visa lucro; Daniel Atlas (Jesse Eisenberg), um mágico famoso por seus truques diferenciados; Henley (Isla  Fisher), que já foi ajudante de palco de Daniel e apresenta shows também; e Jack (Dave Franco), um mágico de rua e aproveitador de seus truques.
O milionário Arthur (interpretado por Michael Caine) resolve produzir os shows deste quarteto codenominado Os Quatro Cavaleiros e estes passam a atrair milhares de pessoas a estes eventos. E temos o ator Morgan Freeman no papel do mágico aposentado Thaddeus Bradley na contramão da história, especializado em desvendar os segredos dos truques de outros mágicos.
Este grupo passa a ser perseguido pelo FBI, na figura do agente Dylan ( Mark Ruffalo, ator do lindo filme Brilho eterno de uma Mente sem Lembrança) e da agente francesa da Interpool, Alma (Mélanie Laurent, de Bastardos Inglórios).           
E a partir desta trama, temos um filme estupendo de ação e suspense, onde o espectador tende a torcer pelos mágicos que ludibriam a polícia o tempo inteiro, este é o verdadeiro truque do filme. Com uma trama confusa e o final a desejar, fica-se com um espetáculo de ilusionismo e mágica surreal, que por si só já vale a pena ter assistido, um filme típico de entretenimento com direito a pipoca. De preferência em salas de cinema com telas grandes, como a assistir um verdadeiro espetáculo, levando-nos a uma ilusão de ótica literalmente.
Os diálogos são rápidos assim como o ritmo do filme, cheio de charadas, mistério, reviravoltas, em clima de suspense e ação inquestionável. E uma trilha sonora que acompanha e persegue a dinâmica e o ritmo alucinante do filme. Não tem como não ficar atento e extasiado nas apresentações dos Quatro Cavaleiros, mesmo percebendo que são truques inverossímeis. E a interação dos atores é realmente fantástica, nos fazendo crer que além de atores, são mágicos.
Com uma super produção, ótimos atores, recheado de ilusionismo e de adrenalina, o filme atinge o que pretende, prender a atenção do espectador com entretenimento e muita ação e mais ainda, mostrando os bastidores do universo das mágicas delirantes que ultrapassam o limite do verossímil. Há infelizmente, uma falta de conteúdo da história. Quem esperar mais do que isto, pode se decepcionar. Enfim, diversão e pipoca, e aproveite o show!!





domingo, 14 de julho de 2013

ANTES DO POR DO SOL




Este romance do diretor Richard Linklater, Antes do Por do Sol (2004), tem como protagonistas Jesse Wallace, interpretado pelo ator Ethal Hawke, e Celine, pela atriz Julie Delpy.
Este é o segundo filme do casal, como uma continuidade do primeiro, Antes do Amanhecer ( 1995), quando Jesse e Celine na idade dos 20 anos se conhecem em uma viagem de trem para Viena e vivenciam uma paixão tórrida de juventude, jamais esquecida por ambos.
Neste filme realizado 9 anos após o primeiro, Jesse Wallace, já um conhecido escritor americano, vai para Paris para o lançamento do seu novo romance onde narra justamente a história dos dois jovens. Celina vai na livraria onde acontece o evento e encontra  Jesse, depois desses anos todos sem se comunicarem.
Eles passam uma tarde juntos, conversando e discutindo sobre a vida de ambos, o significado do encontro na vida deles, e no fundo do coração, eles nunca se esqueceram e aquele encontro foi um despertar de consciência sobre a vida atual deles. Jesse está casado, tem um filho e vive um relacionamento infeliz. Celine trabalha para uma organização de proteção ao meio ambiente, namora um fotógrafo e é inconstante nos relacionamentos.
São 90 minutos de diálogo franco, direto, cada um se expondo para o outro com uma naturalidade incrível, ao mesmo tempo que andam pelas ruas de Paris, pelo Rio Sena, como se estivessem simplesmente passeando e conversando, como se o passado tivesse parado nestes nove anos e eles tivessem a reatar algo que ficou trancado em algum lugar do passado.
É interessante observar no primeiro filme uma paixão juvenil, inconseqüente, meio louca, sonhadora, de chegar ao ponto de marcar um encontro para 6 meses depois, mas sem sequer trocar telefone ou endereço. Já neste filme observamos pessoas com certa maturidade, com questionamentos sobre suas vidas, seus desejos e desilusões amorosas, ambos deprimidos e melancólicos, insatisfeitos, e há um sentimento de perda e ganho por este reencontro.E a chama do amor retorna para estas 2 pessoas, como uma nova chance de encontrar a felicidade.
Os atores Ethal Hawke eJulie Delpy têm uma interação cativante e envolvente, uma atuação de incrível naturalidade, e este segundo filme só faz afirmar a química que eles possuem e o quanto eles cresceram como atores após estes anos.
Belíssimo filme, um romance simples, direto, olho no olho, sem apelos cinematográficos, que nos faz repensar os valores da vida e o verdadeiro significado do amor. E o diretor sempre deixa um final aberto numa sugestiva construção do filme, deixando-nos questionar se eles continuarão aquele romance. Para saber, assista o terceiro filme Antes da Meia Noite (2013), realizado 9 anos depois deste filme, já postado neste blog.
Este filme foi indicado ao Oscar 2004 na categoria de Melhor Argumento Adaptado.





sexta-feira, 12 de julho de 2013

AUGUSTINE




Primeiro longa metragem da diretora Alice Winocou. Ela já realizou vários curta metragens (Kitchen/2004) e atuou como colaboradora nos roteiros de Ordinary People(2009) e Home(2008).
O drama francês Augustine é uma livre adaptação da história real de uma paciente importante, Louise Augustine Gleizes, do neurologista e cientista Dr. Jean-Martin Charcot, a partir dos seus arquivos médicos.   Dr. Charcot tem uma posição de destaque na história da Psiquiatria no que se refere aos distúrbios histéricos, doença causada provavelmente pela repressão, onde os ataques surgem sem motivo aparente, e tem na sexualidade um forte componente. Inclusive Dr. Charcot foi mestre do Pai da Psicanálise Sigmund Freud, quando este era um jovem estudante de Medicina.
O filme tem como tema central a histeria, doença misteriosa nesta época, cujo assunto já foi exposto em outros filmes como Um Método Perigoso e Histeria. Ambientado em Paris do século XIX, conta o drama de Augustine, uma jovem de 19 anos que trabalha como empregada doméstica em residência de luxo, e é acometida de crises de histeria, que aparecem sem motivo aparente, inclusive durante um jantar da família aristocrática.
Diante deste quadro Augustine é encaminhada ao Hospital Pisiquiátrico Pitié-Salpêtriere, onde o Prof.. Pierre Charcot, conceituado neurologista da época, estuda a histeria em mulheres, tentando desmistificar que seja um mal ligado à bruxaria, quando séculos antes, muitas mulheres foram queimadas em fogueiras por serem consideradas possuídas pelo demônio.
Dr. Charcot inicia um tratamento para histeria com Augustine, usando-a como cobaia em seus experimentos, inclusive com o uso da hipnose em demonstrações com platéia formada por seus colegas doutores, com o intuito de notoriedade e verba para sua pesquisa e instituição. A jovem com isso é constantemente exposta, inclusive o seu corpo.O médico passa a sentir-se dono da paciente e a usa como uma possessão. Com o passar do tempo, a jovem passa a ser mais que uma mera paciente, passa de objeto de estudo do renomado cientista para objeto de desejo.
Nos papeis principais temos o ator Vincent Lindon  interpretando Dr. Charcot e a atriz e cantora Stéphanie Sokolinski( mais conhecida como Soko) no papel de Augustine, em ótimas atuações, ele como um cientista frio e possuidor de vaidade e poder, e ela numa inconsistência de emoções, perdida na doença que a acomete, à mercê do domínio deste homem sobre a sua vida e o seu futuro. A atriz Chiara Mastroianni faz o papel de Constance, esposa do cientista, um papel secundário mas de peso na trama.
Um longa que no fundo fala sobre o desejo sexual e o poder, de forma sombria. O médico cientista com seu conhecimento e métodos fascinantes, como a hipnose, tem domínio total sobre a jovem Augustine, que torna-se uma cobaia, assim como o macaco de estimação que ele possui, uma metáfora. A jovem, objeto de trabalho do mestre, nem sequer tem o direito às perguntas e dúvidas sobre sua doença e seu tratamento.
É uma moeda de duas faces, ao mesmo tempo que a jovem é cativada, oferecendo tratamento médico e mais conforto, existe a crueldade da exposição no método utilizado e na frieza da relação com a paciente, que vai do medo à fascinação erótica. Enfim, de um lado o estudo, a observação, a razão, e do outro lado, o poder, a violência, o ímpeto sexual, o desejo sob a forma de dor e sofrimento diante das regras da sociedade.
Cenário e fotografia sombrios, intercalando com alguns momentos de luminosidade, figurino escolhido com precisão para a ocasião. A diretora dirige com sobriedade, diálogos curtos e secos num ambiente nebuloso, onde a sociedade burguesa era dominante. Para garantir autenticidade , foram utilizados verdadeiros doentes como figurantes no filme.
Este filme ganhou o prêmio Melhor Atriz e indicação Melhor Filme no Festival Mar Del Prata. Indicação ao prêmio Câmera de Ouro no Festival de Cannes 2012 e ao César 2013 como Melhor Filme de Estréia e Melhor Figurino.






segunda-feira, 8 de julho de 2013

ANTES DA MEIA NOITE




Este filme Antes da Meia Noite é o último da trilogia, o 1º.  Antes do Amanhecer em 1995, e o 2º. Antes do Por do Sol em 2004. Isso por si só já torna-se um motivo em assistir o filme, observar o desenvolvimento etário e a performance dos atores Ethan Hawke e Julie Delpy  interpretando os personagens principais Jesse e Celine, respectivamente. E o diretor Richard Linklater sabe trabalhar bem este clima de romance, cultivando a cada final de filme a curiosidade do espectador. É como se mostrasse os filmes em 3 atos e neste último confirmasse que o amor decidiu a vida deles.  Vale ressaltar que o filme Antes do Amanhecer recebeu o troféu Leão de Prata de Melhor Diretor. E o filme Antes do Por do Sol foi indicado ao Oscar 2004 por Melhor Argumento adaptado.
No primeiro filme, este casal de atores vivem um romance de um dia em Viena na fase dos 20 anos, quando se conhecem em um trem, como uma paixão fulminante de adolescência. No 2º. filme, nove anos depois eles se reencontram em Paris, onde Jesse está promovendo o seu livro, e vivem mais um dia em clima de paixão reprimida pelo tempo.
Já neste melodrama atual,  nove anos depois do segundo encontro, Jesse e Celine estão casados,  têm 2 meninas gêmeas adoráveis, moram em Paris e Jesse tem um filho do primeiro casamento, chamado Hank (interpretado por Seamus Davey-Fitzpatrick) que mora em Chicago, e a distância já é um dilema para o pai, por não poder participar da adolescência do filho.
Jesse é romancista e é convidado a passar férias na Grécia na residência de outro escritor, e o filme é passado neste local, eles contracenam neste cenário de magnífica beleza natural, nas praias e ruínas da Grécia. Jesse e Celine vivem um momento conturbado que necessita de decisões, Jesse a querer morar em Chicago para ficar mais perto do filho Hank, e Celine em vias de aceitar um trabalho junto ao governo francês, já que optou cuidar das filhas após o nascimento delas.
 Este filme mostra a realidade e o desgaste do casamento, com suas fases, suas frustrações, desencantos, brigas banais, enfim desgaste natural do tempo nas relações afetivas.
O diretor aposta na atuação dos intérpretes de forma simples e natural através de diálogos para construir este filme, que fala sobre o amor, o desgaste originado da convivência diária, de uma maneira real e amadurecida, como se tivessem passado da fase inconseqüente da juventude, da paixão  para a meia idade, e neste fase tivessem perdido o encantamento do amor.
Os atores nesta fase dos 40 anos continuam com a mesma química de 20 anos atrás, estão lindos e charmosos e têm uma ótima atuação.A atriz Julie Delpy consegue manter uma naturalidade e jovialidade incrível, numa atuação primorosa. O momento que eles estão contemplando o por do sol que vai se pondo e ela vai afirmando: está sumindo, está sumindo...como a relembrar o amor antigo e a querer reencontrar o amor atual, como a querer retornar a momentos que já se foram, como se pudesse voltar no tempo e esquecer os  problemas diários da vida de casal. Este momento é bem significativo.
O filme deseja mostrar de forma realista que a vida não é um mar de rosas ou um conto de fadas, assim como foi o encontro deste casal, que o amor tem que ser cultivado no dia a dia para manter vivo o romantismo. O filme constitui-se de DR (discutir relação) o tempo todo, isso o torna cansativo e até tedioso, principalmente para quem espera outros encontros como os filmes anteriores.
Saímos do filme com um gosto amargo na boca da realidade da vida, mas certos de que sempre existe como encontrar um atalho quando duas pessoas se amam e querem tentar ser felizes.
Será que o diretor daqui há 10 anos fará a continuação deste filme com o casal no outono de suas vidas? Espero que isto aconteça, pois sabemos que a vida real é esta, cheia de motivações, de paixões, mas as pedras fazem parte do caminho, e saber arrumá-las com sabedoria faz parte do conceito de amar.







quinta-feira, 4 de julho de 2013

AMANTES PASSAGEIROS




O mais novo filme com direção e roteiro de Pedro Almodóvar, Amantes Passageiros é uma comédia espanhola hilariante escrachada mesmo, bem diferente dos seus últimos filmes dramáticos, Abraços Partidos e A Pele que Habito.
O filme é praticamente passado dentro de um avião em pleno voo de Madrid para o México, com três comissários de bordo como personagens, tentando entreter os passageiros da classe executiva, numa situação singular, o avião com problema técnico que fica dando voltas à espera de autorização para um pouso de emergência. Diante desta situação fora de controle, os comissários de bordo, gays assumidos e tipos estereotipados e engraçados, se enchem de bebidas, drogas, fazendo o mesmo com os passageiros da classe executiva, pois os da classe econômica são nivelados por baixo, estão todos a dormir devido a  efeito de um sonífero dado pela própria tripulação.
Os passageiros alterados, sentindo-se com horas contadas de vida,  o desespero tomando conta e através do álcool e  mescalina, dão lugar às confissões sobre seus segredos e seus últimos desejos. Temos um casal em lua de mel, um financeiro fraudulento, uma vidente virgem, um D. Juan inveterado,  uma rainha sadomasoquista do jet set, e por aí vai. Vários tipos diferentes, onde Almodóvar com seu humor ácido não economiza nas piadas chulas, todos interagindo no mesmo ambiente dentro do avião com interpretações afetadas, chegando ao caricato.
Junta-se a esta chanchada espirituosa um colorido vibrante, inclusive os primeiros créditos do filme é  apresentado como uma história em quadrinhos, com muitos ritmos presentes, fazendo-nos lembrar o Almodóvar de seus primeiros filmes  nos anos 80, como Maus Hábitos, Mulheres à beira de um ataque de nervo, O que Eu fiz para Merecer isto.
O diretor faz uma crítica à situação econômica da Espanha que passa por uma crise com os escândalos da Realeza e da política, de forma divertida, típica do autor. O avião é usado como metáfora da sociedade atual, com sua situação de perigo, como se tivesse perdido o rumo e o controle desta situação adversa, assim como a Espanha atual. Há uma sátira também a homossexualidade, as trangressões, tudo no superlativo, como se Almodóvar no auge dos seus 64 anos quisesse realizar a mais louca das comédias. Uma verdadeira e alegre subversão de valores, onde as drogas, o sexo,  as perversões são utilizados de forma anárquica e politicamente incorreto.
As músicas são muito bem selecionadas, utiliza-se desde Beethoven na abertura do filme às músicas portenhas, chegando ao clímax com os três comissários gays interpretando a música Ï’m so Excited¨do grupo The Point  Sisters, um dos momentos mais hilários do filme, onde o expectador tem vontade de se soltar e se mexer na cadeira.
A fotografia se fixa em cores fortes como os seus primeiros filmes e já se observa desde o início a ironia e o material fotográfico diferente.
Os atores Javier Cámara(Fale com ela), Carlos Areces, Hugo Silva, Raúl Arévalo, Antonio de la Torre estão bem sintonizados em suas figuras caricatas, e as atrizes Lola Duenãs e Cecília Roth dão um show de interpretação, com suas personagens Bruna e Norma.
Antonio Banderas e Penélope Cruz, queridinhos de Almodóvar, fazem uma participação no início do filme numa situação engraçada mas incidente no desenrolar da trama.
Filme picante e transgressor, comédia do absurdo, capaz de incomodar os mais conservadores com suas piadas chulas, que utiliza personagens como gays enrustidos ou não, mulheres histéricas, mafiosos, associados a drogas e inversão de valores, para fazer crítica à sociedade atual, ao governo espanhol, de forma superficial. Mas parece que foi justamente isso que o Almodóvar quis conceber, sem condenações nem aprovações, Almodóvar por si só, como a pedir que não levar as coisas muito a sério.
Como o próprio Almodóvar disse em entrevista,¨o filme mais gay que já fiz¨, o público ao mesmo tempo ri e se choca com seus personagens caricatos e suas histórias absurdas, seja por declarações inesperadas, livre de julgamentos morais, um estilo brega de alto nível, este é o Almodóvar na sua essência, sem maiores pretensões além de nos divertir e transgredir.







segunda-feira, 1 de julho de 2013

ADEUS MINHA RAINHA




Um filme de época francês ( produção França/Espanha) do diretor Benoit Jacquot que retrata um tema já visto várias vezes em cinema, a Revolução Francesa e seus arredores, ambientada  no Palácio de Versailhes, os três últimos dias antes da Queda da Bastilha como estopim da Revolução Francesa, em Julho de 1789.
Este drama narrado pela jovem e devotada servente da rainha Maria Antonieta, a bela Sidonie Laborde (interpretada pela atriz Léa Seydoux), a leitora oficial da rainha,  e que executa a sua função com total zelo e devoção,  sentindo-se honrada com este ofício que lhe coloca sempre perto e à disposição da rainha.
Esta jovem que está sempre à postos da sua venerada rainha, entretanto sente-se incomodada e enciumada pela proteção e paixão que a  rainha Maria Antonieta mantém  pela duquesa  Gabrielle de Polignac (Virginie Ledoyen). Aí já nos vislumbra um triângulo amoroso que em vários momentos só fica na nossa imaginação, pelos diálogos, aflições, emoções expostas, mas principalmente pelos olhares. Em algumas cenas o toque entre a rainha e a serviçal nos conduz a um amor platônico da bela serviçal pela sua rainha, por quem é capaz de tudo.
A cena em que a bela serviçal é obrigada a se despir por outra dama de companhia perante Maria Antonieta é de uma tristeza e sensibilidade ímpar, como a desnudar não só o corpo, mas a sua alma também.
O filme fixa neste drama mostrando com detalhes os bastidores do Palácio de Versailhes, no que diz respeito à vida dos nobres, funcionários e serviçais que trabalham para a rainha Maria Antonieta, austríaca casada com o rei Luís XVI , a convivência dessas pessoas sempre a postos para a servir, em todas as suas necessidades e caprichos. Mostra as conversas e fofocas dos empregados, alheios ao que acontece em Paris, e passam a ter conhecimento por boatos e conversas que chegam até o palácio, sobre os acontecimentos antes da Queda da Bastilha.
O filme não se propõe a mostrar os fatos e como ocorreu a Revolução Francesa com a Queda da Bastilha. O filme explora o sentimento desta jovem fiel e admiradora de sua rainha, a paixão da rainha por outra pessoa, a duquesa Gabrielle, e o que a lealdade e fidelidade é capaz de  levar uma pessoa. O filme quer nos falar de um amor platônico capaz de tudo por lealdade a outrem, a quem a jovem deseja ser útil e servir incondicionalmente.O fato das cenas serem mostradas por uma ótica nova, pelo olhar de uma serviçal torna o filme interessante,  e a bela atriz Léa Seydoux interpreta de forma perfeita, com seu olhar lânguido e triste, numa demonstração de sentimento reprimido.
A rainha Maria Antonieta tem na linda Diane Kruger, uma pessoa fútil, frágil e angustiada, vulnerável, com suas manias beirando à loucura, com inclinações lésbica, preocupada apenas com o seu amor por outra mulher, no momento em que o mundo em torno dela está se desmoronando.
Xavier Beauvois interpreta o rei Luís XVI, com uma participação pequena, mas decisiva  para o desenrolar da história.
O filme, inspirado no livro de Chantel Thomas, tem um desenvolvimento lento, que vai crescendo até os momentos finais, com uma trilha sonora de Bruno Coulais adequada ao ritmo do filme, mas que poderia ter um pouco mais de ritmo e aprofundamento das personagens, tornando-se um pouco monótono.
Vale ressaltar o figurino de época impecável e cenário bem adequado ao que se propõe, e como disse o diretor, ¨a atriz mais cara do filme foi o cenário, o Palácio de Versalhes¨, que é mostrado de forma verossímil e bem ampla.
O conhecido diretor Benoit Jacquot  fez vários filmes como Villa Amália, No fundo da floresta, Sade e Até Já.
O filme Adeus minha Rainha concorreu no Festival de Berlim 2012, e ganhou 3 César, de Melhor Fotografia, Figurino e Cenografia no Festival da França 2012.