segunda-feira, 22 de julho de 2013

NOTA DE RODAPÉ





Esta comédia dramática israelense do diretor Joseph Cedar nos fala sobre os nuances e rancores nas relações familiares, quando pais e filhos têm o mesmo vínculo profissionalmente, gerando conflitos pessoais e no âmbito familiar quando há competitividade e falta de diálogo.
Este drama conta a história de rivalidade dos intelectuais Eliezer, o pai e Uriel Scholnik, o filho, ambos professores, escritores e pesquisadores do estudo do Talmude, o livro sagrado dos judeus. Mas enquanto o pai com dedicação exclusiva à profissão é esquecido, colocado no ostracismo e até odiado por outros intelectuais. Seu filho Uriel vive em plena glória do reconhecimento do seu talento literário, com vários livros como Best-Sellers, e é sempre procurado e bajulado no mundo acadêmico e pelo público, em geral. Por estas razões, pai e filho mantêm uma relação conflituosa, sem entrosamento devido vaidade ferida do pai e arrogância do filho.
A vida destes dois personagens vai passar por uma reviravolta quando Eliezer recebe uma ligação do Comitê de Premiação do Troféu Israel, prêmio concebido anualmente às grandes figuras de várias áreas, confirmando que naquele ano ele foi agraciado com tal prêmio. Na realidade houve um equivoco, pois o prêmio era para o livro do seu filho , que foi convocado às pressas para resolver esta questão. E eis Uriel no maior impasse da sua vida: dizer a verdade ao pai ou recusar este prêmio tão almejado no meio acadêmico, que o colocaria numa posição de maior destaque na sua profissão? Pois este sabe o significado do prêmio para seu pai e o desgaste na relação familiar.
O ator Shlomo Bar-Aba faz o papel de Eliezer Scholnik, um pai amargurado, e este sentimento ele repassa para a família, inclusive para o filho, a quem desdenha, sentindo-se mais humilhado por não ter o prestígio do filho, discordando dos textos que este escreve.O filho Uriel Scholnik (interpretado pelo ator Lior Ashkenazi) por sua vez mescla um sentimento de orgulho e ressentimento pelo pai, e tudo só piora com a indecisão de dizer a verdade para o pai e o medo de aumentar ainda mais a distancia entre os dois.
Ambos trabalham de forma magistral, dois personagens difíceis de digerir, ambos intragáveis na maneira de agir, que não conseguem se ajustar, vivem em disputa, sem conseguir colocar a afeição acima da vaidade e do rancor.
O filme tem um lado dramático que nos faz repensar os valores da família, os egos inflados, o poder e os ensinamentos dos pais perante o futuro dos filhos, as frustrações adquiridas pela vida e o quanto este conflitos pessoais pesam perante a família. De humor irônico e até sombrio, mostra a fogueira das vaidades no meio acadêmico, tendo a inveja e a forte concorrência em relação à competência, e o peso da integridade diante da notoriedade pública. E nos instiga de forma inteligente, a refletir outras várias facetas da vida familiar, do poder e do peso das profissões quando pai e filho disputam a mesma área. Enfim, um filme de humor ácido, ousado, mostrando que muitas vezes o que não está dito, como uma nota de rodapé, fala muito mais pelo que é sentido.
Sentimentos como a admiração, o rancor e a inveja se entremeiam de tal forma nesta complicada relação de pai e filho, onde o suspense e o drama se unem a comédia, e cria um impasse com o espectador, que não consegue torcer por um final feliz ou por um final dentro da lógica da realidade impiedosa que o diretor nos infligiu.
O filme tem o título Nota de Rodapé, pois a única citação da vida acadêmica do pai foi justamente uma nota em um livro de um famoso intelectual, sendo este grande motivo de orgulho, e em contra partida a não aceitação e o conflito pela projeção do filho no meio acadêmico.
O competente diretor Joseph Cedar é também responsável pela direção do  filme  Beaufort ( 2007).
Indicado ao Oscar 2012 de Melhor Filme Estrangeiro. Vencedor do Premio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes 2011.





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