Esta comédia dramática israelense
do diretor Joseph Cedar nos fala sobre os nuances e rancores nas relações
familiares, quando pais e filhos têm o mesmo vínculo profissionalmente, gerando
conflitos pessoais e no âmbito familiar quando há competitividade e falta de diálogo.
Este drama conta a história de
rivalidade dos intelectuais Eliezer, o pai e Uriel Scholnik, o filho, ambos
professores, escritores e pesquisadores do estudo do Talmude, o livro sagrado
dos judeus. Mas enquanto o pai com dedicação exclusiva à profissão é esquecido,
colocado no ostracismo e até odiado por outros intelectuais. Seu filho Uriel
vive em plena glória do reconhecimento do seu talento literário, com vários
livros como Best-Sellers, e é sempre procurado e bajulado no mundo acadêmico e
pelo público, em geral. Por estas razões, pai e filho mantêm uma relação
conflituosa, sem entrosamento devido vaidade ferida do pai e arrogância do
filho.
A vida destes dois personagens
vai passar por uma reviravolta quando Eliezer recebe uma ligação do Comitê de
Premiação do Troféu Israel, prêmio concebido anualmente às grandes figuras de
várias áreas, confirmando que naquele ano ele foi agraciado com tal prêmio. Na
realidade houve um equivoco, pois o prêmio era para o livro do seu filho , que
foi convocado às pressas para resolver esta questão. E eis Uriel no maior
impasse da sua vida: dizer a verdade ao pai ou recusar este prêmio tão almejado
no meio acadêmico, que o colocaria numa posição de maior destaque na sua
profissão? Pois este sabe o significado do prêmio para seu pai e o desgaste na
relação familiar.
O ator Shlomo Bar-Aba faz o papel
de Eliezer Scholnik, um pai amargurado, e este sentimento ele repassa para a
família, inclusive para o filho, a quem desdenha, sentindo-se mais humilhado por
não ter o prestígio do filho, discordando dos textos que este escreve.O filho
Uriel Scholnik (interpretado pelo ator Lior Ashkenazi) por sua vez mescla um sentimento de orgulho e ressentimento pelo
pai, e tudo só piora com a indecisão de dizer a verdade para o pai e o medo de
aumentar ainda mais a distancia entre os dois.
Ambos trabalham de forma
magistral, dois personagens difíceis de digerir, ambos intragáveis na maneira
de agir, que não conseguem se ajustar, vivem em disputa, sem conseguir colocar
a afeição acima da vaidade e do rancor.
O filme tem um lado dramático que
nos faz repensar os valores da família, os egos inflados, o poder e os
ensinamentos dos pais perante o futuro dos filhos, as frustrações adquiridas
pela vida e o quanto este conflitos pessoais pesam perante a família. De humor
irônico e até sombrio, mostra a fogueira das vaidades no meio acadêmico, tendo
a inveja e a forte concorrência em relação à competência, e o peso da
integridade diante da notoriedade pública. E nos instiga de forma inteligente,
a refletir outras várias facetas da vida familiar, do poder e do peso das
profissões quando pai e filho disputam a mesma área. Enfim, um filme de humor
ácido, ousado, mostrando que muitas vezes o que não está dito, como uma nota de
rodapé, fala muito mais pelo que é sentido.
Sentimentos como a admiração, o
rancor e a inveja se entremeiam de tal forma nesta complicada relação de pai e
filho, onde o suspense e o drama se unem a comédia, e cria um impasse com o
espectador, que não consegue torcer por um final feliz ou por um final dentro
da lógica da realidade impiedosa que o diretor nos infligiu.
O filme tem o título Nota de
Rodapé, pois a única citação da vida acadêmica do pai foi justamente uma nota
em um livro de um famoso intelectual, sendo este grande motivo de orgulho, e em
contra partida a não aceitação e o conflito pela projeção do filho no meio acadêmico.
O competente diretor Joseph Cedar
é também responsável pela direção do filme Beaufort ( 2007).
Indicado ao Oscar 2012 de Melhor
Filme Estrangeiro. Vencedor do Premio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes
2011.
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