Primeiro longa metragem da
diretora Alice Winocou. Ela já realizou vários curta metragens (Kitchen/2004) e
atuou como colaboradora nos roteiros de Ordinary People(2009) e Home(2008).
O drama francês Augustine é uma livre
adaptação da história real de uma paciente importante, Louise Augustine
Gleizes, do neurologista e cientista Dr. Jean-Martin Charcot, a partir
dos seus arquivos médicos. Dr. Charcot tem uma posição de destaque na
história da Psiquiatria no que se refere aos distúrbios histéricos, doença
causada provavelmente pela repressão, onde os ataques surgem sem motivo
aparente, e tem na sexualidade um forte componente. Inclusive Dr. Charcot foi mestre do Pai da Psicanálise Sigmund
Freud, quando este era um jovem estudante de Medicina.
O filme tem como tema central a histeria,
doença misteriosa nesta época, cujo assunto já foi exposto em outros filmes
como Um Método Perigoso e Histeria. Ambientado em Paris do século
XIX, conta o drama de Augustine, uma jovem de 19 anos que trabalha como
empregada doméstica em residência de luxo, e é acometida de crises de histeria,
que aparecem sem motivo aparente, inclusive durante um jantar da família
aristocrática.
Diante deste quadro Augustine é
encaminhada ao Hospital Pisiquiátrico Pitié-Salpêtriere, onde o Prof.. Pierre
Charcot, conceituado neurologista da época, estuda a histeria em mulheres, tentando
desmistificar que seja um mal ligado à bruxaria, quando séculos antes, muitas
mulheres foram queimadas em fogueiras por serem consideradas possuídas pelo
demônio.
Dr. Charcot inicia um tratamento
para histeria com Augustine, usando-a como cobaia em seus experimentos, inclusive
com o uso da hipnose em demonstrações com platéia formada por seus colegas
doutores, com o intuito de notoriedade e verba para sua pesquisa e instituição.
A jovem com isso é constantemente exposta, inclusive o seu corpo.O médico passa a sentir-se
dono da paciente e a usa como uma possessão. Com o passar do tempo, a jovem
passa a ser mais que uma mera paciente, passa de objeto de estudo do renomado
cientista para objeto de desejo.
Nos papeis principais temos o ator Vincent Lindon interpretando Dr. Charcot e a atriz e cantora Stéphanie
Sokolinski( mais conhecida como Soko) no papel de Augustine, em ótimas
atuações, ele como um cientista frio e possuidor de vaidade e poder, e ela numa
inconsistência de emoções, perdida na doença que a acomete, à mercê do domínio
deste homem sobre a sua vida e o seu futuro. A atriz Chiara Mastroianni faz o
papel de Constance, esposa do cientista, um papel secundário mas de peso na trama.
Um longa que no fundo fala sobre
o desejo sexual e o poder, de forma sombria. O médico cientista com seu
conhecimento e métodos fascinantes, como a hipnose, tem domínio total sobre a
jovem Augustine, que torna-se uma cobaia, assim como o macaco de estimação que
ele possui, uma metáfora. A jovem, objeto de trabalho do mestre, nem sequer tem
o direito às perguntas e dúvidas sobre sua doença e seu tratamento.
É uma moeda de duas faces, ao
mesmo tempo que a jovem é cativada, oferecendo tratamento médico e mais
conforto, existe a crueldade da exposição no método utilizado e na frieza da relação com a
paciente, que vai do medo à fascinação erótica. Enfim, de um lado o estudo, a
observação, a razão, e do outro lado, o poder, a violência, o ímpeto sexual, o
desejo sob a forma de dor e sofrimento diante das regras da sociedade.
Cenário e fotografia sombrios,
intercalando com alguns momentos de luminosidade, figurino escolhido com
precisão para a ocasião. A diretora dirige com sobriedade, diálogos curtos e
secos num ambiente nebuloso, onde a sociedade burguesa era dominante. Para
garantir autenticidade , foram utilizados verdadeiros doentes como figurantes
no filme.
Este filme ganhou o prêmio Melhor Atriz e indicação Melhor Filme no Festival Mar Del Prata. Indicação ao prêmio Câmera
de Ouro no Festival de Cannes 2012 e ao César 2013 como Melhor
Filme de Estréia e Melhor Figurino.
Na maior parte das vezes, sou suspeita ao elogiar um filme pois, normalmente, bem escolho o que vou assistir. Isso tudo para dizer que "Augustine" é um belo filme sobre uma situação tabu, numa época em que a ciência pouco sabia sobre o cérebro e a mente. O Dr. Charcot tenta tratar pacientes com histeria por meio de hipnose. Augustine, no entanto, fica livre dos sinais da doença em duas situações de choque emocional. E agora? O final, surpreendente, não deixa espaço para conclusões. Essas, só saberemos, lendo algo sobre como chegaram a controlar as crises.
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