sexta-feira, 12 de julho de 2013

AUGUSTINE




Primeiro longa metragem da diretora Alice Winocou. Ela já realizou vários curta metragens (Kitchen/2004) e atuou como colaboradora nos roteiros de Ordinary People(2009) e Home(2008).
O drama francês Augustine é uma livre adaptação da história real de uma paciente importante, Louise Augustine Gleizes, do neurologista e cientista Dr. Jean-Martin Charcot, a partir dos seus arquivos médicos.   Dr. Charcot tem uma posição de destaque na história da Psiquiatria no que se refere aos distúrbios histéricos, doença causada provavelmente pela repressão, onde os ataques surgem sem motivo aparente, e tem na sexualidade um forte componente. Inclusive Dr. Charcot foi mestre do Pai da Psicanálise Sigmund Freud, quando este era um jovem estudante de Medicina.
O filme tem como tema central a histeria, doença misteriosa nesta época, cujo assunto já foi exposto em outros filmes como Um Método Perigoso e Histeria. Ambientado em Paris do século XIX, conta o drama de Augustine, uma jovem de 19 anos que trabalha como empregada doméstica em residência de luxo, e é acometida de crises de histeria, que aparecem sem motivo aparente, inclusive durante um jantar da família aristocrática.
Diante deste quadro Augustine é encaminhada ao Hospital Pisiquiátrico Pitié-Salpêtriere, onde o Prof.. Pierre Charcot, conceituado neurologista da época, estuda a histeria em mulheres, tentando desmistificar que seja um mal ligado à bruxaria, quando séculos antes, muitas mulheres foram queimadas em fogueiras por serem consideradas possuídas pelo demônio.
Dr. Charcot inicia um tratamento para histeria com Augustine, usando-a como cobaia em seus experimentos, inclusive com o uso da hipnose em demonstrações com platéia formada por seus colegas doutores, com o intuito de notoriedade e verba para sua pesquisa e instituição. A jovem com isso é constantemente exposta, inclusive o seu corpo.O médico passa a sentir-se dono da paciente e a usa como uma possessão. Com o passar do tempo, a jovem passa a ser mais que uma mera paciente, passa de objeto de estudo do renomado cientista para objeto de desejo.
Nos papeis principais temos o ator Vincent Lindon  interpretando Dr. Charcot e a atriz e cantora Stéphanie Sokolinski( mais conhecida como Soko) no papel de Augustine, em ótimas atuações, ele como um cientista frio e possuidor de vaidade e poder, e ela numa inconsistência de emoções, perdida na doença que a acomete, à mercê do domínio deste homem sobre a sua vida e o seu futuro. A atriz Chiara Mastroianni faz o papel de Constance, esposa do cientista, um papel secundário mas de peso na trama.
Um longa que no fundo fala sobre o desejo sexual e o poder, de forma sombria. O médico cientista com seu conhecimento e métodos fascinantes, como a hipnose, tem domínio total sobre a jovem Augustine, que torna-se uma cobaia, assim como o macaco de estimação que ele possui, uma metáfora. A jovem, objeto de trabalho do mestre, nem sequer tem o direito às perguntas e dúvidas sobre sua doença e seu tratamento.
É uma moeda de duas faces, ao mesmo tempo que a jovem é cativada, oferecendo tratamento médico e mais conforto, existe a crueldade da exposição no método utilizado e na frieza da relação com a paciente, que vai do medo à fascinação erótica. Enfim, de um lado o estudo, a observação, a razão, e do outro lado, o poder, a violência, o ímpeto sexual, o desejo sob a forma de dor e sofrimento diante das regras da sociedade.
Cenário e fotografia sombrios, intercalando com alguns momentos de luminosidade, figurino escolhido com precisão para a ocasião. A diretora dirige com sobriedade, diálogos curtos e secos num ambiente nebuloso, onde a sociedade burguesa era dominante. Para garantir autenticidade , foram utilizados verdadeiros doentes como figurantes no filme.
Este filme ganhou o prêmio Melhor Atriz e indicação Melhor Filme no Festival Mar Del Prata. Indicação ao prêmio Câmera de Ouro no Festival de Cannes 2012 e ao César 2013 como Melhor Filme de Estréia e Melhor Figurino.






Um comentário:

  1. Na maior parte das vezes, sou suspeita ao elogiar um filme pois, normalmente, bem escolho o que vou assistir. Isso tudo para dizer que "Augustine" é um belo filme sobre uma situação tabu, numa época em que a ciência pouco sabia sobre o cérebro e a mente. O Dr. Charcot tenta tratar pacientes com histeria por meio de hipnose. Augustine, no entanto, fica livre dos sinais da doença em duas situações de choque emocional. E agora? O final, surpreendente, não deixa espaço para conclusões. Essas, só saberemos, lendo algo sobre como chegaram a controlar as crises.

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