Olho Nú, documentário sobre a vida do cantor Ney Matogrosso, com direção do cineasta brasileiro Joel Pizzini, foge do tradicional, tendo a
presença do cantor a contar suas lembranças de infância, pensamentos pessoais e
sua vida de artista.
A partir de um vasto material de imagens do acervo do
artista, Ney narra de forma singular sua infância em sua terra natal, em Bela
Vista, Mato Grosso do Sul, sua parceria com o grupo Secos & Molhados nos
anos 70, a
influência dos cantores de rádio na sua carreira artista, sua carreira solo
marcada por um timbre raro, corpo esguio e gingado próprio. A figura paterna,
um militar, teve grande influência e peso na vida de Ney, tanto na disciplina e na
definição do que ele realmente desejava para sua vida artística e pessoal, como para exacerbar
seu lado transgressor. E isto, segundo o próprio cantor, só foi percebido anos
depois, já na terceira idade. E o depoimento de sua mãe é de uma simplicidade incrível,
com fatos interessantes de sua infância.
Com presença marcante, o mesmo vigor físico, este polêmico e
talentoso artista nos brinda e nos leva a conhecer com seu olhar poético, sua
terra natal, o seu sítio em Saquarema, onde a natureza tem um papel primordial
na sua vida.
Passagens como o romance com Cazuza e sua experiência com as
drogas, inclusive o daime, são apenas pinceladas pelo diretor, o que deixa no
ar certa curiosidade.
Sem depoimentos de terceiros, apenas o ator/cantor Ney
Matogrosso ao vivo, em cena o tempo inteiro, olhar direto na câmera de forma
vibrante. Com seu timbre raro, um falsete maravilhoso, a plateia se
delicia com trechos de músicas que fizeram muito sucesso, com direito a cenários de total encantamento visual.
Aos 72 anos de idade Ney Matogrosso continua com o mesmo
olhar penetrante, corpo perfeito, desnudando a sua alma e o seu corpo
literalmente, com direito a banho de rio desnudo, sem pudor. Transgressor
assumido, Ney é pura sexualidade, respira libido, mas acima de tudo é um
nostálgico.
Como ele próprio afirma ¨sou um homem, sou um bicho, sou uma
mulher¨, o seu lado andrógino sedutor, que ¨usa e abusa de todos os lados,
feminino e masculino¨.
¨O que importa é não estar vencido¨, evidencia a própria
obra ao vivo, neste emocionante documentário com tanta riqueza poética, uma
verdadeira experiência sensorial e transgressora deste grande cantor.