Com direção e roteiro do cineasta brasileiro Karim Aïnouz,
Praia do Futuro é um filme sensorial, com o tema da homossexualidade mas sem
discutir preconceito, com personagens comuns, simples, durões, sem cair no
caricato.
Donato (Wagner Moura) é um salva-vidas da Praia do Futuro,
em Fortaleza, que lida com situações de risco no seu cotidiano, inclusive
afogamentos.
Um certo dia dois alemães se afogam e Donato só consegue salvar
um deles, e isto bole com o íntimo de Donato, como ele diz em certo momento
¨cada pessoa que eu salvo, imagino que seja eu o afogado¨. Donato se aproxima
de Konrad (Clemens Schick), o alemão que ele salvou, uma paixão acontece
entre os dois, e Donato larga tudo, inclusive a família, e vai para Berlim com
seu novo affair.
O filme é dividido em três partes, com poucos diálogos e
muitas falas corporais, como dança, sexo, corpos de homens másculos, atléticos,
nadando no mar, na piscina.
Mostra sem pudor corpos nus dos personagens Donato e Konrad,
que são homossexuais, em várias situações, de forma brutal, sem romantismo, nada
sentimental. Câmera em movimento, uma boa fotografia, onde as imagens são
exploradas ao máximo, grande virtude da direção de arte. A trilha sonora
potencializa as imagens e o desempenho dos atores, vale ressaltar a cena em que
Konrad canta a música Aline para Donato e os dois dançam juntos, com gestos
bruscos e intensos.
A segunda parte acontece em Berlim, uma mudança drástica de
ambiente, mostrando uma ruptura geográfica do personagem com sua terra natal e toda sua história de vida.
Os atores Wagner Moura, Clemens Schick e Jesuíta Barbosa têm
uma interpretação excelentes, em especial Wagner Moura , que é de uma
intensidade e sutileza à flor da pele.
O ator Jesuíta Barbosa interpreta Ayrton, o irmão de Donato,
que após oito anos de abandono, atravessa o oceano e vai atrás do irmão. Apesar
da dor da mágoa, o amor fala mais alto e ele vai cobrar do irmão o porque do
desprezo e abandono.
Filme com poucos diálogos, uma história sem muita
explicação, onde a inquietude se caracteriza no silêncio e na expressão corporal,
onde as ações falam mais alto, estimulando a nossa criatividade sobre a
história, os motivos e as consequências.
Em ritmo lento, em determinados momentos chega a cansar e
até soar vagas e sem razão algumas cenas. Uma busca constante por algo que nem o próprio
Donato parece saber o que é, logo cabe a plateia pensar pelo personagem. O que
se espera da vida, o que se quer realmente alcançar? Será que
em determinadas escolhas faz-se necessário abrir mão de outras, inclusive de
família, de sua raiz, de sua terra? E as consequências dessas escolhas, têm-se
consciência ao fazê-las?
Filme erótico sem cair no vulgar, de beleza visual incrível,
com a Praia do Futuro contrastando com a árida Berlim, onde as imagens falam
mais que as palavras, onde a dor do que se deixou para trás é maior que o
percurso transposto.
O cineasta Karim Aïnouz prima por filmes com este perfil. O
Abismo Prateado(2011), Viajo porque Preciso,Volto porque Te Amo (2009), O Céu
de Suely (2006), são alguns dos
filmes realizados por ele, que só fazem abrilhantar o cinema nacional.
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