segunda-feira, 5 de agosto de 2013

FERRUGEM E OSSO




Com um tema forte e atraente, o diretor Jacques Audiard realizou este drama francês intitulado Ferrugem e Osso, o próprio nome já nos leva a imaginar o roteiro do filme.
Conta a história de Stéphanie ( Marion Cottilard ), uma adestradora de orca, que numa de suas noitadas conhece Alan ( Mathias Schoenaerts ), segurança da boite, um boxeador que cria um filho sozinho e mora provisoriamente na casa da irmã . Alan é uma pessoa rude e fria, que não sabe agregar, que não consegue transmitir amor à sua família, inclusive ao seu filho. Até com as mulheres, incluindo Stéphanie, ele tem um relacionamento passional, sem laços e emoções.
Quando Stéphanie sofre um trágico acidente com a orca que leva à amputação de suas pernas, ela entra em choque e depressão e aos poucos vai criando um laço com aquele homem rude mas que a acolhe por inteira, que a trata sem preconceito, que sente atração física por ela, e não se fixa na questão tão dolorosa para ela, que é a perda da sua imagem corporal.
Um filme triste, deprimente, de um realismo que cabe na história, que não respeita os limites do físico e da alma. Sem apelações, apesar de mostrar cenas de forma bem real, como atos de sexo de Alan com a bela adestradora e suas pernas amputadas, Alan a carregá-la para fazer suas necessidades básicas. Tudo mostrado dentro de uma crueza e naturalidade, sem pieguices, mas também não apela para o tema para produzir momentos de catarse para o público.
A atriz Marion Cotillard esbanja talento e naturalidade na interpretação do seu personagem, demonstrando sentimentos de dor e depressão após o acidente, a não aceitação do seu corpo incompleto  até a superação, com momentos de uma beleza incrível apesar da crueza do tema. A atriz expõe a sua fragilidade e a dolorosa tentativa de superação; e tem dois momentos únicos no filme, o primeiro quando Alan a carrega ao mar, e ela atônita no início, aos poucos vai dominando seu corpo e vem o prazer de estar nadando no mar, um prazer que há muito não sentia. O ator Mathias Schoenaerts faz um Alan de uma rudeza de sentimentos, um cara que apanhou da vida e só valoriza o físico, por não saber dar afetividade, mas no íntimo não é uma pessoa ruim. Cada um com seus defeitos, interagem e se complementam, e não percebem o sentimento que os une.
O outro momento é quando Stéphanie vai ao encontro da orca responsável pelo seu acidente, e naquele instante ela descobre como o amor e o ódio podem estar tão próximos,  nesta cena memorável, com uma fotografia ímpar, dá vontade de dar uma pausa e ficar deslumbrando aquele quadro, como um pôster que se encaixa na tela.
A fotografia é belíssima, de forma simples e direta, límpida, só faz ajudar as cenas a serem mais fortes e reais.
A trilha sonora de Alexandre Desplat é excelente, concisa, apesar da situação dramática, a sonoridade não leva a devaneios, é utilizada na função correta de complementar o visual, respeitando o limite que o filme deseja, para não perder o realismo e se tornar piegas.
Marion Cotillard ganhou o Oscar 2008 de Melhor Atriz pelo filme Piaf- um Hino ao Amor e o César 2005 de Atriz coadjuvante no filme Eterno Amor.
Filme profundo, simples, direto, sutil igual a vida das pessoas, não piegas mas com o romantismo que as situações se apresentam. Onde os dois protagonistas se desnudam aos poucos para o espectador, e depois dos fatos que ocorrem em suas vidas, vão transformando essas pessoas e seus sentimentos, cada um com suas imperfeições vai complementando a vida do outro.
Com um roteiro muito bem escrito, uma história simples e real que nos leva da tristeza à paixão, que nos encanta e nos envolve e nos faz refletir sobre as abordagens e as dificuldades que a  vida pode apresentar, os encontros e o aprendizado da superação. Tudo colocado de tal forma para não ter piedade dos personagens, a gente torce por eles, mas ciente que esta é a cruel realidade.
Você sai do cinema enlevado por tudo que assistiu e com vontade de rever e aprender, que a vida está aí para ser sorvida nos seus detalhes, e cada fato, seja alegre ou triste, nos leva a algum aprendizado, e o quanto é importante encarar a realidade, e se alguém estender a mão, aceite. Esta pode ser uma nova oportunidade que bate a sua porta.





Um comentário:

  1. Um dos filmes mais crus que tive oportunidade de assistir. O roteiro, tratado com realismo e secura, não apela, em momento algum para a pieguice, para a pena, para o sentimentalismo. Os protagonistas vivem um encontro quase inexplicável, como inexplicável é a vida, surpreendentemente, cruel ou delicada.

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