Este drama genial (Alemanha/França) da cineasta berlinense Margarethe von Trotta nos leva a ter vontade de conhecer mais a vida de Hanna Arendt (
Barbara Sukoma), grande filósofa e pensadora política alemã judia, de grande
influência no século XX, radicada para os Estados Unidos em 1940 e conhecida
como a pensadora da liberdade por várias obras e estudos, principalmente a tese ¨A Banalidade do Mal¨.
Durante o julgamento criminal do
oficial nazista Adolf Eichmann, que foi capturado na Argentina por palestinos e
julgado em Jerusalém como militar burocrata nazista que participou ativamente
da organização de deportação e extermínio de milhares de judeus europeus.
Hanna Arendt é incumbida de
cobrir como representante do The New Yorker, o julgamento deste nazista pelos
crimes hediondos contra os judeus. Durante este processo, Hanna inicia sua tese
sobre a banalidade do mal, ao se deparar com um burocrata idiotisado que
cumpria ordens superiores e não aparentava nenhum remorso com o resultado dos
seus atos, como se o mais importante fosse cumprir ordens de forma correta, sem
erros. Outra questão a ser pensada por Hanna que chocou o mundo na época, foi
que uma elite de judeus ajudou no Holocausto diante da passividade ou
cooperação, o que gerou muitas críticas e repúdio, principalmente dos judeus.
Até amigos e companheiros de trabalho se afastaram dela pela sua insistência na
tese.
O filme pretende mostrar uma
parte da vida desta ilustre pensadora, sua relação com o seu marido e grande
amor de sua vida por 35 anos, Heinrich Blucher (Axel Milberg). Temos uma Hanna
Arendt sempre pensativa, reflexiva, escrevendo ou dando aulas, sempre com um
cigarro na boca, olhar distante nas suas reflexões. Cena vital quando Hanna tem
oportunidade de falar para uma platéia de alunos e colegas e explanar sobre sua
tese, mostrando-se uma mulher acima do seu tempo, em pensamentos, palavras e
ações. Neste momento o espectador sente a própria Hanna a defender suas ideias, levando-nos a tirar nossas próprias conclusões.
Neste retrato fascinante faz-se
presente Martin Heidegger, filósofo e seu primeiro professor que a introduziu
na arte do pensar, a quem Hanna muito admirava e com quem teve um caso amoroso
secreto aos 18 anos, apesar dele ser casado e ter 2 filhos.
Outra pessoa que teve grande
influência na vida desta pensadora foi o filósofo Karl Jasper, com quem Hanna
teve uma duradoura amizade e segundo Jasper, ela foi a influência mais
significativa em seu desenvolvimento intelectual.
A atriz Bárbara Sukoma tem um
desempenho marcante de muita sutileza, e consegue passar uma verdade absoluta
sobre a personalidade desta filósofa.
A trilha sonora muito bem
colocada e a direção de Fotografia de Caroline Champetier complementam o filme
de forma excepcional.
Nos momentos do julgamento do
nazista Adolf Eichmann há uma mesclagem de imagens de arquivo durante o
processo em 1961, que a própria cineasta achou mais verossímil não colocar ator
nestas cenas, como ela própria diz ¨mas sim incluí o verdadeiro Eichmann, o
irrefletido; ele não usa do dom de pensar¨; isso deu uma veracidade conceitual
para o espectador, mostra um Eichmann criminoso banal, como mero executor de
ordens, para tentar entender a tese da Hanna.
Hanna não
declara pensar em Eichmann como inocente, mas o conceitua uma pessoa
medíocre, um idiota burocrata, um autômato que cumpria fielmente suas funções,
sem atuar o seu pensar. Como também as lideranças judaicas que acabaram
colaborando para a morte de milhares de judeus. Enfim, a análise crítica levada
pelo pensamento puro, sendo por isto julgada pela maioria das pessoas,
principalmente pelos judeus, que viam em suas idéias, a defesa dos crimes do
nazismo.
Filmes
como Hanna Arendt e O Leitor(Kate Winslet) nos dão uma reflexão sobre atos de
crueldade de pessoas que em nome do dever e do cumprimento de ordens de
superiores, produziram mortes e não conseguem perceber a extensão dos seus
atos.
Filme inteligente que nos instiga
a pensar o que esta grande mulher defensora do pensamento Hanna Arendt muito bem ponderou que ¨Pensar é
a única maneira de sermos totalmente livres¨.
Ontem, pela segunda vez, assisti "Hanna Arendt". Minha intenção era melhor absorver seu pensamento e contextualizá-lo. Também observar detalhes de imagens e falas dos momentos que levaram-na à percepção da real condição do acusado, Eichmann, e ao desenvolvimento do artigo polêmico para o New Yorker, pelo qual foi fortemente repudiada.
ResponderExcluirPensar é muito perigoso, pode desmontar crenças, subverter estruturas arraigadas. Há que ter a coragem de Hanna, e de outros, para expor e sustentar ideias, seja qual for o preço a ser pago.
Como dizia Hanna Arendt, Pensar é a única maneira de sermos completamente livres. Adorei seu comentário. Continue prestigiando este blog, sua colaboração é muito bem vinda.
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