sexta-feira, 16 de agosto de 2013

RENOIR





O filme Renoir, um drama francês do diretor Gilles Bourdos se passa na Cote D’Azur durante a 1ª. Guerra Mundial, 1915, no crepúsculo da carreira do grande pintor impressionista Pierre Auguste Renoir.
O filme mostra os últimos anos de vida de Renoir (falecido em 1919) em sua casa que tornou-se um importante refúgio para o seu trabalho e sua relação afetiva com seus filhos Jean Renoir (Vincent Rottiers) e o mais novo Claude, apelidado de Coco. Mostra o cotidiano de Renoir com as mulheres que conviviam com ele, ajudando nos afazeres domésticos, no cuidar do velho Renoir, já com limitações e dificuldades físicas devido a idade, ao reumatismo e artrite que o acometeu por vários anos.
Há um desejo evidente em mostrar a relação de Renoir (Michel Bouquet) com seu filho Jean, que tinha retornado da Guerra e sua vontade de investir no cinema, tornando-se mais tarde um grande cineasta francês, com grandes obras como A Grande Ilusão e A Regra do Jogo.
Vemos um Renoir já com problemas de saúde, em cadeira de rodas, já com dificuldade para andar e para pintar, contanto com a ajuda sempre presente de várias mulheres, que serviam também de modelo para suas obras.
Quando aparece a jovem Andrée ( Christa Theret) e se oferece para pousar como modelo, há um despertar em Renoir de energia e vigor, e ela passa a ser a nova musa preferida de Renoir, ao mesmo tempo que se envolve emocionalmente com seu filho Jean.
Toda a vida da casa gira em torno de Renoir, que tem uma relação fria com os filhos, com uma certa distância e respeito entre eles. Renoir reina absoluto neste ambiente, sendo o centro e a atenção de todos, principalmente das mulheres que o servem o tempo inteiro e até o carregam na sua cadeira de rodas, com muito esmero e veneração, sendo interessante estas cenas, nos invocando verdadeiros quadros.
A vida de Renoir sempre foi marcada por várias modelos e musas para sua arte, inclusive Aline, sua esposa já falecida e mãe de seus três filhos, foi também sua modelo, e a mais importante foi Gabrielle (interpretada no filme por Romane Bohringer), que conviveu por vários anos com Renoir e sua esposa e ajudou a criar seus filhos, por quem eles mantinham uma grande afetividade.
Com ótimas interpretações, Michel Bouquet está magnífico na figura de Renoir e Christa Theret faz uma Andrée de forma bem natural, com todo o frescor da juventude e uma nudez digna de ser pintada (na vida real ela se tornou esposa de Jean). E Vincent Rottiers (atuou também em A Espuma dos Dias) convence no papel do filho Jean, enfim um elenco com atuação agradável de apreciar.
A fotografia do chinês Mark Lee Ping Bing é algo a se destacar, uma luminosidade em vários momentos que nos leva a lembrar das telas deste grande pintor e seu desejo era sempre realizar uma obra agradável aos olhos, onde priorizava a beleza, dando uma atmosfera de vivacidade e alegria ao seu trabalho.¨A dor passa mas a beleza permanece¨, já dizia Renoir.
Com muitas paisagens naturais, o diretor nos leva ao mundo belo pelos olhos do genial Renoir, um estilo impressionista que dá uma sensação agradável e de bem estar, sempre priorizando o matiz das cores.  Tem momentos que a fotografia torna-se escura, com dificuldade em visualizar até os personagens, imagino para contrapor o impressionismo das paisagens que Renoir se deporta nas suas pinceladas.
Renoir amava as cores, a natureza, a jovialidade das mulheres com suas pele aveludada e seios rígidos, e suas mãos já deformadas pela artrite foi de grande sofrimento para este artista, já não conseguia nem pegar os pinceis para realizar o que sabia transmitir de forma rica e única.¨A vida cotidiana da natureza é um sofrimento para o pintor que não consegue captá-la¨, como ele mesmo refletia.
Terminamos o filme conhecendo e entendendo um pouco deste artista, suas fontes de inspiração, sua forma de enxergar o mundo, onde a cor preta não era bem vinda, como ele mesmo afirmava. Seu desejo enorme de pintar quando a saúde já não permitia e o apego àquele momento que se dissipava, mas não o desestimulava. Um drama do final de vida de um gênio da pintura e o ressurgir de outro, seu filho Jean descobrindo a sétima arte. Seu filho mais novo Claude se tornou um grande fotógrafo.
Um filme de época que prima pela sutileza dos detalhes, pelas cores que seduz o espectador como a enxergar pelos olhos do grande Renoir os nuances que só ele sabia produzir e dar aquele efeito nas suas obras, a intenção do diretor é justamente nos levar a conhecer a vida de Renoir já no seu crepúsculo, suas hábitos e sofrimento e força de vontade em praticar sua arte até os últimos dias de sua vida, sua relação com seus filhos e as mulheres e musas, sua  fonte de inspiração, onde o frescor da juventude tinha um significado vital para suas grandes obras. Enfim, um retrato de uma família talentosa, sem muitas tramas sequênciais, onde o que vale é simplesmente a beleza da pintura deste grande gênio das artes Pierre Auguste Renoir.

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