Este drama francês Os Belos Dias
tem a direção de Marion Vernoux e nos convida a repensar os valores quando se
chega a tal da terceira idade, as frustrações, os anseios, as expectativas e o
preconceito que as próprias pessoas se impõem e a sociedade cobra padrões específicos.
Esta história é uma adaptação do
livro ¨Une jeune fille aux cheveux blancs¨( Uma garotinha de cabelos brancos),
escrito por Fanny Chesnel, que inclusive participou da elaboração do roteiro do
filme, junto com Marion Vernoux.
Os Belos Dias é justamente o nome
de um clube para idosos, os tais da terceira idade. Conta a história da bela
dentista Caroline (Fanny Ardant), que está passando por um período delicado em
sua vida, acabou de se aposentar e sua melhor amiga morreu de câncer. Seu
marido Philippe ( Patrick Chesnais) , um médico ainda em atividade, não faz
questão de perceber a fase que sua mulher está passando e uma de suas filhas
lhe dá de presente um bônus para frequentar este clube Os Belos Dias, mas sequer
perguntam o que ela está sentindo ou precisando naquele momento.
No clube, Caroline se sente uma
estranha no meio de tantos idosos, alguns já sem perspectiva de sentir prazer
ou vontade de viver, mas ela insiste e participa das atividades, como teatro,
cerâmica, terapia em grupo e informática. Justamente na aula de informática
Caroline conhece o professor Julien (Laurent Lafitte), um quase quarentão bont
vivant, mulherengo, que encanta as mulheres com seu charme e jeito de ser e viver de forma despretenciosa.
Julien e Caroline passam a ter um
caso extra conjugal , e a partir daí ela celebra o prazer de fazer o que tem vontade, sem
freio, sem se preocupar com as pessoas, e este novo para Caroline, passa a ter
um significado de descobertas que pela idade, já não são concebidas, como se
sentir desejada, ter prazer sexual, beber um vinho na hora do almoço e se
deixar ficar um pouco embriagada, voltar a fumar, etc.
Em formato realista mas
romântico, o filme nos mostra a melancolia do envelhecer, o quanto é difícil
para as pessoas se permitirem chegar ao tempo da inutilidade (no bom sentido),
mas que isto não significa deixar de sentir prazer em amar, em se sentir
desejada, que não é um tempo só de espera para a morte, e o pior é que existe um
grande preconceito sobre essas questões, e as próprias pessoas e a sociedade se incumbe das
cobranças.
A atriz Fanny Ardant interpreta
uma bela sessentona, numa demonstração de sensibilidade e sexualidade incrível.
E faz um par perfeito com Laurent Lafitte, eles agem de forma natural e leve, e
até as cenas mais picantes têm um charme especial.
Com um bom roteiro, o filme não
mostra apenas uma aventura de uma mulher mais velha com um rapaz mais novo, mas
nos faz repensar que até na maturidade podemos viver de forma plena em todos os
sentidos, sem preconceito e sem amarras. E a importância de aceitar a terceira idade como uma
continuidade de uma vida produtiva, e que a vida continua cheia de sentido, descobertas e prazer, e que sempre há tempo para recomeçar e ser
feliz.
Sem a bobagem da mídia de que velhice é a "melhor idade", sabemos que não é, " Os belos dias" apresenta com realismo a finitude, a incompreensão, o risco da paralisia, dores e medos; mostra possibilidades de novas experiências coletivas, amorosas e familiares, numa fase em que o grande ganho, a meu ver, é a liberdade de ser, sem dever satisfações a muitos. Sem ilusões, mas com tesão pela vida, Caroline, brilha como mulher, mãe e amante do mulherengo Julien, de quem sai a frase perfeita, "...antes de mim, você saberá quando chegar o fim...porque assim é". Fanny Ardant dá show e Patrick Chesnais é sempre muito bom. Bom filme.
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