segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

JOVEM E BELA



 

Uma família padrão é o lar da jovem e bela adolescente Isabelle (Marine Vacth), onde moram sua mãe Sylvie (Géraldine Pailhas) com seu padrasto Patrick ( Fréderic Pierrot) e seu irmão mais novo, e neste verão decidem passar as férias em família, no litoral da França. Este é o ambiente do filme Jovem e Bela, um drama francês, do diretor François Ozon (Dentro de Casa).
O filme é muito bem narrado nas quatro estações do ano, com Isabelle celebrando seu 17º. aniversário, em pleno verão, quando esta linda jovem decide perder a virgindade.
Já no outono, por alguma razão qualquer, provavelmente curiosidade e descoberta do sexo e insatisfações íntimas, Isabelle decide se prostituir. E a partir daí a jovem vive uma vida dupla, de um lado uma adolescente insatisfeita e na outra ponta deste fio tênue, uma jovem prostituta de luxo, segura e decidida com seus inúmeros parceiros, de idades variadas.
Nas outras estações acontece o desenrolar destas atitudes impensadas ou não, que irão repercutir seriamente na vida de Isabelle e da sua família.
Notamos que Isabelle mantêm uma relação distante com sua mãe Sylvie, que por sua vez não procura ocupar um espaço maior na vida da filha, nem se preocupa em acompanhar mais de perto o processo da adolescência, um período de angústias e descobertas para qualquer jovem. Com o irmão mais novo, Isabelle tem uma relação mais aberta e até de confidente, o que é estranho pela diferença de idade, como a transferir papeis familiares.
Esta história acontece de forma natural, a protagonista Marina Vacth tem uma relação meia fria, acredito pelo próprio papel que desempenha, uma garota de 17 anos indiferente ao seu papel na vida familiar, desconectada do seu mundo afetivo e escolar, e com uma certa perversão sexual, que decide por conta própria se prostituir. Com que objetivo? O diretor não deseja entrar nesta questão. Mas mostrar o ¨poder¨que uma jovem imatura passa a ter nesta situação de risco, como juntar dinheiro de forma ¨fácil¨, o poder de sedução sobre pessoas mais velhas, o sentir-se superior em relação aos jovens de sua idade, até uma certa dominação no momento do sexo pela experiência adquirida.
A trilha sonora de Philippe Rombi é muito bem encaixada, em cada estação uma canção, soando como uma pausa para a complexa e linda Isabelle, como também para a plateia. A atriz Marina Vacth atua com uma  naturalidade ao papel que impressiona, e contamos com uma pequena participação da veterana Charlotte Rampling.
O filme nos leva a uma reflexão sobre esta fase da adolescência, com suas descobertas, suas inseguranças, a curiosidade pelo proibido, pela iniciação sexual, drogas, etc. E o experimentar de emoções e caminhos novos, e para Isabelle a escolha foi a prostituição.
Interessante o momento em que os jovens no colégio recitam o poema do poeta Rimbaud, que afirma que na juventude ¨ninguém é sério¨, meio questionável isto.
No final fica a pergunta porque Isabelle se prostituiu e cabe a cada espectador, dentro de uma ótica, de preferência sem julgamento, fazer a sua escolha. Esta é a real essência deste instigante filme de François Ozon, que leva a transgressão de valores morais e faz as pessoas repensarem estas questões.
Filme erótico sem exageros, sem explicações das ações da adolescente Isabelle, que além de bela é fria e calculista; enfim, não é o desejo do diretor fazer apologia ou psicologia do personagem. Mas contar uma história que poderia até ser real e deixar cada um julgar, polemizar, criar, ou não, uma história paralela. Aí, só a sua imaginação vai alcançar.




quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

PEDALANDO COM MOLIÈRE






A comédia francesa Pedalando com Molière (Alceste à Bicyclette), do diretor Philippe le Guay, é um verdadeiro duelo de dois atores, baseado no texto clássico de Molière, O Misantropo.
O respeitado ator, Serge Tanner ( Fabrice Luchini), um mostro sagrado do teatro, vive isolado há cinco anos do mundo artístico na Ilha de Ré, por absoluta decisão pessoal, como uma forma de protesto a tudo que viveu como ator e que, na sua opinião, tem muita hipocrisia e interesses pessoais.
Um conhecido ator de televisão Gauthier Valence (Lambert Wilson), resolve ir ao encontro de Serge, com o intuito de convencê-lo a retornar ao teatro, com a produção da peça O Misantropo, de Molière. Esta peça é considerada o ícone dos grandes atores veteranos de teatro, mas mesmo assim, Gauthier tem dificuldades em convencer seu amigo Serge a participar da produção.
Surge então um desafio, os dois decidem treinar os dois papeis da peça de Molière,  o principal e a segunda fala, especificamente Alceste e Philinte, mas o interesse pessoal de ambos é interpretar o personagem número um.
Nos dias que passam juntos, ocorre um verdadeiro duelo de titãs, com Serge e Gauthier dissertando os textos originais de Molière, de forma eloquente e brilhante. Por justiça, os atores trocam de personagens, em um embate repleto de diálogos, onde a admiração e o repúdio acontecem, com uma inveja velada.
No decorrer do filme, alguns personagens vão sendo introduzidos, como a bela Francesca (Maya Lausa), que sofre com uma separação recente, e cria um novo desafio para os dois amigos, pelo interesse que ela desperta em Serge.
O forte desta comédia é a excelente atuação dos atores Fabrice Luchini e Lambert Wilson, em especial o primeiro, que dá um show de interpretação. E cabe muito bem pelo ótima direção das cenas em que os dois atores dialogam suas falas teatrais.
Enfim, um verdadeiro jogo de manipulação, da arte do teatro, do jogo dos egos inflados dos atores, da super exposição e o quanto isto afeta a vida pessoal dessas pessoas.
Do real ao imaginário, onde a bicicleta tem um significado de ir ao encontro ou fugir da exposição pública que o artista vive, do poder pedalar livremente junto a Molière, tendo como compromisso apenas seus textos fabulosos.
Com uma boa fotografia e diálogos super originais e inteligentes, adequando a peça à vida real dos atores, a vaidade velada é a tônica marcante entre estes dois atores.
Para quem curte comédia com um fundo teatral, imperdível!!


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O EXPRESSO POLAR




É Natal, tempo de renovação espiritual, onde o Amor e o espírito fraternal estão presente  nos corações das famílias, em especial das crianças.
Com esse espírito natalino, sobre um tempo mágico do Natal, o filme O Expresso Polar (2004) permanece vivo como nunca, neste tempo de magia e fraternidade.
Com um espetáculo visual incrível e cativante, esta animação tem a direção do cineasta Robert Zemeckis, responsável por grandes filmes, como Forrest Gump: o contador de histórias. O filme tem uma força  para esta época do Natal, nos remete ao espírito natalino, de muitas luzes, paz e amor ao próximo.
Com um ótimo elenco tendo Tom Hanks à frente, como o condutor do trem e o Papai Noel.
Véspera de Natal, um garoto está acordado, ele perdeu a esperança e já não acredita na existência do Papai Noel, e espera que algo aconteça  que venha mudar algo dentro do seu coração. Ouve-se um estrondo e lá está um trem escuro com destino ao Polo Norte.
O condutor do trem (Tom Hanks) convida o descrente menino para embarcar nesta viagem cheia de aventura, que o levará a conhecer o mundo imaginário (ou real?) do Natal, com sua magia, com Papai Noel e seus compromissos com as crianças.
Como estará  este garoto que perdeu a fé no Natal,  no final desta viagem mágica no expresso polar?
Ao assistir este desenho maravilhoso, apreciado por crianças e adultos, ao final desta aventura cada um de nós resgatará dentro de si a magia do Natal, com suas crenças, suas luzes, seu poder de fé e sedução, e a importância deste resgate no coração das pessoas.
O espírito do Natal está no ar e este filme nos nos faz refletir sobre a esperança de dias melhores, de amizade, solidariedade e o verdadeiro significado do Natal e do Papai Noel, principalmente para as crianças.
Feliz Natal do blog cineamado para todas as famílias!!!!


quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

UM ESTRANHO NO LAGO







Drama francês com direção do cineasta Alain Guiraudie (Esse Velho Sonho que se Move, 2001), Um Estranho no Lago é todo ambientado em um local bucólico e natural, um lago cercado por um bosque, com águas límpidas e árvores ao redor da areia cheia de pedregulhos.
Neste local isolado situa-se um lugar naturista, onde homossexuais nudistas vão à procura de parceiros para saciar seu desejo sexual. O curioso deste filme é, além de ser homoerótico, é focado somente em homens de todos os tipos, jovens feios, bonitos e sarados, coroas barrigudos, mostrando a solidão das pessoas e a dificuldade de relacionamentos sólidos, e para saciar desejos íntimos sexuais, são capazes de ir ao encontro do desconhecido, de arriscar a vida; e na questão do prazer, o arriscado e o proibido erotizam mais as tensões pessoais.
Filme que fala de sexo fugaz e amizade entre homens. Franck ((Pierre Deladonchamps), um rapaz doce e romântico é um frequentador novato deste local, onde homens vão à caça de pessoas do mesmo sexo que te atraiam, e conhece o lenhador sessentão Henri (Patrick d’Assumção), iniciando uma amizade sem interesse sexual. Embora Henri não seja gay, vai ao lago todos os dias para refletir sobre a vida e apreciar a bela paisagem. Ambos solitários, o jovem Franck gosta de conversar com Henri, que passa a nutrir uma amizade, considerando-o  um amigo.
Franck se apaixona por Michel (Christophe Paou), um belo homem misterioso, e iniciam uma relação meramente sexual, de grande intensidade, magnetismo e erotismo fulminante, onde Michel é o dominante da situação.
Quando ocorre um crime no lago, esses três homens são envolvidos nesta trama e passam a ser alvo de um investigador da polícia. A partir daí o filme toma um ar de suspense, embora de forma crua e direta, inclusive pela ausência de trilha sonora.
Este filme prima pelas cenas de sexo entre homens de forma tensa e altamente erótica,    inclusive sexo explícito, mostra a sexualidade entre homossexuais à flor da pele, cujo único compromisso é o desejo e a satisfação sexual momentânea.
Com uma boa fotografia, com muita luz do sol, a água límpida do lago com raios de luz, as árvores balançando no bosque. E por incrível que pareça não existe trilha sonora, só o som ambiente, como o farfalhar das folhas ao vento, o mergulho e o nadar dos homens no lago, deixando o som do desejo tornar-se mais intenso, e o voyeurismo, algo comum nas pessoas, soar mais alto.
Na maior parte do filme os homens estão totalmente despidos, desprovidos do pudor, transcendendo qualquer preconceito, ou incomodando a plateia pelo mesmo motivo e pelo apelo erótico excessivo.
O filme mostra o que há de mais primitivo na humanidade, a sexualidade, os anseios incontroláveis do corpo, sem julgamentos. Mas exagera nas cenas de sexo explícito, que poderiam insinuar o desejo sexual sem precisar mostrar tão de perto o ato sexual em si. Mas creio que este foi o  desejo do cineasta, mostrar o mundo real da caça ao sexo entre homens desconhecidos pelo simples prazer carnal, e o quanto existe de solidão nesta procura.
Mostra os riscos do sexo aleatório nas comunidades gays, e a solidão de grupos que sofrem preconceito.
Filme incomodativo, inquietante pelas cenas de sexo explícito, que por sinal são bem naturais e cruas, uma mescla de desejo, medo e solidão. Filme com muita luminosidade no seu decorrer, mas o escuro do final instiga a uma interrogação sobre o que se passa no íntimo das pessoas solitárias, que estão em busca de algo e deixam o sexo te possuir por inteiro, de forma bestial, possivelmente para ocupar uma lacuna, a escuridão da alma.
Vencedor do Premio Melhor Direção na Mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

JUAN E EVITA - UMA HISTÓRIA DE AMOR





O filme Juan e Evita – uma História de Amor inicia em 1944, quando o viúvo Juan Domingo Perón  (Osmar Núñez) conhece a jovem Eva Duarte (Julieta Diaz), e logo depois inicia-se um romance entre este militar, poderoso coronel do Exército que mais tarde se tornou Presidente da Argentina em eleições diretas em 1946, e esta jovem atriz de rádio em ascensão, Eva Duarte.
Juan e Eva logo passam a viver juntos, apesar de ser visto à contragosto pelos companheiros de trabalho de Perón, como também pelas pessoas mais próximas a ele.
Juan Domingo Perón chega ao posto de Vice-Presidência do governo da época, sendo depois demitido e preso pelas alas conservadoras do Exército.
Mas o governo da época é obrigado a libertá-lo, devido a Greve Geral dos Trabalhadores, que foram às ruas de Buenos Aires vindo de várias regiões, exigindo sua libertação. Esse dia 17 de Outubro ficou conhecido como o Dia da Lealdade, com a consolidação do Peronismo, uma ideologia política peculiar da Argentina.
Apesar de toda turbulência política da época, o casal se une mais ainda. Ao ser libertado, Juan e Evita se casam 5 dias depois, consolidando o grande amor e afeto que nutriam. Perón foi eleito um ano depois Presidente da Argentina em eleições diretas, por três mandatos consecutivos.
O interessante deste filme é conhecer o início da história de amor entre Juan e Eva,  como pessoas humanas que eram, não os mitos Perón e Evita. Com direção da cineasta Paula de Luque, os atores Osmar Núñez  e Julieta Diaz têm uma boa atuação, embora sem muito carisma.  Direção contida, sóbria, sem exageros, onde Evita perde um pouco a sua força, ficando à sombra de Perón.
Apesar de ser um romance, o filme tem foco no período histórico de grande importância na história política da Argentina.
Conhecemos um Perón e Evita enamorados, onde os tumultuados fatos políticos só reforçam o amor deles, como em certa cenas eles demonstram uma grande afinidade e companheirismo. Como quando ele é preso e Evita fica desesperada, receosa de sua morte. Como também na cena em que eles estão sozinhos no quarto, fumando e entre sussurros, Perón diz algo no ouvido de Evita que só ela ouve, mas fica para o espectador como um afago ou uma jura de amor, que só pertence aos amados.
Evita Perón morreu aos 33 anos de idade, vítima de câncer, assim como a primeira esposa de Juan Domingo Perón.
¨A morte prematura eterniza o Amor¨- assim disse Juan a Evita.


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

ÚLTIMA VIAGEM A VEGAS




Assistir uma comédia agradável e inteligente, com atores de primeira grandeza, um roteiro enxuto e pertinente é um entretenimento que nos deixa com uma sensação de leveza na alma e um belo sorriso no rosto. É justamente esta a proposta do filme Última Viagem a Vegas, direção de Jon Turteltaub ( A Lenda do Tesouro Perdido) e roteiro de Dan Fogelman  (Os Enrolados).
Um filme com um quarteto de atores da terceira idade como Michael Douglas, Robert de Niro, Morgan Freeman e Kevin Kline, com uma sintonia incrível, cada um interpretando um personagem com características bem próprias e diferentes entre si, falando das questões da velhice de forma divertida, sem cair no caricato nem no chulo. Esse elenco de primeira realmente é o grande diferencial do filme, cuja proposta é justamente uma diversão para todas as idades; o que estes grandes atores fazem com maestria, em especial Morgan Freeman que está impecável no papel do velho amigo Archie Clay.
Temos a história de quatro amigos de infância, cada qual com suas peculiaridades, que decidem se encontrar em Las Vegas, 60 anos depois, para uma despedida de solteiro. Billy Gerson (Michael Douglas) é um solteirão setentão rico e que decide se casar com uma jovem de 30 anos, mas sua única paixão na vida foi a esposa de seu amigo Paddy (Robert de Niro), um sujeito rabugento e de mal com a vida, e que está viúvo há um ano. Os outros dois parceiros de infância para completar este Quarteto da Amizade são: Sam (Kevin Kline), casado há 40 anos, insatisfeito com a monotonia do casamento , e Archie Clay (Morgan Freeman), que mora com seu filho e nora, numa casa cheia de regras e super proteção.
Vale ressaltar a atuação da atriz Mary Steenburgen, interpretando uma cantora em Las Vegas, onde conhece esse grandes  amigos, ao som da música ¨Only You¨. Por sinal, um momento super interessante do filme. O rapper 50 Cent faz uma ponta nesta comédia, onde músicas românticas se entremeiam com músicas eletrônicas nas noites alegres de Las Vegas.
Filme gostoso de assistir, divertidamente agradável, com uma mensagem de conteúdo sobre amizade, lealdade, velhice e os reais valores da vida. E quando se chega a maturidade essas questões são mais fortalecidas e ajudam a enfrentar com leveza as dificuldades inerentes à velhice.


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A VOZ ADORMECIDA




Este drama espanhol A Voz Adormecida (La Voz Dormida), do diretor Benito Zambrano, tem como pano de fundo a Guerra Civil Espanhola, e é uma adaptação do romance da grande escritora Dulce Chacón.
Passado nos anos 1940, focaliza a dureza do cotidiano das mulheres presas envolvidas na luta política contra o regime franquista, na prisão em Madrid.
Conta a história de duas irmãs de Córdoba, Hortênsia (Inma Cuesta) e Pepita (Maria León). Hortênsia é presa por ser  militante contra o regime franquista, e para piorar sua situação, está grávida e seu marido, também militante, é procurado pelo regime.
Sua irmã Pepita sai de Córdoba para tentar ajudar sua irmã na prisão, visitando-a e termina sendo um elo entre Hortênsia e os guerrilheiros. Desta forma Pepita conhece o chefe dos guerrilheiros, Paulino (Marc Clotet) e se apaixonam.
Enquanto Hortênsia sofre as agruras da prisão, sempre à espera da morte, Pepita luta pela liberdade da irmã.
Na prisão em Madrid, as mulheres são maltratadas, torturadas e humilhadas ao extremo, chegando até a serem fuziladas. E a Igreja Católica desta época, em nome de um Deus,  compactuou com o regime franquista e fez atrocidades com as detentas militantes.
O filme mergulha nas trevas após a Guerra Civil Espanhola,  numa forma bastante densa, mostrando o terror das mulheres nas prisões, tendo a cumplicidade da Igreja de uma forma tão violenta, que choca o espectador.
A atriz Maria León, com sua excelente atuação, foi premiada com o Goya 2012 na categoria Melhor Atriz Revelação. Mas no geral, todos os atores têm uma ótima atuação, bastante verossímil.
Um drama excelente, com ótimo roteiro e boa trilha sonora, que nos leva às lágrimas, pelas fortes cenas de violência, dos horrores do sofrimento das mulheres nas prisões durante a ditadura de Franco.
Termino com uma citação da militante Hortênsia, quando perguntada o que desejava para o seu que iria nascer: ¨Uma Espanha livre de caudilhos e de padres¨.




quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

LORE






Filme selecionado para a Mostra Panorâmica do Cinema Mundial do Festival do Rio 2012 e ganhador de Premio do Festival de Locarno 2012.
Segundo longa da diretora Cate Shortland ( produção Reino Unido /Austrália/Alemanha), o drama passado no período pós Segunda Guerra Mundial,  Lore consegue nos oferecer uma lente nova sobre os sobreviventes da guerra e o nazismo.
Passado em 1945, final da Segunda  Guerra Mundial, quando o Terceiro Reich perde o poder e os aliados ocupam a Alemanha . A família da jovem Lore ( Saskia Rosendahl)  se desintegra, pois seu pai ( Hans-Jochen Wagner), um oficial nazista, é obrigado a fugir com sua esposa (Ursina Lardi), deixando com Lore a incumbência de levar seus quatro irmãos, inclusive um ainda bebê, para Hamburgo, onde mora sua avó.
Nesta aventura sinistra pela Floresta Negra, como Lore assim chama, com muitos infortúnios, dificuldades e  privações, Lore terá que enfrentar para defender a si própria e seus irmãos, que estão sob sua proteção.  Nesta difícil e triste jornada, Lore conhece Thomas ( Kai Malina), um judeu que muito a ajudará a enfrentar seus ¨inimigos¨. Inclusive o próprio Thomas, por ser judeu, torna-se um alvo para Lore, que nutrirá por ele um sentimento dúbio, um misto de asco e gratidão, de descrédito e ter que confiar a qualquer custo.
Lore, uma jovenzinha alemã que se vê obrigada a sair do seu lar, sinônimo de segurança, para conhecer o outro lado de uma história tão cruel. Lore, que foi ensinada a nutrir um sentimento de  idolatria e lealdade pelo seu Furher, é obrigada pelas novas circunstâncias a conhecer um outro mundo, invadido pelos horrores da Guerra e pela desumanidade, pela fome e pelo desespero.
Um filme sensível e intenso, triste, mostrando que nesta guerra infame, as vítimas vieram de todos os lados do mundo.
Com roteiro e direção impecável, fotografia ímpar, com poucos diálogos, câmera em vários momentos no rosto dos atores, principalmente da personagem Lore, que tem uma ótima interpretação da jovem atriz Saskia Rosendahl.
A personagem Lore, uma jovem alheia aos acontecimentos da Guerra, que pelos ensinamentos de seus pais aprendeu a odiar os judeus, vai ser testada sobre o que aprendeu, e a discernir o certo do errado por uma nova ótica. É como se Lore com esta terrível vivência, perdesse a sua inocência e enxergasse o mundo real desta época tão terrível e triste.
Filme doloroso  e triste, em que o espectador pena junto com os acontecimentos que assiste, em cenários e fotografia ímpar, onde a diretora consegue permear momentos de emoção junto a natureza, nas florestas da Alemanha, com a situação terrível dos sobreviventes da Segunda Guerra Mundial, inclusive os alemães.
O filme nos permite repensar o mal que a Segunda Guerra Mundial causou nas pessoas , nas famílias que tiveram o dissabor de presenciar e vivenciar, ate as últimas consequências, este lado sombrio e brutal da história que tanto nos envergonha.



segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

TREM NOTURNO PARA LISBOA






Com a direção do cineasta Bille August, o filme Trem Noturno para Lisboa, é baseado no livro homônimo de Pascoal Mercier. Nos leva a história do professor de latim, o suíço Raimund Gregorius (Jeremy Irons), que vive uma vida solitária e acomodada em sua rotina de professor, sem vínculos afetivos, um homem pacato sem outras expectativas de vida.
Em uma de suas idas ao colégio, ao passar por uma ponte na cidade suíça de Berna, o acaso leva Raimund a salvar uma jovem misteriosa de se jogar de uma ponte. E a  jovem  termina esquecendo seu casaco vermelho, e dentro do bolso, Raimund encontra um livro sobre a vida do médico português Amadeu do Prado, que também era filósofo e escritor. E dentro do livro uma passagem para Lisboa.
Com o livro e a passagem para Lisboa, Raimund deixa-se levar pela emoção e parte para uma jornada cheia de aventura em Lisboa. Enfim, Raimund deixa sua vidinha pacata de professor, e vai em busca de um sentido para sua vida.
O filme se passa através da leitura deste livro, cheio de frases de auto ajuda, e assim o professor Raimund vai conhecendo a vida de Amadeu do Prado, este jovem médico que lutou contra o regime de ditadura de Salazar.
Tendo como cenário principal a cidade de Lisboa, com suas cores vibrantes e uma boa fotografia, as lindas paisagens desta cidade lisboense vai fazendo parte da história envolvente, contada através da leitura do livro de Amadeu do Prado.
Com atores de peso como Jeremy Irons, Melanie Laurent, Christopher Lee, Lena Olin, vale o destaque para Jeremy Irons como o protagonista Raimund Gregorius, numa interpretação surpreendente, que nos convence com sua sensibilidade e aguçado interesse na verdade que se oculta nas entrelinhas do livro.
O filme teria tudo para brilhar pela história bonita e interessante, que leva até a um certo suspense, mas peca pela narrativa cansativa, ainda mais para quem leu o livro, como se o mergulho não fosse suficiente para a abordagem desejada. Outra estranheza do filme é que, apesar de passar em Portugal, a língua falada nos diálogos é sempre em inglês, inclusive com os moradores de Lisboa.
No final temos uma linda mensagem do filme, do quanto é importante viver a vida com toda a sua plenitude, se deixar levar pelo coração e pela emoção, correr atrás dos seus desejos, tentar sair da rotina, do marasmo e se arriscar, para atingir seus sonhos e descobrir novos caminhos.
O cineasta Bille August é conhecido por filmes marcantes, como Pelle, o Conquistador  e As Melhores Intenções, ganhador do Troféu Palma de Ouro.