quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

UM ESTRANHO NO LAGO







Drama francês com direção do cineasta Alain Guiraudie (Esse Velho Sonho que se Move, 2001), Um Estranho no Lago é todo ambientado em um local bucólico e natural, um lago cercado por um bosque, com águas límpidas e árvores ao redor da areia cheia de pedregulhos.
Neste local isolado situa-se um lugar naturista, onde homossexuais nudistas vão à procura de parceiros para saciar seu desejo sexual. O curioso deste filme é, além de ser homoerótico, é focado somente em homens de todos os tipos, jovens feios, bonitos e sarados, coroas barrigudos, mostrando a solidão das pessoas e a dificuldade de relacionamentos sólidos, e para saciar desejos íntimos sexuais, são capazes de ir ao encontro do desconhecido, de arriscar a vida; e na questão do prazer, o arriscado e o proibido erotizam mais as tensões pessoais.
Filme que fala de sexo fugaz e amizade entre homens. Franck ((Pierre Deladonchamps), um rapaz doce e romântico é um frequentador novato deste local, onde homens vão à caça de pessoas do mesmo sexo que te atraiam, e conhece o lenhador sessentão Henri (Patrick d’Assumção), iniciando uma amizade sem interesse sexual. Embora Henri não seja gay, vai ao lago todos os dias para refletir sobre a vida e apreciar a bela paisagem. Ambos solitários, o jovem Franck gosta de conversar com Henri, que passa a nutrir uma amizade, considerando-o  um amigo.
Franck se apaixona por Michel (Christophe Paou), um belo homem misterioso, e iniciam uma relação meramente sexual, de grande intensidade, magnetismo e erotismo fulminante, onde Michel é o dominante da situação.
Quando ocorre um crime no lago, esses três homens são envolvidos nesta trama e passam a ser alvo de um investigador da polícia. A partir daí o filme toma um ar de suspense, embora de forma crua e direta, inclusive pela ausência de trilha sonora.
Este filme prima pelas cenas de sexo entre homens de forma tensa e altamente erótica,    inclusive sexo explícito, mostra a sexualidade entre homossexuais à flor da pele, cujo único compromisso é o desejo e a satisfação sexual momentânea.
Com uma boa fotografia, com muita luz do sol, a água límpida do lago com raios de luz, as árvores balançando no bosque. E por incrível que pareça não existe trilha sonora, só o som ambiente, como o farfalhar das folhas ao vento, o mergulho e o nadar dos homens no lago, deixando o som do desejo tornar-se mais intenso, e o voyeurismo, algo comum nas pessoas, soar mais alto.
Na maior parte do filme os homens estão totalmente despidos, desprovidos do pudor, transcendendo qualquer preconceito, ou incomodando a plateia pelo mesmo motivo e pelo apelo erótico excessivo.
O filme mostra o que há de mais primitivo na humanidade, a sexualidade, os anseios incontroláveis do corpo, sem julgamentos. Mas exagera nas cenas de sexo explícito, que poderiam insinuar o desejo sexual sem precisar mostrar tão de perto o ato sexual em si. Mas creio que este foi o  desejo do cineasta, mostrar o mundo real da caça ao sexo entre homens desconhecidos pelo simples prazer carnal, e o quanto existe de solidão nesta procura.
Mostra os riscos do sexo aleatório nas comunidades gays, e a solidão de grupos que sofrem preconceito.
Filme incomodativo, inquietante pelas cenas de sexo explícito, que por sinal são bem naturais e cruas, uma mescla de desejo, medo e solidão. Filme com muita luminosidade no seu decorrer, mas o escuro do final instiga a uma interrogação sobre o que se passa no íntimo das pessoas solitárias, que estão em busca de algo e deixam o sexo te possuir por inteiro, de forma bestial, possivelmente para ocupar uma lacuna, a escuridão da alma.
Vencedor do Premio Melhor Direção na Mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes.


Um comentário:

  1. Tudo é superficial e tosco nesse "Lago" cheio de solidão e vazio. Ao contrário do expressivo "Azul...", para mim, o filme é tão monótono e desinteressante como a pobreza existencial dos personagens que retrata. Salva-se (será?) o personagem Henry, que dá certo tom sensível e reflexivo, contraponto à história, mas sem força para justificar meu gostar.

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