O drama Álbum de Família, direção de John Wells, com texto
de Tracy Letts, também uma peça de teatro. Com um elenco de grandes atores,
afiadíssimos nos seus papeis, encabeçado pela grande atriz Meryl Streep,
maravilhosa e imbatível na personagem principal Violet, uma mãe de família
viciada em entorpecentes e com câncer de boca, o que a leva a se dopar e se
tornar dependente das drogas cada vez mais.
Um drama pesado, digno de uma peça de teatro, com formato
interessante para o cinema, com cenas externas e um grupo de atores em sintonia
absoluta, uma trilha sonora bem adequada ao lugar interiorano e às situações
vivenciadas pelos personagens.
Com o desaparecimento de seu marido, Violet (Meryl Streep)
convida toda a família, suas três filhas, a irmã com o marido e a partir daí
inicia-se um desenrolar de situações desagradáveis, com Violet sempre à frente
das situações vexatórias.
Sua filha Barbara (Julia Roberts) é a mais sofrida da todas,
com seus problemas pessoais com o ex-marido Bill (Ewan McGregor) e sua filha
adolescente, é a mais apegada ao pai e com mais dificuldade de relacionamento
com a mãe. A solteira e pacata Ivy (Julianne Nicholson) sempre morou e ajudou a
cuidar dos pais, e deseja se libertar
desta situação e viver sua própria vida. E Karen (Juliette Lewis), uma
quarentona superficial, que adora viver de luxo e aparência.
Nesta reunião de família, a matriarca Violet destila
toda a sua amargura e rancor contra suas filhas, principalmente sobre Barbara,
a favorita do pai e que deixou de frequentar a casa e dar atenção a eles, desde que se
casou. As mágoas e rancores vão sendo colocados a cada momento de forma áspera
e agressiva, com uma força dramática, sem pudores as máscaras de
cada personagem vão caindo e revelações vão aparecendo, de forma intensa e inquietante,
para toda a família.
A forma violenta e cruel como a mãe Violet ataca suas
filhas, palavras ferinas, sempre de ataque destilando muita raiva e amargor
pela vida em geral, e encontra em Barbara um contra-ataque, com
respostas chocantes, inclusive para os espectadores.
Meryl Streep concorre pela 18ª. Vez ao Oscar de Melhor
Atriz, com uma interpretação espetacular, um papel difícil, mas só Meryl
para conseguir uma performance tão primorosa, inigualável. A atriz Julia
Roberts concorre também ao Oscar na categoria Atriz Coadjuvante, também está perfeita, com diálogos que levam a um embate com sua problemática
mãe Violet, de uma veracidade incrível.
Filme denso, com fortes cenas de agressão familiar, um texto
pesado e peculiar dentro de uma conjuntura familiar que fala de traição,
manipulação de poder, dependência química, de forma trágica e sarcástica, com
diálogos beirando ao limite caricato, a cada instante novas revelações, novas
intrigas, um lavar de roupa suja familiar que não se finda, momentos
inquietantes que chegam a nos atordoar.
Um dramalhão bem teatral, exagerado, com surpresas a todo
instante, que nos agride e nos impulsiona até o final. Filme que nos leva a uma
reflexão sobre o valor da família, da harmonia e da necessidade de dialogar, de
encarar os problemas de frente, e o quanto é importante o amor, a união e o diálogo, como
base familiar.
Dramalhão familiar à lá Nelson Rodrigues, nesse Álbum não resta foto sem mácula. Ressentimentos, segredos, disputas e quebra de confiança fornecem intermináveis emoções. Meryl Streep, caricatural, sempre maravilhosa e Julia Roberts fazendo o contraponto, tendo oportunidade de mostrar sua capacidade dramática, formam uma dupla e tanto.
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