segunda-feira, 30 de setembro de 2013

LOVELACE





O filme Lovelace (EUA) tem a direção da dupla Rob Epstein e Jeffrey Friedman  e é baseado na cinebiografia da atriz pornô Linda Lovelace, tendo como padrão o livro ¨Ordeal¨ (Privação) , escrito em 1980 por Linda, que para isso precisou passar por um detector de mentiras, e tornou-se ativista contra a indústria pornográfica. Inclusive ela alega que não recebeu nada pelo filme Garganta Profunda, embora tenha rendido aos seus produtores o equivalente a 600 milhões de dólares.
A história real do filme passado na década de 1970,  conta a vida da jovem Linda Boreman 
( Amanda Seyfried), que vive num lar conservador, cuja mãe dominadora e autoritária, Dorothy Boreman (Sharon Stone), a proíbe de sair e está sempre a pregar religião e a obediência da mulher ao marido. Para fugir desta realidade, Linda se envolve com Chuck Traynor (Peter Sarsgaard), e termina casando com ele.
O marido de Linda a encaminha para o cinema pornô e nesta época ela é a primeira mulher a realizar um filme pornográfico para platéia de cinema. Tornando-se assim um marco na indústria pornográfica.
O filme Garganta Profunda teve uma repercussão na época fenomenal, inclusive pelas primeiras cenas de sexo explícito no cinema, e notoriedade para Linda. Mas por trás de toda esta história, está uma mulher insatisfeita, com um marido violento que a obrigava a fazer estes filmes pornográficos, a se prostituir, e a quem humilhava e molestava fisicamente e sexualmente.
Anos depois Linda se separa de Chuck e decide investir contra a indústria pornográfica contando sua história, que teve uma grande repercussão.
Sem cair na pornografia e no erotismo, o filme leva a biografia de Linda Lovelace ao pé da letra, com uma boa fotografia que retrata a época dos anos 70.  O universo pornográfico é abordado sem julgamentos, mas também sem maiores aprofundamentos. O interesse maior é mostrar a vida da jovem Linda, criada com todo rigor em uma família conservadora e religiosa, e que termina se tornando a grande protagonista do marco do cinema pornográfico Garganta Profunda., em1972. No filme, vemos uma Linda vítima de um marido machista e agressivo e do próprio sistema em que vive.
A atriz Amanda Seyfried foge de seus personagens pueris, como Querido John e Cartas para Julieta, e interpreta de forma perfeita a jovem Linda insegura, ingênua e em certas horas provocante. A atriz Sharon Stone está irreconhecível como Dorothy , a mãe rígida nos costumes e na educação da filha.
O filme tem suas qualidades, atraente na história a contar, mas que em alguns momentos se perde, deixando o espectador confuso. Mas mostra no final uma história real com grande ensinamento, embora de forma um pouco superficial.


quinta-feira, 26 de setembro de 2013

BLING-RING : A GANGUE DE HOLLYWOOD





A cineasta Sofia Coppola assume a direção do filme Bling- Ring: A gangue de Hollywood, com estilo moderno e pop, diferente de filmes anteriores, como Encontros e Desencontros, As Virgens Suicidas, Um Lugar Qualquer.
Baseado em fatos reais, este drama (EUA) conta a história de um grupo de adolescentes, jovens de classe média alta de Los Angeles, que vivem uma vida  fútil, vazia, sem objetivos reais, e que convivem com milionários e estrelas em festas, boites e se encantam com o estilo de vida dessas personalidades.
Então decidem praticar furtos nas casas dos milionários, em geral na calada da noite e quando os mesmos estão viajando. Para isto eles pesquisam na internet o endereço dos famosos, como Paris Hilton, Lindsay Lohan, Kirsten Dunst, Orlando Bloom, e passam a penetrar com a maior facilidade na casa deles. E fascinados pelo poder, saqueiam dólares, roupas, objetos de arte, relógios, etc. Roubam simplesmente por futilidade e com o intuito de imitar a vida de esbanjamento dos milionários. Tudo regado a muita badalação, drogas, exposição visual, inclusive compartilhado na internet.
O depoimento dos componentes do grupo à polícia é entremeado com narrativas no filme, em um clima bem realista, com linguagem atual despojada, bom ritmo, visual exuberante. Tudo isto embalado  a uma ótima trilha sonora moderna, pop, que pontua a atuação dos jovens transviados nas residências, nas boites, na escola.
O relato da vida desses jovens, dessas patricinhas fúteis e interesseiras, são bem construídas, de forma descolada assim como são os jovens. Inclusive faz um tour na  mansão de Paris Hilton, com sua boite particular, seus closets e outras extravagâncias típicas dos milionários.
A questão é que o filme se limita a mostrar apenas este Universo luxuoso e a gangue de jovens  inconsequentes de forma superficial e não faz menção em se aprofundar no lado psicológico dos personagens e o que leva pessoas a  terem valores tão incorretos. Jovens que cultuam a fama, a ostentação, que desejam e querem copiar a vida das celebridades, enfim, uma geração tola, limitada, fútil, onde a inutilidade se equipara à falta de limite e omissão dos pais.
Após certo tempo do filme isto se torna  repetitivo, para quem espera algo mais .  Mas tudo indica que Sofia Coppola tinha apenas o objetivo de contar esta história incrível, sem maiores aprofundamentos. Se assim foi, conseguiu seu intento de forma correta.
As atrizes Katie Chang (Rebecca), Claire Julien (Chloé) e Emma Watson (Nicki) elaboram de forma eficiente seus personagens, em destaque Emma Watson (da saga Harry Porter), com ótima interpretação da bela e odiosa  patricinha Nicki. O jovem ator Israel Broussard (Marc), o único rapaz neste grupo de meninas, tem uma participação especial.
Ao término do filme fica uma inquietação, um incômodo ao constatar uma juventude tola e superficial, egoísta, de uma futilidade ao extremo, sem perspectiva futura de valor, com pais que aplaudem ou se omitem, sem sequer impor limites na vida desses jovens.
E este incômodo aumenta ao perceber que, um filme com uma questão social tão séria, perdeu a oportunidade de se aprofundar e deixar uma mensagem mais positiva e de valor para outros jovens.



segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A RELIGIOSA





O filme A Religiosa (França/Alemanha/Bélgica), direção do conceituado diretor Guillaume Nicloux, é um drama ambientado no século XVIII, adaptação do clássico da literatura francesa, o romance de Denis Diderout  ¨La Religieuse¨.
Tem como personagem central a jovem Suzanne Simonin (Pauline Etienne), que tem uma devoção e fé religiosa muita grande, e seus pais decidem encaminhá-la para um convento de freiras e ser preparada para se tornar uma religiosa. Apesar de toda sua crença e fé em Deus, Suzanne tem convicção que não deseja ser freira,  contrariando o propósito de seus pais, que por dificuldades financeiras, a mantêm enclausurada no convento.
Mesmo a contragosto, Suzanne é preparada para um processo necessário de ordenação religiosa, mas ela não deseja mentir para Deus, e insiste em não permanecer no convento. Por esta decisão de não querer abraçar a vida religiosa, ela torna-se vítima do próprio sistema autoritário católico daquela época .
A jovem Suzanne passa a sofrer humilhação de todos os tipos, sadismo, assédio sexual, mas mesmo assim continua convicta de seu propósito de sair do converto e ter uma vida mundana. Ela é transferida para vários conventos e mesmo assim nada a convence a aceitar a vida religiosa.
Com produção esmerada e uma fotografia belíssima, com riqueza de detalhes da vida no monastério, este filme nos revela uma impecável reconstituição de época, tendo ao fundo uma excelente trilha sonora. Destaque especial para os figurinos de época, com cenas muito bem elaboradas dentro dos conventos, cheio de rituais e regras próprias.
Fica evidente o foco no lado psicológico dos personagens, e a atriz Pauline Etienne consegue uma interpretação apurada como a bela e sofrida Suzanne. A atriz Isabelle Huppert é um destaque a parte, como a Madre Superiora que se apaixona e assedia sexualmente a jovem Suzanne.
Na 1ª. Versão do filme A Religiosa do diretor Jacques Rivette (1966), foi muito comentado e até censurado em certos países pelo tema forte que envolve o sistema religioso católico, autoritário e severo naquele século.
Filme muito bem elaborado com rituais da Igreja Católica, que ao mesmo tempo fascina e nos intriga a   discussões diversas. As religiões devem levar à libertação, não ao aprisionamento. Generosidade, compreensão, amor ao próximo devem ser pontuais na crença religiosa. E o que vemos no filme é justamente o oposto,  um lado obscuro da Igreja Católica, em séculos passados onde o autoritarismo e a opressão eram permitidos em nome da Fé Cristã.
Indicado para a Competição Oficial do 63º. Festival de Berlim.



sexta-feira, 20 de setembro de 2013

HANAMI - CEREJEIRAS EM FLOR




Um drama (Alemanha) com roteiro e direção da cineasta  Dóris Dörrie,  com uma trama sensível e rica em simbolismos.
Conta a história de um casal de meia idade que moram em um vilarejo na Bavária, uma vida pacata e simples. O marido Rudi (Elmar Weeper) é um homem bom mas egoísta, que só deseja viver sua vida aposentada, de forma metódica e sistemática e não consegue escutar os anseios e desejos de sua esposa.
Já Trudi (Hannelore Elsner) é uma mulher generosa, que tudo faz para agradar o marido e esquece de si, com sonhos não realizados como ir ao Japão visitar seu filho e conhecer a cultura oriental e seus monumentos, em especial o Monte Fuji, pois ela é adepta da dança do Butô, uma dança filosófica típica desta região. Através desta arte Trudi tenta encontrar sua paz interior e passar seus ensinamentos para seu marido.
Quando Trudi descobre que seu marido tem uma doença terminal, ela guarda este segredo para si e decide visitar os filhos em Berlim. A contragosto Rudi a acompanha, mas o que ocorre é um desconforto e choque entre pais e  filhos, que os acolhem de forma fria e sem afetividade, pois estão mais preocupados em viver suas vidas de forma egoísta e individualista e não tem tempo nem interesse em se dedicar aos pais.
Neste contexto Trudi  falece inexplicavelmente, de forma tranquila, dormindo. Rudi perde o chão,  desorientado, transtornado e em depressão, sentindo-se um estorvo para os filhos, viaja para o Japão em busca dos sonhos de sua mulher e sua própria redenção.
Em Tókio,  Rudi vai em busca de pistas para entender melhor sua esposa, bem na época do hanami, o festival das cerejeiras, cuja floração da sakura acontece uma vez por ano, por apenas uma semana. O hanami simboliza a beleza, mudanças e o recomeço. E através da arte do butô, que leva a um alvoroço interior em busca do seu verdadeiro eu, Rudi vai aprender sua própria dança do butô, que vem através de cada vivência individual.
Este lindo filme toca o nosso coração e alma de forma profunda, e a fotografia de Hanno Lentz nos enleva a paisagens belíssimas do Japão, o hanami que é de um simbolismo que vai além do horizonte, e perdura no nosso olhar e imaginação.
Este filme tem a peculiaridade de anexar grandes ensinamentos para as pessoas. A importância da cumplicidade do casal e que harmonia não significa renúncia, do saber envelhecer com sabedoria, o significado do amor materno e fraterno e o peso da solidão.
De sonhos perdidos e anulados para satisfazer o outro, de fragilidade humana, falta de amor e piedade de filhos por seus genitores, de viver o presente em toda a sua extensão.
Ganhador do prêmio de Melhor Filme no Festival Seattle/2008 e Indicação de Melhor Ator no European Film Alwards/2008.
Como curiosidade, este filme foi gravado em dois meses para conseguir pegar o hanami, já que a floração das cerejeiras só ocorre uma semana no ano.
E o grande dançarino Tadashi Endo, expert na arte profunda do Butô, foi o responsável pela coreografia dos atores Elmar Weeper e Hannelore Elsner, que no filme dançam e encenam o butô de forma bela e pessoal.
Um filme belo e triste, com grandes ensinamentos para nossas vidas, com belíssimas fotografias deste grande espetáculo que a natureza nos presenteia, o Hanami, Cerejeiras em Flor.
Um presente deste blog pelo Dia da Primavera!!!


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

ACONTECEU EM SAINT TROPEZ




A comédia romântica Aconteceu em Saint Tropez  (França) é uma ótima opção para quem deseja apenas se distrair no cinema, dar boas risadas e ao final do filme, um sorriso estampado no rosto. Nada de filme para guardar na memória, mas que faz um bem danado no momento que assiste.
Do título original  Des Gens qui S’embrassent (de pessoas que se abraçam), a diretora Daniele Thompson consegue extrair um humor irônico e as vezes até funesto, de forma leve e que se encaixa de forma correta no enredo deste filme.
Conta a história de dois irmãos com personalidades totalmente diferentes. Zef (Eric Elmosnino) é musicista, judeu conservador, vive lendo e seguindo à risca o Talmude, o livro sagrado judaico. Já seu irmão Ronie (Kad Merad) é um milionário egoísta, que só pensa em ostentação e encher a esposa italiana (Monica Bellucci) de presentes caros.
Em comum eles têm suas filhas Noga e Melita (interpretado por Lou de Laâge e Clara Ponsot), que também têm personalidades e valores de vida diferentes, mas se adoram como primas que se consideram irmãs.
O pai (Ivry Gitlis) de Zef e Ronie mora com o filho milionário, tem Mal de Alzheimer e cria várias confusões  hilariantes, mas ao mesmo tempo, adora unir os filhos.
Toda a confusão começa quando a esposa de Zef  morre e o enterro, seguindo os rituais do Talmude, será no mesmo dia do casamento de Melita, filha de Ronie.
Quando Noga viaja de trem para o enterro da mãe em Paris, conhece e se apaixona por um rapaz, que é justamente o noivo de sua prima Melita.
O filme se passa em cidades metrópoles, Nova York e Paris e por último em Saint  Tropez.
Com muitos encontros e desencontros, o filme cativa pela simplicidade das piadas, pela ironia entre os irmãos Zef e Ronie, pela beleza e carinho mútuo das jovens Noga e Melita, sem desejar deixar mensagens, simplesmente pelo interesse de divertir por si só, mas sempre mostrando que famíliapo de ser confuso, mas é família. A cena do pai com os dois filhos, sempre com o cabelo desalinhado, é muito divertida mas tem um misto de carinho no ar. Um humor agradável, sem exageros, pieguices ou extravagâncias.
Os atores têm uma boa performance, estão bem sintonizados, a atriz Monica Bellucci interpreta uma italiana voluptuosa, fútil e até meia caricata.
A música é outro ponto forte do filme, trechos de músicas clássicas são bem direcionadas, já que Zef e Noga são musicistas.E músicas de Frank Sinatra são tocadas e até cantadas pelo irmão Ronie no casamento da filha, uma delícia de escutar.
Filme agradável, divertido, sem apelação, onde abraços e beijos são trocados como o próprio título sugere, de forma refrescante, com um humor irônico e estiloso.
Típico para quem deseja passar uma tarde agradável e divertida!






quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A COLEÇÃO INVISÍVEL




O filme A Coleção Invisível tem a direção do francês radicado na Bahia Bernard Attal, e é baseado em um conto escrito por Stefan Zweing que se passava na Alemanha e o diretor encontrou no Sul da Bahia, mais especificamente na região cacaueira, um cenário similar de ruína financeira, com a decadência se contrapondo a uma força existencial, conforme exige o roteiro.
Este é o primeiro longa metragem de Bernard Attal e ganhou o Premio de Melhor Longa Metragem no 4º. Festival de Cinema Itinerante de Língua Portuguesa em Lisboa (Portugal). E foi premiado com os kikitos de Ouro no Festival de Gramado para Walmor Chagas como Melhor Ator Coadjuvante e Clarice Abujamra, como Melhor Atriz Coadjuvante.
Conta a história de Beto (Vladimir Brichta) , um DJ festeiro cuja mãe enfrenta dívidas de uma loja de antiguidade deixadas por seu pai. Após passar pelo sofrimento por uma tragédia com seus amigos, Beto decide ir ao interior da Bahia em busca de uma coleção de gravuras muito valiosas do artista Cícero Dias, que foi adquirida há mais de 30 anos pelo colecionador Samir  (Walmor Chagas), um fazendeiro de cacau decadente.
Beto viaja para Itajuipe, cidade interiorana baiana, que juntamente com outras cidades do Sul da Bahia, viveu momentos áureos de grande prosperidade graças a economia do cacau, como é muito bem mostrado nos livros de Jorge Amado, os tempos áureos da lavoura cacaueira, com seus coronéis fazendeiros à frente de grandes fazendas de cacau, a maior força da economia da Bahia.  Mas a visão dessa região nos dias de hoje é justamente o oposto, uma decadência e ruína total  em relação às fazendas de cacau  e às famílias que lutam às duras penas para manter um patrimônio praticamente sem retorno financeiro.
Beto encontra resistência em conhecer o fazendeiro Samir, que é cego e tem o seu sonho mantido nas coleções de gravuras que colecionou por tantos anos. Sua esposa D. Clara (Clarice Abujamra) e sua filha Saada (Ludmila Rosa) dificultam a empreitada a que Beto se propõe, preocupadas em manter a integridade de Samir.
O filme explora a pobreza dessas regiões, as dificuldades de trabalho das pessoas, já que o seu produto maior, o cacau, praticamente se acabou com a epidemia da vassoura de bruxa. Tendo a Bahia como a vitrine principal do filme, mostra uma parte deste Estado deplorável e sofrida, que passou pela transformação da opulência à decadência. Principalmente para os baianos que conhecem de perto esta triste história da nossa economia, chega a emocionar e comover, sentir o cheiro da terra cacaueira desgastada, com seu pés de cacau infrutíferos  em derrocada total. ¨São anos de vida e de sonhos jogados fora¨, disse-me com lágrimas nos olhos no final do filme,  uma pessoa que passou por este infortúnio e que repercute na familia até hoje.
O ator baiano Vladimir Brichta tem a chance neste filme de mostrar seu lado dramático de forma sutil, contido e convincente. O desempenho das atrizes Clarice Abujamra e Ludmila Rosa só faz acrescentar, com uma química e ótimos diálogos com o protagonista. O ator Carlos Cézar Pereio faz um pequeno papel no filme, mas que pontua muito bem com sua personalidade excêntrica. E Walmor Chagas nos deixa como seu último legado de vida, esta excelente performance como o aristocrata rural decadente Samir, com um paixão e vivacidade ímpar. E por ironia do destino, Walmor estava com sérias dificuldades visuais ao interpretar justamente um personagem cego. É a vida imitando a arte, de forma cruel.
O filme mostra o crescimento emocional de um jovem que ao ir à procura de algo que poderia mudar o rumo de sua vida, no final da viagem encontra algo maior que o moverá ao amadurecimento emocional e existencial. Um fim de estrada e o início de uma viagem interior.
¨ Uma lição que o  cacau me ensinou: a segunda safra pode ser menor, mas com certeza o fruto será mais gostoso e apetitoso¨. Diz Saada para Beto, um bom ensinamento para a vida dos jovens! Mas em relação ao produto real, o cacau, e a todos os produtores que durante muitos anos lutaram e investiram nos seus sonhos, a triste realidade é que infelizmente a segunda safra praticamente já não existe.




segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A SORTE EM SUAS MÃOS




O filme argentino A Sorte em Suas Mãos, do renomado diretor Daniel Burman, nos fornece uma crônica do protagonista Uriel, um homem divorciado, pai de dois filhos com quem tem um bom relacionamento, mas que tem uma vida atual cheia de namoros frugais, sem comprometimento, e por isto decidiu fazer uma vasectomia.
Uriel (Jorge Drexler) só deseja curtir a vida, trocando de parceira a cada noitada e fazendo o que mais gosta na vida, que é o vício do poker. É como se ele quisesse fazer da sua vida um verdadeiro jogo de cartas, e os blefes e as mentiras fazem parte do seu cotidiano.
Até o dia em que Uriel reencontra uma ex namorada Gloria (Valéria Bertuccelli), cujo romance ficou mal definido no passado, pois ela terminou com ele sem uma razão plausível, mas na realidade, ela não sentia que ele quisesse algum compromisso, só a queria para sexo. Então eles reiniciam um romance, e pelo fato do jogo e das mentiras fazerem parte da vida de Uriel, este vai se enrolando e se complicando cada vez mais com a ex namorada, que já não confiava nele.
Glória por sua vez tem um relacionamento confuso com sua mãe (Norma Aleandro) que precisa ser resgatado.
Um filme simples e leve, com uma boa trilha sonora, que mostra o cotidiano sem muitos subterfúgios, mas que em vários momentos se arrasta e não consegue chegar a um lugar comum. O ator Jorge Drexler como protagonista passa pouca expressividade e isto compromete o desenrolar da trama.
Com um roteiro original, filme regular, com mensagem de quanto a firmeza de caráter, a integridade, a verdade e a honestidade influenciam na vida das pessoas e levam a seu bem estar pessoal. Pena que ao final, saímos com a sensação que tudo poderia ser bem melhor aproveitado.
O cineasta  Daniel Burman tem um currículo com bons filmes como Dois Irmãos, Ninho Vazio, Tese sobre um Homicídio, O Abraço Partido, dentre outros.

 


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

OS SABORES DO PALÁCIO




Inspirado na história real de Danièle Mazet-Delpeuch, cozinheira chef do presidente François Miterrand, esta comédia dramática francesa Os Sabores do Palácio, tem na direção de ChristianVincent, o roteiro certo para uma agradável viagem pela comida originária da rica cultura francesa. E para tal façanha a produção contou com a ajuda de famosos chefs da França.
A história da protagonista Hortensie Laborie (interpretado de forma genial pela grande atriz francesa Catherine Frot), experiente chef de cozinha que curte trabalhar com produtos artesanais e de qualidade, que foi convidada pelo Presidente da França ( Jean d’Ormesson) para trabalhar no Palácio de Eliseu, como sua chef oficial particular.
Hortensie, única mulher em um ambiente cheio de regras e protocolos, altamente machista, enfrenta hostilidade e inveja por parte dos cozinheiros e do chef do Palácio. Entretanto, Hortesie conquista a atenção e o paladar do Presidente, inclusive por pretensão de métodos pouco ortodoxos da cozinha, utilizando produtos de qualidade de forma simples, caseira, mas muito bem elaborados, e com combinações de alimentos desenvolvido de forma artesanal na própria cozinha do Palácio.
Por dois anos consecutivos Hortensie Laborie consegue manter a sua culinária criativa com o aval do Presidente, com quem inclusive mantém diálogos sobre o prazer da degustação e a forma de aproveitamento mais apropriado da comida caseira, pois este tema  é fruto de  fortes recordações de infância do Presidente.
A atriz Catherine Frot  transita neste universo da culinária com maestria no papel da protagonista,  quebrando protocolos e regras do Palácio de Eliseu, mostrando suas qualidades como chef particular do Presidente. Uma delícia para os olhos, a maneira como os pratos são mostrados na tela, os detalhes das receitas explicadas por Hortensie de forma pausada e tranquila, um desfile de pratos com trufas, foi gras, sobremesas de dar água na boca, nos deixando com vontade de após o cinema, fazer uma bonita refeição regado a um bom vinho, divinamente delicioso.
Para tal conteúdo, Hortensie tem uma cozinha particular no andar inferior do Palácio, e junto com um assistente, o confeiteiro Nicolas Bauvois ( interpretado por Arthur Dupont, de Além do arco-Íris), ela monta pratos como verdadeiras obras de arte, para o próprio Presidente e jantares importantes, como o jantar anual com a família. Com um humor contido e sutil, é interessante sentir um profissional que faz o trabalho mas na hora da apresentação não aparece, fica sempre à espreita para saber a opinião sobre o resultado do seu trabalho, se foi bem recebido, este é o seu maior objetivo e orgulho.
O filme é mostrado em dois ambientes, numa base na Antártida onde a protagonista foi trabalhar após os dois anos no Palácio que se tornou inviável pelas dificuldades encontradas em manter o padrão da sua culinária, para fazer uma reflexão sobre sua vida e o que realmente desejava vivenciar e se sentir feliz, como também para se livrar da Imprensa que passou a persegui-la, ávida por entrevistas.
Um filme sem grandes pretensões, onde os atores desempenham seus papeis de forma versátil, em especial a atriz Catherine Frot, com uma performance perfeita como a chef particular do Presidente francês. Esta atriz ganhou indicação do Troféu César de Melhor Atriz 2013.
Com a criatividade da culinária aliada a um bom roteiro, onde a emoção do olhar chega até o paladar, este filme fascina por nos levar de forma direta e simples a um ambiente grandioso, em contraponto a importância da essência das pessoas e como elas se sentem em seus postos de trabalho, e que grandes recordações familiares podem ser descobertas através do paladar.
Um filme para degustar com muito prazer em todos os sentidos!!!

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O SEGREDO DOS SEUS OLHOS





Ao assistir o filme postado anteriormente neste blog , Tese sobre um Homicídio com o excelente ator Ricardo Darín, resolvi postar O Segredo dos Seus Olhos, o tipo de filme que ficará vivo dentro de nós para sempre, um filme imperdível, genial e apaixonante.
O diretor Juan José Campanella conseguiu realizar uma película primorosa, na qual faltam palavras para descrever o sentimento que nos persegue quando o filme termina, uma emoção indescritível, vontade de rir e chorar ao mesmo tempo. Por todos esses méritos foi o ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro 2010.
Esta produção hispanica-argentina baseada no livro La Pregunta de Sus Ojos de Eduardo Sacheri, traz no enredo a história do servidor da Justiça recém aposentado, Benjamin Expósito (interpretado por Ricardo Darín), que resolve escrever um livro e se baseia em um crime ocorrido há 25 anos atrás, o estupro e assassinato de uma jovem, que ele participou da investigação, e ficou mal resolvido. 
Para isso Benjamin terá que reviver momentos difíceis de sua vida e rever pessoas marcantes na sua vida pessoal e profissional, como sua ex-chefe Irene Hastings ( Soledad Villamil ), por quem ele sempre nutriu uma paixão secreta e que nunca teve coragem de assumir, por se sentir inferior no seu trabalho. E também seu amigo Pablo Sandoval (Guillermo Francella), que muito o ajudará na investigação.
O filme consegue fazer uma conexão do presente aos fatos passados, suas consequências e conclusões de forma perfeita, que ao mesmo tempo prende nossa atenção e nos instiga a descobrir o final da trama, como também nos enleva à paixão que os personagens sentem, mas só os olhos falam, de uma forma inquietante e apaixonante.
A fotografia de Felix Monte é perfeita, tem cenas memoráveis como a perseguição no estádio de futebol, difícil será não se empolgar e acompanhar a câmera que vai dos bastidores até a arquibancada, estupenda mesmo.
Outra cena comovente é a do elevador, de dar lágrimas nos olhos, e este olhar perdura revelando o que os olhos querem dizer, sem precisar de palavras.
O elenco em grande parte é responsável pela grandiosidade e beleza do filme, Ricardo Darín como o protagonista Benjamín e Soledad Villamil como Irene, dão um show à parte de interpretação e conseguem passar uma mensagem de paixão e emoção só com os olhos, sem sequer ser necessário uma fala.
Um filme que mistura drama e suspense, com excelente trama que consegue envolver a plateia até o final, que é surpreendente. Com excelente roteiro, atores super bem entrosados, fotografia ímpar, vale a pena assistir várias vezes.
Enfim, um filme sensível, belo e eletrizante, que fala sobre obsessão, paixão e lealdade.


segunda-feira, 2 de setembro de 2013

CAMILLE CLAUDEL, 1915



Camille Claudel, 1915 um drama francês com a direção de Bruno Dumont, que decide narrar uma parte da vida desta escultora francesa do século XX, baseado nas cartas de Camille Claudel (Juliette Binoche) para seu irmão, o grande escritor Paul Claudel  (Jean-Luc Vincent) e os registro médicos da escultora, no período em que ficou internada no Sanatório Psiquiátrico Montdevergues, em Villeneuve-lès-Avignon, na França.
O cineasta Dumont prefere se ater ao período de 1915, quando Camille Claudel foi internada à força por sua família ( especificamente seu irmão Paul e sua mãe), após o rompimento amoroso com seu tutor e amante Auguste Rodin por muitos anos, e a morte de seu pai, em 1913. Neste período Camille já apresentava sinais de esquizofrenia e mania de perseguição, inclusive ela própria preparava sua comida por achar que a queriam envenenar.
Fica claro o interesse do cineasta de trabalhar com o lado íntimo de Camille, a sua tristeza e amargor por ter sido trancafiada em um lugar tão inóspito junto a doentes mentais, onde os dias se tornam longos, sem ter com quem conversar, sem poder usar o seu talento, a sua criatividade na arte da escultura, o que a destrói por dentro. Camille se sente como uma criminosa que foi presa sem direito a advogado, como ela própria afirma para o médico diretor do manicômio (Robert Leroy). Ela se sente em condições de viver em sociedade e aguarda ansiosamente a visita do irmão, a fim de acabar com o seu martírio.
Este é um belíssimo drama lento pela própria condição do tema, onde a atriz Juliette Binoche nos confronta o tempo inteiro com sua magnífica arte de atuar, a situação em que a família de Camille à força a colocou, sobre suas angústias e tristeza permanente, sua dificuldade em conviver trancafiada em um hospício com doentes mentais, um verdadeiro inferno em vida.
Camille tenta se agarrar à religião para suportar a solidão daquele lugar tão árido, cercado por montanhas, e na esperança de seu irmão pôr fim a sua angústia interior. O seu irmão Paul através de um discurso austero e conservador, onde tudo é permitido como penitência através dos dogmas da Fé Cristã, usa o direito de usufruir do futuro de sua irmã, mesmo com a avaliação do diretor do sanatório, diante da sensatez de levar Camille para a convivência com a família.
Dumont consegue realizar um belo, triste e comovente retrato de uma Camille na meia idade derrotada pela família, pela sociedade, negada ao amor e a sua arte. Juliette Binoche se despe da vaidade, e mostra uma pessoa com um belo rosto vincado pelo sofrimento, sem maquiagem, marcada pela incerteza do seu futuro.
Com poucos diálogos mas com momentos tão expressivos, que nos inquieta pela força e beleza das imagens. Quando Camille com toda a sua fragilidade e tristeza vai ao pátio do sanatório e a câmera se fixa em uma árvore toda desfolhada pelo inverno, segurando esta imagem o tempo suficiente para nos fazer entender o interior da infeliz Camille.
Em outra sequência vemos a força do olhar na face de Camille, ao vislumbrar a luz do sol a penetrar na sala vazia e úmida, uma esperança na visita do seu irmão, e ao olhar para o chão, ela percebe a sua prisão através da sombra das grades da janela pelo raio de sol. Lindamente triste e que nos leva a uma inquietação, a imaginar a vida desta grande escultora neste filme austero, lento e sufocante, que de forma opressiva e verdadeira nos coloca diante da loucura, da tristeza, da angústia, dos dogmas da Fé religiosa.
Muito enriquecedor a biografia da escultora Camille Claudel  e de Paul Claudel, vale a pena conferir os links.
Diferente do primeiro filme sobre a biografia de Camille Claudel (1988) com Isabelle Adjani, Camille Claudel, 1915 tem como objetivo principal mostrar o período em que esta mulher foi podada de  tudo a que tinha direito na vida,  inclusive de sua arte.
Tristemente estupendo e hipnotizante!!