O filme A Coleção Invisível tem
a direção do francês radicado na Bahia Bernard Attal, e é baseado em um conto
escrito por Stefan Zweing que se passava na Alemanha e o diretor encontrou no
Sul da Bahia, mais especificamente na região cacaueira, um cenário similar
de ruína financeira, com a decadência se contrapondo a uma força existencial, conforme exige o roteiro.
Este é o primeiro longa metragem
de Bernard Attal e ganhou o Premio de Melhor Longa Metragem no 4º. Festival de
Cinema Itinerante de Língua Portuguesa em Lisboa (Portugal). E foi premiado com
os kikitos de Ouro no Festival de Gramado para Walmor Chagas como Melhor Ator
Coadjuvante e Clarice Abujamra, como Melhor Atriz Coadjuvante.
Conta a história de Beto
(Vladimir Brichta) , um DJ festeiro cuja mãe enfrenta dívidas de uma loja de
antiguidade deixadas por seu pai. Após passar pelo sofrimento por uma tragédia
com seus amigos, Beto decide ir ao interior da Bahia em busca de uma coleção de
gravuras muito valiosas do artista Cícero Dias, que foi adquirida há mais de 30
anos pelo colecionador Samir (Walmor
Chagas), um fazendeiro de cacau decadente.
Beto viaja para Itajuipe, cidade
interiorana baiana, que juntamente com outras cidades do Sul da Bahia, viveu
momentos áureos de grande prosperidade graças a economia do cacau, como é muito
bem mostrado nos livros de Jorge Amado, os tempos áureos da lavoura cacaueira,
com seus coronéis fazendeiros à frente de grandes fazendas de cacau, a maior força da economia da Bahia. Mas a visão dessa região nos
dias de hoje é justamente o oposto, uma decadência e ruína total em relação às
fazendas de cacau e às famílias que lutam às duras penas para manter um
patrimônio praticamente sem retorno financeiro.
Beto encontra resistência em
conhecer o fazendeiro Samir, que é cego e tem o seu sonho mantido nas coleções
de gravuras que colecionou por tantos anos. Sua esposa D. Clara (Clarice
Abujamra) e sua filha Saada (Ludmila Rosa) dificultam a empreitada a que Beto
se propõe, preocupadas em manter a integridade de Samir.
O filme explora a pobreza dessas
regiões, as dificuldades de trabalho das pessoas, já que o seu produto maior, o
cacau, praticamente se acabou com a epidemia da vassoura de bruxa. Tendo a
Bahia como a vitrine principal do filme, mostra uma parte deste Estado deplorável e
sofrida, que passou pela transformação da opulência à decadência. Principalmente
para os baianos que conhecem de perto esta triste história da nossa economia,
chega a emocionar e comover, sentir o cheiro da terra cacaueira desgastada, com seu pés de cacau infrutíferos em derrocada total. ¨São anos de vida e de sonhos jogados fora¨, disse-me com lágrimas nos olhos no final do filme, uma pessoa que passou por este infortúnio e que repercute na familia até hoje.
O ator baiano Vladimir Brichta tem a
chance neste filme de mostrar seu lado dramático de forma sutil, contido e
convincente. O desempenho das atrizes Clarice Abujamra e Ludmila Rosa só faz
acrescentar, com uma química e ótimos diálogos com o protagonista. O ator Carlos Cézar Pereio faz um pequeno papel no filme, mas que pontua muito bem com sua personalidade excêntrica. E Walmor Chagas
nos deixa como seu último legado de vida, esta excelente performance como o
aristocrata rural decadente Samir, com um paixão e vivacidade ímpar. E por
ironia do destino, Walmor estava com sérias dificuldades visuais ao interpretar
justamente um personagem cego. É a vida imitando a arte, de forma cruel.
O filme mostra o crescimento
emocional de um jovem que ao ir à procura de algo que poderia mudar o rumo de sua
vida, no final da viagem encontra algo maior que o moverá ao amadurecimento emocional
e existencial. Um fim de estrada e o início de uma viagem interior.
¨ Uma lição que o cacau me ensinou: a segunda safra pode ser
menor, mas com certeza o fruto será mais gostoso e apetitoso¨. Diz Saada para Beto, um bom ensinamento para a vida dos jovens! Mas em relação ao produto
real, o cacau, e a todos os produtores que durante muitos anos lutaram e investiram nos seus sonhos, a triste realidade é que infelizmente a segunda safra praticamente já não existe.
Com riqueza de detalhes e emoção, contidas em suas descrição e análise, dá para sentir o cheiro do cacau, sofrer com o fim de um sonho e ter vontade de assistir o filme. Vou lá, mas volto.
ResponderExcluirAssista mesmo, Nicia, tenho certeza que voce irá gostar. Pena que só as comédias nacionais é que estáo sendo assistidas e prestigiadas. Márcia.
ResponderExcluirbelo, sensivel, real... gostei muito do filme, de ver nossa cidade, pessoas proximas, e do ver retratado um tema relacionado com a nossa identidade baiana cacaueira.
ResponderExcluirValeu seu comentário, Andréa. Importante não só para os baianos, mas os brasileiros em geral, sentir, nem que seja através de imagens,o peso que e o poder da devastação da lavoura cacaueira para a economia da Bahia.
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