Camille Claudel, 1915 um drama
francês com a direção de Bruno Dumont, que decide narrar uma parte da vida
desta escultora francesa do século XX, baseado nas cartas de Camille
Claudel (Juliette Binoche) para seu irmão, o grande escritor Paul Claudel
(Jean-Luc Vincent) e os registro médicos da escultora, no período em que ficou
internada no Sanatório Psiquiátrico Montdevergues, em Villeneuve-lès-Avignon,
na França.
O cineasta Dumont prefere se ater
ao período de 1915, quando Camille Claudel foi internada à força por sua
família ( especificamente seu irmão Paul e sua mãe), após o rompimento amoroso
com seu tutor e amante Auguste Rodin por muitos anos, e a morte de seu pai, em
1913. Neste período Camille já apresentava sinais de esquizofrenia e mania de
perseguição, inclusive ela própria preparava sua comida por achar que a queriam
envenenar.
Fica claro o interesse do
cineasta de trabalhar com o lado íntimo de Camille, a sua tristeza e amargor
por ter sido trancafiada em um lugar tão inóspito junto a doentes mentais, onde
os dias se tornam longos, sem ter com quem conversar, sem poder usar o seu
talento, a sua criatividade na arte da escultura, o que a destrói por dentro.
Camille se sente como uma criminosa que foi presa sem direito a advogado, como
ela própria afirma para o médico diretor do manicômio (Robert Leroy). Ela se
sente em condições de viver em sociedade e aguarda ansiosamente a visita do
irmão, a fim de acabar com o seu martírio.
Este é um belíssimo drama lento
pela própria condição do tema, onde a atriz Juliette Binoche nos confronta o
tempo inteiro com sua magnífica arte de atuar, a situação em que a família
de Camille à força a colocou, sobre suas angústias e tristeza permanente, sua dificuldade
em conviver trancafiada em um hospício com doentes mentais, um verdadeiro
inferno em vida.
Camille tenta se agarrar à
religião para suportar a solidão daquele lugar tão árido, cercado por montanhas,
e na esperança de seu irmão pôr fim a sua angústia interior. O seu irmão Paul
através de um discurso austero e conservador, onde tudo é permitido como
penitência através dos dogmas da Fé Cristã, usa o direito de usufruir do
futuro de sua irmã, mesmo com a avaliação do diretor do sanatório, diante da sensatez
de levar Camille para a convivência com a família.
Dumont consegue realizar um belo,
triste e comovente retrato de uma Camille na meia idade derrotada pela família,
pela sociedade, negada ao amor e a sua arte. Juliette Binoche se despe da
vaidade, e mostra uma pessoa com um belo rosto vincado pelo sofrimento, sem
maquiagem, marcada pela incerteza do seu futuro.
Com poucos diálogos mas com
momentos tão expressivos, que nos inquieta pela força e beleza das imagens.
Quando Camille com toda a sua fragilidade e tristeza vai ao pátio do sanatório e
a câmera se fixa em uma árvore toda desfolhada pelo inverno, segurando esta
imagem o tempo suficiente para nos fazer entender o interior da infeliz
Camille.
Em outra sequência vemos a força
do olhar na face de Camille, ao vislumbrar a luz do sol a penetrar na sala vazia
e úmida, uma esperança na visita do seu irmão, e ao olhar para o chão, ela
percebe a sua prisão através da sombra das grades da janela pelo raio de sol.
Lindamente triste e que nos leva a uma inquietação, a imaginar a vida desta
grande escultora neste filme austero, lento e sufocante, que de forma opressiva
e verdadeira nos coloca diante da loucura, da tristeza, da angústia, dos dogmas da
Fé religiosa.
Muito enriquecedor a biografia da escultora Camille Claudel e de Paul Claudel, vale a pena conferir os links.
Muito enriquecedor a biografia da escultora Camille Claudel e de Paul Claudel, vale a pena conferir os links.
Diferente do primeiro filme sobre
a biografia de Camille Claudel (1988) com Isabelle Adjani, Camille Claudel, 1915
tem como objetivo principal mostrar o período em que esta mulher foi podada de
tudo a que tinha direito na vida, inclusive de sua arte.
Tristemente estupendo e
hipnotizante!!
Juliette Binoche dá um banho na pele de Camille!
ResponderExcluirUm ano, apenas um ano passado onde o mundo tem fim é o bastante para que possamos imaginar o sofrimento dessa artista maravilhosa, tão bem delineada no "Camille Claudel" de 1988. Ainda com a tristeza de "1915", peguei na minha estante o primeiro filme e revi. Precisava fazer as conexões entre os tempos e esclarecer algumas dúvidas sobre fatos já perdidos na memória.
A vida de Camille é, sem dúvida, uma das piores condenações de que tenho conhecimento e que sempre me causou indignação. Mesmo com a doença controlada foi abandonada longe de Paris e de qualquer possibilidade de vínculos afetivos.
Sua interpretação de Camille Claudel está exata. E Julieta Binoche consegue penetrar na alma desta artista, incrivel.Pesado, denso mas vale a pena assistir.E imaginar o que pessoas são capazes de fazer, de bom ou ruim, para outros.
ResponderExcluir